Tecnologia ajuda a economizar água em meio à maior seca da história

Brasília, 4 de setembro de 2024.

O Brasil enfrenta a maior seca da história, com uma extensão e severidade sem precedentes, superando a estiagem de 2015, conforme dados do Centro Nacional de Monitoramento de Desastres Naturais (Cemaden). Especialistas alertam que a estação seca deve continuar até outubro, com potencial para agravar ainda mais a crise hídrica.

Para minimizar os efeitos da seca, recursos tecnológicos são fundamentais na rotina doméstica. Uma solução é a calculadora de água desenvolvida pelos engenheiros civis Luciano Zanella e Wolney Castilho Alves, da Seção de Planejamento Territorial, Recursos Hídricos, Saneamento e Florestas do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT). A ferramenta permite estimar e otimizar o consumo de água nas residências, ajudando os brasileiros a entender melhor o uso deste recurso vital e a identificar oportunidades para economizar água em meio a essa emergência.

Acessível para uso por qualquer pessoa, mesmo sem conhecimentos técnicos, a calculadora possui três módulos interativos: 

•    Módulo de consumo de água: possibilita simular o consumo de água com base em dados, como frequência e tempo de uso para atividades domésticas corriqueiras. O usuário pode visualizar o efeito dos seus hábitos no consumo total de água, discriminado por cômodos e por períodos de tempo (dia, mês ou ano).
•    Módulo de economia de água: permite simular o impacto da instalação de equipamentos economizadores, como arejadores e redutores de vazão, em diferentes pontos de consumo de água. O usuário pode ver a diferença no consumo de água com e sem a adoção dessas tecnologias simples.
•    Módulo de água de chuva: exclusivo para simulações em casas, este módulo permite estimar a substituição de água potável por água de chuva em algumas atividades. Os usuários podem visualizar o potencial de economia ao longo de um ano.

Segundo o engenheiro civil Luciano Zanella, um dos criadores da calculadora, a ferramenta permite que os usuários analisem seu padrão de consumo. “Também podem ser explorados e testados cenários alternativos de consumo de água, uma experimentação virtual na qual é possível ajustar variáveis como duração do banho, uso de descargas sanitárias, frequência de irrigação de jardins e volume de água usado em atividades diárias, entendendo como isso se reflete no consumo mensal”, detalha Zanella.

A calculadora está disponível gratuitamente no site calculadoradeagua.ipt.br. O pesquisador enfatiza que os resultados obtidos são apenas referências médias, já que o consumo de água pode variar significativamente conforme os hábitos de uso, a pressão da água, o tipo de equipamento e a abertura das torneiras.

O pesquisador explica ainda que o consumo de água é maior no banheiro por conta dos banhos que chegam a ser mais de um por dia, considerando que, em média, o brasileiro toma 8,5 banhos por semana, sendo dois a mais do que os norte-americanos. Esse gasto pode ser ainda maior dependendo dos equipamentos utilizados. Em edificações com sistemas de descarga antigos, por exemplo, uma descarga pode gastar até 15 litros de água. Já os modelos mais modernos tendem a ser mais econômicos. “A referência normativa vigente preconiza que a descarga dada por um dispositivo tipo caixa acoplada seja de 6,8 litros; caso seja usada uma caixa de descarga de acionamento duplo, é mantido o volume de 6,8 litros para uma descarga completa e o volume de 3 litros para a descarga curta, destinada a remoção somente de líquidos.”

Na lavanderia, Zanella destaca que as máquinas de lavar com abertura frontal são mais eficientes, consumindo entre 30% e 80% menos água por ciclo em comparação com as de abertura superior, dependendo do modelo e do processo de lavagem.

“A ideia da calculadora não é a precisão nos resultados – que seria possível apenas pela medição direta do consumo, devido a uma série de variáveis tecnológicas e comportamentais envolvidas no uso da água – mas servir como uma ferramenta de auxílio na educação ambiental que tire os usuários do modo automático de uso de água e chame a atenção para como a água é utilizada”, pontua Zanella. “Isso irá trazer foco para a frequência e o tempo efetivo de uso para as atividades mais corriqueiramente realizadas em ambiente doméstico e as consequências desse comportamento para o consumo de água”, acrescenta, enfatizando que o uso eficiente da água é uma estratégia essencial para promover a educação ambiental, especialmente em tempos de mudanças históricas nos padrões de chuva.


Edição: Julianna Curado 
Equipe de Comunicação do Confea, com informações do IPT e do G1