“Valorização da Engenharia no Brasil” é tema de painel da CBIC

 

Participantes do painel "Valorização da Engenharia no Brasil"
Participantes do painel "Valorização da Engenharia no Brasil" que marcou a passagem do Dia do Engenheiro e o encerramento do Encontro Nacional da Indústria da Construção - Enic

Brasília, 11 de dezembro de 2020.

A Câmara Brasileira da Indústria da Construção - CBIC promoveu, na tarde desta quinta-feira (10), dentro do projeto Quintas na CBIC e marcando o Dia do Engenheiro (11) e o encerramento do 92º Encontro Nacional da Indústria da Construção - Enic, um painel com o tema “Valorização da Engenharia no Brasil”. A realização do evento coincidiu com a aprovação da nova Lei de Licitações, um dos temas abordados. O presidente Joel Krüger participou do painel, mediado pelo presidente da Câmara, eng. civ. José Carlos Martins. Esse ano, o Enic teve como tema “O Futuro em Construção”.

A iniciativa reuniu ainda o presidente da Comissão de Obras Industriais e Corporativas COIC/CBIC, eng. civ. Ilso José de Oliveira; o presidente da Comissão de Infraestrutura Coinfra/CBIC, eng. civ. Carlos Eduardo Lima Jorge; o professor e consultor da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais - FIEMG, eng. civ. Aécio Lira; a presidente da Sociedade Mineira de Engenheiros, eng. civ. Virgínia Campos de Oliveira, e o presidente do Instituto de Engenharia, eng. civ. Eduardo Lafraia.

Presidente da CBIC, eng. civ. José Carlos Martins mediou o painel: valorização
Presidente da CBIC, eng. civ. José Carlos Martins mediou o painel: valorização

Ao receber os participantes, o anfitrião do evento abordou a importância da valorização da Engenharia, referindo-se a ela como “essa profissão que todos nós encaramos e tanto amamos”. José Carlos Martins declarou seu orgulho de ser formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), seu prazer em construir e considerou que “a engenharia, de alguma forma, vem sendo misturada com coisas que nada têm a ver com a Engenharia. Nós pagamos um preço que não tem nada a ver conosco. Mas esse respeito está voltando, como ficou demonstrado nessa pandemia”, disse, lembrando ainda a homenagem feita pela CBIC e pelo Sesc, dentro da campanha de valorização da atividade, ao engenheiro civil Joaquim Cardozo, responsável pelas grandes obras da construção de Brasília.

Valorização da Engenharia no Sistema
Em sua intervenção, o presidente Joel Krüger lembrou o projeto Engenheiros Notáveis, em que o Confea, reverenciou, em 2018, nomes como o de Joaquim Cardozo. “Fico muito feliz de estarmos discutindo a valorização, a importância estratégica da Engenharia. Sou professor universitário há 35 anos. Nesse momento, a PUC está homenageando os professores com tempo de casa. E essa questão da formação é algo que nos preocupa muito. Estamos com um projeto com a CNI, o MEC, o Conselho Nacional de Educação e a Associação Brasileira de Educação em Engenharia - Abenge para discutirmos a implantação das novas diretrizes que estão aprovadas, com um conceito novo, disruptivo, saindo do modelo conteudista para o conceito de competências. Estamos procurando melhorar a qualidade dos cursos de engenharia”, comentou.

Engenheiro da construção de Brasília, Joaquim Cardozo foi homenageado pelo encontro
Engenheiro da construção de Brasília, Joaquim Cardozo foi homenageado pelo encontro

Joel Krüger acrescentou que, segundo os indicadores do ministério da Educação, cerca de dois milhões de alunos concluem o segundo grau todos os anos. “Apenas 7% desses, 140 mil são proficientes em Matemática. Agora, se todos esses fossem para a Engenharia, teríamos, teoricamente, 140 mil novos possíveis engenheiros, mas, logicamente, esse número é bem menor. Mas temos hoje 1,4 milhão de vagas de Engenharia. Claro que nem todas são preenchidas, a ociosidade é bastante significativa. Mas claro que a base científica e tecnológica é muito importante para chegar ao curso de Engenharia. Temos que estar focados na Engenharia como um todo, e temos procurado avançar”, disse, fazendo referência a posicionamentos manifestados antes pelos painelistas Eduardo Lafraia e Aécio Lira.

Nessa linha de valorização, apontou, o Sistema Confea/Crea tem se preocupado em estar mais próximo do setor empresarial brasileiro. “No passado, ocorreu esse distanciamento. Mas o Conselho Federal e os conselhos regionais representam os profissionais e também as empresas de engenharia. Elas têm o registro compulsório, então é uma obrigação nossa representa-las e representa-las bem. Por isso, temos muita preocupação com a abertura indiscriminada de vagas de empresas estrangeiras. Não por medo de concorrência, mas pela necessidade de igualdade de condições.  A defesa do capital tecnológico das empresas brasileiras é muito importante. A Engenharia brasileira, as empresas brasileiras são de altíssimo nível e precisamos preservá-las.  Nesse sentido, temos dialogado muito com o ministério da Economia e o Congresso. Temos divergência em vários projetos de lei, preservando o nosso capital tecnológico e as nossas empresas”.

Presidente Joel Krüger: papel do Sistema pela valorização da Engenharia
Presidente Joel Krüger: papel do Sistema pela valorização da Engenharia


A manifestação foi apoiada pelo presidente da Comissão de Infraestrutura da CBIC, eng. civ. Carlos Eduardo Lima Jorge. “Joel tem como marca da sua gestão a aproximação com o setor empresarial. A CBIC também entende a construção como um todo. Queremos mostrar para a sociedade o quanto ela está presente no seu dia a dia. Virgínia destacou a inclusão social. A prova é o saneamento, a gente lutava há três anos por isso. E foi quando chegou a pandemia, que a sociedade percebeu o vínculo entre engenharia e saúde, que conseguimos a aprovação do marco do saneamento”, disse, fazendo referência ainda às obras públicas paradas, presentes no projeto Labirinto das obras públicas. “Todo labirinto tem saídas, mas para encontrar essa saída é quase uma corrida de obstáculos”, enfatizou.

Licitações
A aprovação da Lei de Licitações neste dia foi comentada em seguida por Joel Krüger. “Estivemos juntos com a CBIC em audiências públicas, colocando posicionamentos estratégicos, como a contrariedade absoluta com o formato de contratação por pregão, principalmente eletrônico. E recriamos a Frente Parlamentar Mista da Engenharia, da Infraestrutura e do Desenvolvimento Nacional, em 2018 e 2019, com 180 senadores e deputados. Estamos procurando levar os interesses do sistema profissional, levando essa parceria com as entidades, lideradas pela CBIC. Temos conversado bastante, o alinhamento é muito fácil, e o que não está alinhado temos procurado dialogar. Assim, temos procurado valorizar as nossas profissões, as empresas de engenharia para retirar o Sistema profissional da questão mais operacional, necessária, mas não suficiente, para que a gente possa estabelecer junto com o governo e o Congresso as grandes políticas públicas de interesse do país, como é o caso da política habitacional, para que possa gerar os investimentos para todos os lados”, disse, colocando-se à disposição para contribuir pela valorização das profissões.

Presidente do Instituto de Engenharia, Eduardo Lafraia
Presidente do Instituto de Engenharia, Eduardo Lafraia: mudanças de cultura e resistência às contratações por pregão


O tema das licitações havia sido tratado também pelo presidente do Instituto de Engenharia. Fazendo inicialmente referência ao grande desenvolvimento do agronegócio e do Pré-Sal,  e ao papel da engenharia, comentou que “temos profissionais e empresas que fazem a engenharia brasileira ser de primeira linha”.  Eduardo Lafraia aponta que o desenvolvimento do país tem sido uma preocupação do Instituto, ao longo de seus 104 anos. “A engenharia é o motor desse desenvolvimento. Agora, o problema é que não usamos a engenharia da forma correta. Isso que a gente tem que tentar mudar. É uma mudança de cultura”, ressaltou.

Segundo ele, a contratação por menor preço é inadmissível. “O pessoal quer ter o menor preço na hora da licitação, quando deveria ser no fim do empreendimento. Essa economia compromete o empreendimento todo. Nós só vamos conseguir fazer isso quando conseguirmos fazer essa mudança de cultura. Temos que fazer uma autocrítica no setor privado. Temos que pensar no ciclo de vida do empreendimento. Se você vai fazer um projeto, você não está pensando no custo daquele hotel. Tem que pensar que Engenharia você vai levar de forma que tanto o custo de construção como o de manutenção sejam o menor possível. Agora, para isso, precisamos mudar a cultura, não só dos engenheiros, mas dos Tribunais de Contas, dos promotores. Quanto custam essas obras paradas, em deterioração? Essa visão macro é o que temos que trabalhar”. Já no debate, em resposta a um internauta, Lafraia complementou que o prazo de validade das obras deveria estar contemplado no projeto, “mas estamos muito atrasados nas nossas licitações”.

Presidente da Comissão de Infraestrutura da CBIC, eng. civ. Carlos Eduardo Lima Jorge, um dos organizadores do painel
Presidente da Comissão de Infraestrutura da CBIC, eng. civ. Carlos Eduardo Lima Jorge, um dos organizadores do painel: elogios e ressalvas à nova Lei de Licitações

A nova Lei de Licitações também recebeu os primeiros comentários do presidente da comissão de Infraestrutura da CBIC. “A nova Lei de Licitações acabou de ser aprovada, indo para a sanção presidencial. Desengessar decisões técnicas e proteger de ações criminais foram alguns pontos que lutamos. Alguns a gente conseguiu, como a presença da matriz de risco, que infelizmente foi apenas para as obras de maior lume. Ela distribui as responsabilidades previamente para quem pode gerir cada uma das questões passíveis de conflito, de maneira mais eficiente, tanto entre a administração pública, como para a empresa contratada. Avançar nesse sentido de responsabilidade, de deixar mais clara a legislação, diminuindo o caráter subjetivo de algumas regras que estão aí e que deixam a discricionariedade da decisão para o administrador que, via de regra, tem medo de colocar o seu CPF na linha de controle e decidir. Tudo nesse sentido será um grande avanço para a segurança jurídica, para não cair na judicialização, que dificulta a nossa operacionalização. A gente está lutando muito nessa direção”, afirmou o engenheiro Carlos Eduardo Lima Jorge.
 

“O que a gente atesta hoje é que, por um lado, há toda a preocupação das empresas de engenharia em chegar às novas tecnologias, ser mais eficiente. E nas obras públicas, há um grande desincentivo a isso na administração pública e nos órgãos de controle. Falo isso, em relação à aprovação da Resolução do Confea 1116, em 2019, tão importante e que deixou claro para a sociedade o quanto o pregão não cabe para obras e serviços de engenharia. Infelizmente, não foi entendido como lei”, destacou. Carlos Eduardo acrescentou que “há a cultura de que contratar bem é contratar o mais barato. O menor preço é responsável por boa parcela das 14 mil obras públicas paradas no país. Hoje, na mudança da Lei de Licitações, conseguimos reduzir o papel do pregão nas obras e serviços de engenharia, no entanto, o modo aberto das licitações, o primo do pregão, passa a ser a forma de contratar. Vamos ter que enfrentar essa questão que a CBIC se contrapôs”.


O representante da Câmara Brasileira da Indústria da Construção apontou ainda as dificuldades para o reequilíbrio de contratos, diante de aumentos de até 100% em insumos, ocorridos até mesmo durante a pandemia. “A legislação nos diz que aumento extraordinário imprevisível é suficiente para o reequilíbrio de contratos. A gente bate à porta da administração pública parece que está pedindo um favor. Durante a elaboração do projeto executivo, ela percebe que tem um caminho para a inovação tecnológica sem alteração de custos. E os órgãos de controle proíbem, falando que é jogo de planilha, o que, na verdade, é um desincentivo à nossa engenharia. Nos campos de infraestrutura e obras públicas, temos administradores, órgãos de controle e legisladores que entendem que a solução do país é investir em infraestrutura, isso é discurso corrente. No entanto, respeitem a engenharia. Isso é o que a gente espera”.

Educação
O presidente do Instituto de Engenharia também manifestou sua preocupação com a imagem da Engenharia e com as mudanças de base para o setor, que seriam posteriormente comentadas pelo presidente do Confea. “Temos que pensar, como o Joel está trabalhando muito para isso, para que o Sistema seja mais efetivo na cobrança das pessoas que não fazem Engenharia e depois aparecem criticando a Engenharia. A manutenção do bem público também é engenharia. É aí que a gente precisa trabalhar. Isso tudo é mudança de cultura. Se queremos mudar o Brasil, temos que investir em educação, começando pela educação básica. O MEC tem um estudo em que um dos capítulos é sobre o ensino básico. Se não mudarmos o ensino básico, vamos estar sempre remendando. Sou engenheiro, tenho muito orgulho da minha profissão, mas temos que fazer uma campanha em prol da educação no Brasil, e aí vamos ter um outro Brasil”.

Especialista em novas tecnologias, professor Aécio Lira
Especialista em novas tecnologias, o professor Aécio Lira ressaltou a importância do tripé Tecnologia BIM, Internet das Coisas e Inteligência Artificial para definir o futuro da formação em Engenharia

Especialista em novas tecnologias da Engenharia com experiência nos setores de mineração, siderurgia e infraestrutura, o professor e engenheiro civil Aécio Lira apontou a necessidade de valorar as ações da Engenharia e de promover um “salto quântico” na formação da área para que ela saia do mundo 3.0 e entre no mundo 4.0. “É disruptivo. No mundo 3.0, em que ainda está vivo, as escolas de Engenharia entregaram valor às suas ações. Temos uma Engenharia de nível internacional.  Mas na ordem de 20%. Temos 80% que temos que zelar para instruí-los, prepara-los, zelá-los. Discutir diretrizes curriculares tudo bem, mas vamos nos atrasar mais. Hoje, estamos no processo de incentivar a avaliação, a valorização. Não pode ficar só na discussão das diretrizes. O problema é que não entregamos valor aos alunos. Ou governo muda o sistema de avaliação onde o RH da empresa vê a nota, o aluno vê a nota. É um papel importante do Confea, do Instituto de Engenharia. Não podemos ficar deitado em berço esplêndido”.

Reduzir essas lacunas representa investir no que Aécio Lira denominou Triatlo do Mundo Disruptivo. “A indústria só ganha competitividade se houver integração entre tecnologia BIM, internet das coisas e inteligência artificial. Façamos de 2021 essa integração. É a única possibilidade que temos de aumentar produtividade na indústria da construção. Esse cenário não está presente em nenhuma das escolas, de maneira a dar um salto quântico na educação de Engenharia. Temos que acelerar esse processo para o mundo 4.0. Temos a necessidade de recuperar o momento em que a escola nos entregou valores”, disse, em posicionamento saudado por todos os participantes e ao longo de todo o debate.

Direitos
Uma visão da Engenharia como promotora de direitos foi apresentada pela presidente da Sociedade Mineira de Engenheiros. “A boa engenharia é um permanente canal de escuta, recebendo ‘inputs’, indicando necessidades, tendências, como de certa forma estamos fazendo nesse momento. A engenharia prepara o futuro. Ouvindo e realizando anseios sociais ela, inclui, proporciona melhorias que fortalecem o sentimento de pertencimento das pessoas. A engenharia pode contribuir bastante para o papel das empresas em torno do meio ambiente, da ação social e da governança. A casa própria resume o papel da engenharia. Muito além de um produto da construção civil, representa a realização de um sonho, e como a pessoa vai se integrar à sociedade pelo acesso de serviços públicos, à formação da sua identidade social. Portanto, todas as ações executadas no âmbito das engenharias visam garantir direitos aos cidadãos. Direito de ir-e-vir, segurança alimentar, saúde”, discorreu.

Presidente da Sociedade Mineira de Engenheiros, eng. civ. Virgínia Campos
Presidente da Sociedade Mineira de Engenheiros, eng. civ. Virgínia Campos considerou a importância de valores intangíveis para a Engenharia

Ainda segundo Virgínia Campos de Oliveira, a engenharia é uma base de conhecimentos para construir uma vida de significados. “É um amplo instrumental, cujo propósito deve ser servir a sociedade. Por isso, ela deve manter ativos os canais de escuta e interação com a sociedade. A valorização da engenharia do Brasil deve servir a sociedade por indicadores como o Índice de Felicidade Interna Bruta e outros que revelem essa interação com a sociedade. A engenharia tem pressa e deve ser fortalecida pelo imenso papel que tem para a sociedade”.

Olhar da CBIC
Segundo o presidente da Comissão de Obras Industriais e Corporativas COIC/CBIC, eng. civ. Ilso Oliveira, encerrar o Enic com esse debate visou discutir a Engenharia por alguns ângulos, “trazendo representantes das universidades, o conhecimento do Instituto de Engenharia, o olhar dos conselhos, tão importantes para a Engenharia. Pensando nos profissionais, chamamos a Virgínia que coordena uma campanha chamada Engenharia Já. Eu e Carlos procuramos dar um enfoque das empresas executoras de construção industrial corporativa e de infraestrutura e obras públicas”.

Presidente da Comissão de Obras da Cbic, Ilso Oliveira
Presidente da Comissão de Obras Industriais e Corporativas da Cbic, Ilso Oliveira apontou algumas linhas de atuação da entidade

Ilso considerou que sua visão aponta a importância da engenharia de custos, onde estão envolvidas as metodologias constitutivas, focando controle de custo, de saúde, de segurança, de qualidade. “A quase totalidade dos projetos acontece como se fosse em um avião em pleno voo. A CBIC foca esse ano na valorização da engenharia e da gestão compartilhada, no sentido de discutir os problemas, sejam eles problemas técnicos ou econômicos, como no caso da pandemia que trouxe muitas novidades aos projetos, tanto do ponto de vista de execução, como de custos. No segundo dia do ENIC, lançamos um Guia de Gestão Compartilhada, que estará disponível para download no site da CBIC a partir do dia 15. A Engenharia representa uma parcela modesta dos projetos, em torno de 5 a 7,5%. Mas ela tem uma responsabilidade imensa pelo sucesso do projeto. E muitas vezes temos que, dolorosamente, quantificar quanto vale a falta da Engenharia. Tivemos muitos exemplos disso nos últimos anos. A CBIC encampou esse tema de uma forma muito intensa. Ela tem 63 anos e tem uma capilaridade muito grande, além de um histórico de caráter, de ética, muito forte. Estamos todos muito motivados, entendendo que a gente possa, efetivamente, resgatar o que é de valor na Engenharia”.

Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea