Brasília, 04 de abril de 2024.
Em 2022, o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) publicou um relatório ressaltando a importância de reconhecer a areia como um recurso estratégico. Segundo o documento, a areia ocupa a posição de segundo recurso mais explorado do mundo, logo após a água, com uma demanda anual que ultrapassa 50 bilhões de toneladas. Os especialistas defendem que a extração e o uso devem ser repensados.
A doutoranda em Engenharia Civil na Escola Politécnica (Poli) da Universidade de São Paulo (USP), Lidiane Santana Oliveira, destaca a onipresença da areia no cotidiano. "Além de ser fundamental na construção civil, uma das mais dependentes desse recurso, encontramos areia em uma variedade de produtos, desde pastas de dente até microchips. Portanto, é um recurso estratégico, porém muitas vezes sua importância não é reconhecida da mesma forma que a água." Ela explica que de modo geral, a areia é um recurso abundante e amplamente disponível em quase todas as regiões do mundo. No entanto, nem sempre se encontra areia com as propriedades específicas necessárias para determinadas aplicações.
A extração de areia está ocorrendo em uma velocidade que excede sua capacidade de reposição, resultando em áreas que já estão sofrendo os impactos desse esgotamento, como em Dubai, nos Emirados Árabes. Nessa região, os recursos de areia adequados para a produção de concreto foram esgotados devido à construção das famosas ilhas gigantes em formatos de mapa-múndi e palmeiras. Lidiane Santana Oliveira explica que atualmente o concreto utilizado na construção é importado da Austrália, mesmo estando próximo a uma região desértica. “Isso ocorre devido às características dos grãos de areia do deserto, que não são adequados para a produção de concreto.”
No Brasil, aproximadamente 75% da areia consumida é extraída de forma irregular, um cenário que se repete em escala global. Lidiane analisa: “Estima-se que apenas 40% da areia extraída e consumida no mundo provém de fontes regulares. E a intensidade da extração tem causado impactos significativos, como no desaparecimento de cerca de 25 ilhas na Indonésia. Se a extração regular já provoca danos ao meio ambiente, imagine a extração irregular, que não se preocupa com a preservação da flora e fauna?", questiona.
Alternativas
Segundo o relatório do Pnuma, existem soluções para se avançar rumo a uma economia circular da areia. A proibição do aterro de resíduos minerais e o incentivo à reutilização da areia em licitações públicas estão entre as medidas políticas citadas.
Lidiane explica que alguns materiais podem ser reciclados e então utilizados como substitutos de areia. É o caso, por exemplo, do Resíduo de Construção e Demolição (RCD). Estudos indicam que, após algumas etapas de processamento, o RCD pode resultar em um material com qualidade similar à de uma areia ou brita natural.
Outra possibilidade é o pó de brita, gerado no processamento da rocha para extração de brita. Segundo a pesquisadora, o pó tem algumas características diferentes da areia, mas pode ser utilizado em certas composições de concreto e argamassa.
Há ainda a alternativa dos rejeitos da mineração, como o rejeito do minério de ferro. Lidiane participa de um dos estudos que mostram que esses rejeitos podem ser utilizados como substituto da areia. “A questão é a disponibilidade local”, pondera. “Determinados tipos de rejeito estão localizados principalmente em Minas Gerais, então tem um desafio logístico a se vencer para poder ampliar o mercado”, acrescenta.
Mesmo com essas alternativas viáveis e promissoras, a pesquisadora destaca a importância da fiscalização e do consumo consciente. “A solução é usar o recurso de uma forma mais consciente, melhorar a eficiência do processo produtivo e com isso diminuir a produção de resíduo. E valorizar estudos que possam ajudar na melhoria do sistema construtivo”.
Fernanda Pimentel
Equipe de Comunicação do Confea, com informação do Jornal da USP e Pnuma Brasil
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