Fitorrestauração, integração de fontes e independência energética da Palestina permearam o último dia da Conferência Internacional Água e Energia

Brasília, 1º de agosto de 2016

Encerrou-se na última sexta-feira a Conferência Internacional Água e Energia. Após três dias de intensa programação técnica, no fim do dia os organizadores apresentaram a Carta de Brasília, documento final que sintetiza as propostas e conclusões do evento. “A Carta de Brasília foi discutida e elaborada a fim de ter em seu conteúdo todas as colocações feitas nas palestras desses três dias. Ela é uma síntese dessa conferência”, afirmou o presidente do Confea, eng. civ. José Tadeu da Silva.

Pouco antes da solenidade de encerramento, os conferencistas assistiram às últimas palestras técnicas da programação. Como feito nos outros dois dias do evento, os participantes se dividiram em dois auditórios: um cujas palestras focaram no tema da água, e outro que hospedou as discussões sobre energia. Confira o resumo das palestras:

 

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AUDITÓRIO ÁGUA

Fitorrestauração: nova tecnologia é apresentada na Conferência

Em sua palestra sobre os “Desafios dos Planos de Bacia Hidrográfica: Como Solucionar os Problemas Identificados”, o consultor Fernando Rodriguez apresentou a fitorestauração, tecnologia em que as plantas são o principal agente de tratamento das contaminações. Segundo ele, além do tratamento, o projeto consiste em elaborar um paisagismo funcional, onde são criados espaços com o uso de vegetação local. “Aqui no Brasil temos utilizado várias espécies de bambu para esse tipo de projeto nas áreas degradadas, podendo ser usado com vantagem na revegetação”, disse.

Rodriguez ainda apresentou dados que mostram o Brasil como potência hídrica, com cerca de 13% das disponibilidades de água doce do mundo e dois dos grandes aquíferos do mundo. “Além dos temos competentes instrumentos de gestão dos recursos hídricos”, disse o palestrante.

Rodriguez ainda falou sobre os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU), e mostrou-se preocupado com o sexto objetivo que garante a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento. Segundo dados do setor, para universalizar os serviços, seriam necessários investimentos de R$ 270 bilhões. “Considerando os valores do PAC - Programa de Aceleração do Crescimento -, destinados ao saneamento no período de 2007 a 2010, de R$ 40 bilhões, seriam necessários pelo menos sete PACs para alcançarmos essa meta. Ou seja, sete governos priorizando os investimentos em saneamento”, calculou o palestrante. Confira a palestra.

 

 

Energia solar é a esperança para independência energética da Palestina

Atualmente, os dois territórios da Palestina – Faixa de Gaza e Cisjordânia – são altamente dependentes de Israel no que tange a fornecimento de energia. “Ainda estamos na fase de incubação. Mais de 90% da nossa energia vem de Israel. Não temos autonomia e independência para criar oleodutos no futuro próximo. Precisamos trabalhar para mudar a matriz energética palestina, utilizando todas as fontes disponíveis”, apontou o presidente do Conselho Nacional de Energia Elétrica da Palestina, Emad Khader. Segundo ele, o principal potencial para solucionar o problema é a energia solar, que pode ser utilizada em áreas rurais e urbanas. 75% das residências da Palestina já utilizam essa tecnologia para aquecer água. “Além disso, a Palestina é predominantemente agrícola, então a biomassa também tem potencial no futuro”, completou. De acordo com Emad, os palestinos não podem contar com energia eólica, pois há pouco vento na Faixa de Gaza.

Os palestinos estão divididos em duas áreas geográficas principais – a Faixa de Gaza e a região da Cisjordânia –, e não há conexão por estradas. A travessia entre os dois locais se dá somente por avião, ou por autorização de Israel nas fronteiras. “É difícil resolver essa equação, que é uma questão de interesse econômico e social, e de autonomia da Palestina”, completou. Embora haja gás natural na costa da Faixa de Gaza, os palestinos não conseguem desenvolver estratégias de exploração, produção e distribuição por causa dos conflitos na região. 

Emad defende um projeto de colaboração regional para a elaboração de um programa com metas aplicáveis e gerenciáveis, para que o setor se desenvolva de forma sustentável. “Para termos segurança energética, com viabilidade econômica, precisamos nos beneficiar das relações com os países vizinhos. Precisamos interdepender, e não depender”, afirmou. Um primeiro passo já foi dado. Khader enxerga na criação do conselho que preside um passo para a regulação. “Demos um passo muito importante, já temos uma autoridade reguladora de energia, um conselho já em atividade”, disse. Confira o arquivo da palestra apresentada por Khader.




AUDITÓRIO ENERGIA

Integração das fontes de energia

O atual cenário do setor elétrico foi destaque da palestra do engenheiro eletricista Delson Amador, que atualmente é assessor na Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo. “É muito importante que o Confea esteja realizando este evento voltado para o tema ‘energia’, que é uma questão atual dentro da crise econômica pela qual passamos. É uma questão que afeta todos os cidadãos e todo o país porque afeta um dos nossos maiores bens, que é a energia, que está na base da cadeia de vários setores da economia brasileira”, pontuou.

Sobre a adoção de fontes de energias alternativas, o engenheiro eletricista chamou atenção do público para a necessidade de se considerar o sistema já instalado no país. “O incremento dessas fontes é bem-vindo, mas não podemos nos esquecer de que existe um setor estruturado constituído por entes estatais e privados, com regulação própria, que busca garantir energia à sociedade brasileira com base nos atributos confiabilidade, qualidade, continuidade e preço. Neste contexto, é importante que todos os profissionais procurem encontrar quais são os mecanismos e as regras que devem ser estabelecidas para que a inserção das fontes alternativas seja sintonizada com o setor que já existe”, argumentou o especialista, lembrando que as soluções devem visar ao enfrentamento dos desafios do setor elétrico. “Por isso, é importante que os profissionais da Engenharia se debrucem sobre questões relacionadas ao novo modelo a ser implantado no Brasil, que abrange as fontes renováveis”, complementou. Saiba quais as outras questões levantadas durante a palestra.

 

 

Energia solar é a que mais cresce no mundo

Uma das últimas participações do dia foi de André Nadai, da Empresa Brasileira de Energia Solar (Ebes/Brasil), que proporcionou uma radiografia desse tipo de fonte energética que é a que mais cresce no mundo, com a maioria dos países aplicando políticas e metas para o desenvolvimento de energia renovável, o que tem provocado a queda do preço médio de instalação de um sistema fotovoltaico.

No Brasil, especialmente privilegiado com o sol na grande maioria do ano, a geração solar ainda é muito pequena em relação ao total da matriz hidrelétrica que gera 62.7% (0.1%), apesar de já demonstrar seu potencial de crescimento.

 

 

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Beatriz Leal, Fernanda Pimentel, Julianna Curado e Maria Helena de Carvalho
Equipe de Comunicação do Confea