José Messias Miranda

Uma das mais sublimes tradições culturais do povo brasileiro, a moda de viola tem como uma de suas marcas as histórias de personagens que emocionam. Quem nunca ouviu falar da saga de Chico Mineiro, clássico do repertório de Tonico e Tinoco? Muitos outros “causos” similares rondam o repertório do gênero pelo interior do país. Os 66 anos da trajetória do engenheiro agrônomo José Messias Miranda poderiam ser mais um desses enredos que enriquecem o imaginário. 

O filho de dona Rosa Menegato e de seu Geraldo Diniz Miranda precisou batalhar muito na vida. O reconhecimento como “mestre” e uma pessoa tranquila e dedicada foi conquistado ao longo de atividades junto à Emater, à Epamig, ao Crea-MG e ainda por meio de inúmeras pesquisas acadêmicas acerca de produtividade, fitotecnia e melhoramento genético, notadamente para a cafeicultura. 

Sua jornada foi interrompida em decorrência de um infarto fulminante, na cidade de Cabo Verde, onde vivia com a família. O pesar de dona Márcia (educadora física) e dos filhos Daniela (médica), Flávia (dentista) e Guilherme (concludente de engenharia mecânica) foi compartilhado com os alunos e colegas da Universidade José do Rosário Vellano (Unifenas), onde José Messias Miranda era professor titular do curso de Ciências Agrárias desde 1999.

O amor à profissão e à família tinha como refúgio o pequeno sítio Angola, que mantinha em Cabo Verde, cidade natal da esposa. “Passamos por dificuldades, como para pagar aluguel, ainda quando ele trabalhava na Emater, em Pouso Alegre”, conta Márcia Helena de Melo Miranda, que se diz orgulhosa com a homenagem do Sistema Confea/Crea e Mútua.

Sentimentos compartilhados por colegas como o também doutor em Agronomia José Ricardo Mantovani, amigo de José Messias há 11 anos e com quem dividia pesquisas e orientações.

 “Até hoje sentimos muita falta do professor Messias, com quem aprendíamos muito, era um mestre. Era uma pessoa boa, formidável sob todos os aspectos, com um conhecimento muito grande e que nos dava muitos conselhos”, diz o colega. “Muito inteligente, ótimo professor, deixou muita saudade”, complementa o também doutor em Agronomia, professor Paulo Roberto Corrêa Landgraf, da Unifenas. 

Enquanto davam aulas em Alfenas, para economizar as despesas, os dois professores moraram na mesma casa durante um ano e meio. José Mantovani confirma a predileção do amigo José Messias pelas canções sertanejas de raiz e lembra a homenagem feita pela universidade, um mês depois do falecimento, quando a família, colegas e alunos ouviram uma delas. Tatiane Braga e o também professor Adriano Bortolotti da Silva reverenciaram o mestre com as canções “Romaria” e “Cio da Terra”.

Se Chico Mineiro e tantos outros personagens foram mistificados pelo cancioneiro popular, a lenda de Cabo Verde, a cerca de 100 quilômetros da Alfenas onde o professor José Messias espraiava seus conhecimentos, agora irá além da história das enxadas abandonadas pelos desbravadores em busca do ouro mineiro, e de cujos cabos brotaram uns matinhos que deram origem ao nome do lugar.

Com o mesmo apego voltado às suas tradições, Cabo Verde também deve guardar em sua memória a história de um de seus cidadãos honorários, 2001. E contar que, ali no sítio Angola, viveu feliz um caboclo que se deleitava com sua família, o café, a viola e o ofício que ainda fará brotar muitos outros cios da terra.

 

Por Henrique Nunes

Equipe de Comunicação do Confea