Sustentabilidade e Inovação pautam debates na Ilha Contecc

Salvador (BA), 9 de outubro de 2024.

No segundo dia da 79ª Semana Oficial da Engenharia e da Agronomia (Soea), a Ilha do Congresso Técnico-Científico da Engenharia e da Agronomia (Contecc) destacou o papel importante do sequestro de carbono por meio do agronegócio, apresentando soluções inovadoras para mitigar os impactos das mudanças climáticas. Especialistas discutiram estratégias que unam produtividade e preservação.

O representante da Delgitec, eng. agr. Fernando Rodriguez, iniciou as discussões na Ilha Contecc com a temática sobre segurança hídrica no Brasil, ressaltando o desafio para o Brasil, “um país com vasto recurso hídrico, mas também com grandes desigualdades no acesso à água”. O palestrante abordou como o agronegócio pode ser um agente ativo tanto no provimento de água quanto no controle de excessos, propondo uma gestão integrada e sustentável.

 

Ieda de Carvalho Mendes


Em seguida, a pesquisadora da Embrapa Cerrados, eng. agr. Ieda de Carvalho Mendes, abordou a relação da saúde do solo e as mudanças climáticas. A palestrante discorreu sobre a crescente demanda por alimentos, impulsionada pelo aumento populacional e pelas mudanças climáticas, que coloca a saúde do solo em uma posição crítica. “O solo, muitas vezes, é visto apenas como um meio de cultivo, deve ser compreendido como um superorganismo que, quando tratado de maneira inadequada, pode "adoecer””.  

Ieda reforçou que desde 2020, iniciou o projeto de bioanálise do solo, buscando compreender melhor sua saúde e a relação direta com a produção agrícola. "Solos saudáveis têm mostrado uma média de produtividade superior, refletindo a importância da resiliência no contexto atual”, disse. A engenheira finalizou abordando que a bioanálise de solo (BioAS) possui 4 tipos de laudos e que o Brasil está construindo o maior banco de solos do mundo com a coleta de 43 mil amostras.

Em um cenário em que a construção civil enfrenta pressão para reduzir suas emissões de carbono, a utilização da madeira engenheirada surge como uma solução inovadora e sustentável. Durante sua apresentação, o consultor especialista da PR2 consultoria, eng. Patrick Reydams, destacou como a madeira engenheirada pode ser integrada a projetos de habitação, contribuindo para a mitigação do efeito estufa.

A madeira engenheirada é processada industrialmente a fim de otimizar o seu desempenho para uso na construção civil. Inclusive pode ser utilizada como estrutura principal em edifícios e superando a concepção tradicional de madeira como material de apoio. A sua aplicação em empreendimentos em madeira é competitiva economicamente devido ao tempo de inovação, equipe enxuta, retorno ao aporte financeiro e a sustentabilidade. Apesar dos muitos benefícios, a utilização da madeira enfrenta barreiras como o fogo, cupim, desmatamento. No entanto, Patrick destacou que essas questões já estão sendo endereçadas com tratamentos em autoclave, tratamentos térmicos e barreiras físicas, garantindo a durabilidade e a segurança das construções.

Engenharia, Agronomia e Geociências e a prevenção de desastres

Maria Esther Soares Marques


Complementando os insights sobre a relação da engenharia e sustentabilidade, profissionais renomados abordaram sobre o papel da engenharia e a prevenção de desastres. Em um contexto em que o crescimento urbano muitas vezes ocorre de forma desordenada, a professora titular do Instituto Militar de Engenharia (IME), eng. civ. Maria Esther Soares Marques, abordou os desafios e soluções para as áreas de baixada em uma palestra enriquecedora. As áreas de baixada, caracterizadas por sua topografia e suscetibilidade a alagamentos, enfrentam grandes desafios devido à ocupação descontrolada. A palestra enfatizou como a falta de planejamento urbano resulta em problemas sérios, como a degradação ambiental, enchentes frequentes e a precarização das condições de vida dos moradores.

O chefe de Ensino, Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação do Exército, eng. mec. Armando Morado Ferreira, discutiu a importância da engenharia no ambiente de defesa e os desafios tecnológicos que o Brasil enfrenta para garantir sua segurança de maneira sustentável. Morado Ferreira iniciou sua apresentação abordando os desafios contemporâneos que vão além da proteção das barreiras terrestres. "Hoje, enfrentamos a necessidade de integrar novas tecnologias para garantir a defesa nacional", afirmou. O engenheiro também destacou projetos significativos que visam fortalecer a segurança nas fronteiras brasileiras, como o Sistema Integrado de Monitoramento de Fronteiras (Sisfron).

Henrique Luduvice


Em seguida, o ex-presidente do Confea eng. civ. Henrique Luduvice abordou a fundamental contribuição do Sistema Confea/Crea na prevenção de desastres. Luduvice destacou a importância do diálogo entre os profissionais da engenharia e os diversos poderes públicos, ressaltando a necessidade de uma atuação proativa na busca por soluções sustentáveis para os desafios enfrentados pelo Brasil. Luduvice enfatizou que a engenharia tem um papel crucial na sociedade, especialmente em momentos de crise. "Precisamos ter a coragem de dialogar com os poderes e defender a engenharia nacional", enfatizou.

Fechando o ciclo de palestras, o diretor da Escola Politécnica da Universidade de Pernambuco (UPE), eng. civ. Alexandre Gusmão, trouxe à tona a urgente relação entre mudanças climáticas e riscos geológicos, destacando como esses fenômenos impactam as áreas urbanas. Gusmão iniciou sua apresentação enfatizando que 80% da população brasileira reside em áreas urbanas, caracterizadas por alta densidade demográfica e áreas reduzidas. “Essa realidade gera conflitos entre o meio físico e o meio antrópico, tornando as cidades vulneráveis a eventos climáticos extremos”, analisou. O palestrante também abordou o problema dos solos moles e aterros, que frequentemente apresentam grandes deformações. Para enfrentar esses desafios, Gusmão enfatizou que não há solução sem a implementação de obras estruturadoras, controle urbano e a participação efetiva da população.

Ilha Contecc: discussões prosseguem 
Hoje (9), a Ilha Contecc dá continuidade às suas discussões com painéis importantes: "Planejamento e Gestão Territorial de Bacias Hidrográficas" e "Licenciamento Ambiental". Na sexta-feira, dia 10 de outubro, serão expostos trabalhos de diversas modalidades do Sistema. Nesta edição, foram selecionados 436 trabalhos, dos quais 24 serão apresentados oralmente pelos autores, fechando mais uma edição do Contecc.

Reportagem: Anna Jescika Araújo (Crea-PI)
Edição: Fernanda Pimentel 
Revisão: Lidiane Barbosa (Confea)
Equipe de Comunicação da 79ª Soea
Fotos: ArtFoto Produtora/Confea