Produção agrícola da Bacia do Rio Formoso comprometida

Brasília, 8 de novembro de 2017.


"Engenheiro Civil Fernán Vergara, da UFT: preocupação com o abastecimento de água para a próxima década"
A sazonalidade do abastecimento da bacia de maior produção agrícola do Estado de Tocantins, no Rio Formoso, vem sendo comprometida ano após ano. A ponto de um pacto envolvendo os produtores, Estado, Ministério Público e a Universidade Federal do Tocantins (UFT), entre outras entidades, estar sendo gestado ao longo do último ano. 

Um dos responsáveis pela condução dos estudos para este processo é o engenheiro civil e gestor hídrico Fernán Enrique Vergara Figueroa, professor da UFT. Na próxima segunda-feira (13), ele participa do Evento Preparatório da Engenharia e da Agronomia para o Fórum Mundial da Água, preparatório a ser realizado até o dia seguinte, na Pontifícia Universidade Católica de Tocantins. 

Pesquisador do tema,  Fernán Enrique Vergara apresentará uma palestra sobre a “Gestão de Alto Nível da Bacia do Rio Formoso”, um trabalho que ainda está sendo desenvolvido e que deverá ser mantido pelos próximos anos. “Fizemos esse estudo ao longo deste ano. Temos bons indícios de que os irrigantes têm potencial para fazer um uso melhor da água. Já está bem abaixo da média normal, dos últimos anos”, diz, comentando que o sistema hidrológico da região é parecido com o da capital federal, marcado por um período de chuva e outro de estiagem. 

Vergara explica que os produtores não podem aumentar a área plantada. “A gente caminha para a principal solução: um pacto social envolvendo o Ministério Público, o Judiciário e o Estado. Vamos ter que caminhar muito para o uso da água com um volume menor. O sistema de drenagem é complexo. Os modelos de inundação e subirrigação demandam muita água. Estamos estudando mudar esses modelos. Para algumas culturas como a melancia, é viável essa mudança para o gotejamento, que exige uma vazão muito menor”.

O pesquisador considera que é necessário, ainda, manter um projeto para a implantação do monitoramento de recursos hídricos na Bacia do Rio Formoso, cuja demanda de água para irrigação de áreas de arroz e outras culturas é muito ampla. “A Bacia tem tido muitos problemas, motivo da atenção também do Ministério Público e do juiz da comarca de Cristalândia, Wellington Magalhães, que também dará uma palestra no evento”. 

Aplicativo e vazão outorgável

Entre as propostas encaminhadas pelo pesquisador da UFT está a instalação de medidores, monitorados por meio de um aplicativo de celular. “A potência é grande e como é uma região agrícola, em um sistema que demanda uma resposta rápida, o aplicativo informará quanta água cada bomba está captando”.

Este deverá ser, em breve, um dos primeiros resultados do consenso negociado entre a sociedade civil e o Estado. O que se mostra cada vez mais urgente, diante da extrapolação da capacidade de vazão outorgável da Bacia, com 22 mil quilômetros quadrados e que envolve 18 municípios. “Hoje, o rio está com toda a sua capacidade de vazão permitida, voltada quase totalmente para a produção agrícola, já que a população dispõe de captação subterrânea, não captando água do rio”.

Fernán Vergara considera que a proposta é, depois da instalação desse sistema de monitoramento por aplicativo, fazer uma revisão das outorgas para evitar o desperdício e dar maior segurança hídrica à região.

O engenheiro civil considera que o problema vem se ampliando nos últimos 10 anos e que o país está recebendo indícios de que pode estar entrando em outro regime climático e um novo regime de disponibilidade hídrica. 

“São várias possibilidades, desde o El Niño, ao desmatamento e ao aumento da demanda de água. Tudo isso talvez tenha potencializado esse regime de disponibilidade hídrica. Até o rio Tocantins está em níveis críticos. O reservatório da Serra da Mesa está praticamente vazio. A sociedade precisa abraçar esse debate, agora promovido pelo Confea. Senão, teremos problemas ainda maiores a médio prazo, em questão de 10 anos”.

Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea