Presidente do Crea-RJ fala de fiscalização, integração e garantia de emprego

Brasília, 26 de fevereiro de 2018.

"Luiz Antonio Cosenza"

“Quando a gente fiscaliza, o nosso objetivo é garantir que permaneçam no mercado os bons profissionais. Queremos proteger a sociedade dos leigos e também dos maus profissionais, que, afinal, toda profissão tem.” Essa é a aposta do novo presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), engenheiro eletricista e de segurança do trabalho Luiz Antonio Cosenza, para quem a fiscalização é uma prioridade. “Não podemos ter apenas um fiscal atuando em sete ou oito municípios como temos hoje”, complementa Cosenza, que estará até 2020 à frente do Crea que hoje abrange 225.406 registrados, em um estado caracterizado por suas diversas potencialidades econômicas, que vão desde parques industriais naval, ferroviária e têxtil, de alimentos, cosméticos e máquinas, além de setores da agropecuária, celulose e siderurgia.

É a partir dessa múltipla realidade regional, que o presidente reflete sobre o contexto nacional do Sistema Confea/Crea: “Se dentro do mesmo Crea tem regiões com economias diferentes, imagina no Brasil. São Creas diferentes, com problemas diferentes”. Apesar das variáveis locais, para Cosenza, é o “trabalhar junto” que irá fortalecer o Sistema. “Não pode ser cada um por si, cada um vendo apenas o seu lado, o que é melhor para si. Temos de discutir a questão nacional. Estamos falando do Crea em defesa da sociedade. E a defesa da sociedade é a defesa do Brasil. Temos de pensar o Brasil como um todo”, frisa.

Defender o país, segundo Cosenza, também passa pela garantia de mercado de trabalho para os profissionais brasileiros da área tecnológica. “Hoje o que está acontecendo neste setor é a invasão de profissionais estrangeiros. É a venda de empresas brasileiras para coreanos, chineses, americanos, europeus. A gente precisa defender as nossas empresas. Se a gente não defender as empresas, só vai sobrar para o brasileiro o subemprego, porque os melhores empregos vão para os profissionais estrangeiros.” Continue lendo a íntegra da entrevista.

 

Site do Confea: Neste triênio à frente do Crea-RJ, quais os principais desafios já mapeados que demandam esforço e atuação? Estes desafios constam da agenda de prioridades, como serão tratados e quais resultados positivos irão gerar?

Luiz Antonio Cosenza: Não tenho nenhuma dúvida de que o maior desafio que o Crea-RJ terá de enfrentar é a aproximação do Conselho dos profissionais e das empresas registradas. Todos os Creas são muito distantes dos profissionais. Precisamos mostrar a importância que o Crea-RJ tem. Mostrar que, quando a gente fiscaliza, o nosso objetivo é garantir que permaneçam no mercado os bons profissionais. Queremos proteger a sociedade dos leigos e também dos maus profissionais, que, afinal, toda profissão tem. O fato de o Crea-RJ ser muito distante leva ao resultado que a gente viu nessas eleições: apenas 4% dos profissionais foram às urnas votar. Esse é o nosso maior desafio. Eles constam da nossa agenda de prioridades. Estamos mapeando todas as necessidades porque precisamos ter um quadro real do Crea-RJ. Por exemplo, não podemos ter apenas um fiscal atuando em sete ou oito municípios como temos hoje. Precisamos também dar celeridade à concessão do primeiro registro do profissional, bem como melhorar os canais de atendimento ao público.

 

 

Site do Confea: O senhor acredita que o Sistema Confea/Crea e Mútua demanda uma readequação de seus procedimentos? Por quê? Se sim, qual tipo de reestruturação é necessária e como a gestão do senhor irá atuar neste sentido?

Luiz Antonio Cosenza: Em primeiro lugar, acho que nosso Sistema Confea/Crea e Mútua precisa trabalhar junto. Não dá para serem órgãos independentes. Vou dar um exemplo. Os Creas não se falam. O sistema do Crea-RJ não fala com o do Pará, que não fala com o do Amazonas. Como o registro é um registro único, nacional, o nosso sistema deveria ser único. Vem um profissional aqui de outra regional requisitando algum serviço do Crea-RJ, a gente tem de entrar com o número da carteira de registro nacional e ver a situação dele, mas não conseguimos fazer isso. Esse é um sistema que tem de ser desenvolvido pelo Confea para todos. E a Mútua tem interesse nisso também. Porque um percentual da ART vai para a Mútua. Os Creas, a Mútua e o Confea precisam trabalhar juntos. Para mim é o mais importante neste momento. 

 

Site do Confea: Acredita que a integração dos Creas dentro da região geográfica e de forma nacional é importante? Se sim, quais caminhos possíveis, dos pontos de vista institucional e político? Quais vantagens esse movimento pode gerar para o Sistema e para os profissionais do setor?

Luiz Antonio Cosenza: Sim, a integração dos Creas é muito importante. Inclusive, acredito que, com o apoio do Confea, os Creas maiores devem ajudar os Creas menores. Não tenho dúvida nenhuma disso. Existem realidades diferentes no Brasil, assim como dentro do próprio Crea há essas diferenças. Por exemplo, a Região Serrana do Rio tem um tipo de economia que é a agronomia com muita área de hortifrutigranjeiros, diferentemente da Região Noroeste que tem as pedreiras. Se dentro do mesmo Crea tem regiões com economias diferentes, imagina no Brasil. São Creas diferentes, com problemas diferentes, alguns com problemas financeiros, outros com problemas de fiscalização, problemas de economia da região. Então, dividir o Brasil por região é fundamental. Não pode ser cada um por si, cada um vendo apenas o seu lado, o que é melhor para si. Temos de discutir a questão nacional. Por isso é preciso haver essa integração dos Creas. Estamos falando do Crea em defesa da sociedade. E a defesa da sociedade é a defesa do Brasil. Temos de pensar o Brasil como um todo. Isso é fundamental.

 

Site do Confea: Muito se fala na responsabilidade e habilidades dos profissionais registrados no Sistema Confea/Crea como contribuições diretas para o desenvolvimento do Brasil e para a implantação de políticas públicas que levem à retomada do crescimento nacional. Qual a opinião do senhor sobre essa viabilidade?  

 Luiz Antonio Cosenza: Se a gente pensar que a área tecnológica é responsável por 80% do PIB brasileiro e aí entram o engenheiro, o arquiteto, o físico, o químico, os técnicos, os tecnólogos, os agrônomos, para vermos como está a situação do país é só ver como está o nível de emprego nessa área. Se a área tecnológica está com bastante emprego, você pode estar certo de que o país também. Quando há demissões, quando há falta de emprego na engenharia, é que o país está mal. Por aí vemos a importância que a área tecnológica tem para o país. Hoje o que está acontecendo neste setor é a invasão de profissionais estrangeiros. É a venda de empresas brasileiras para coreanos, chineses, americanos, europeus. A gente precisa defender as nossas empresas. Se a gente não defender as empresas, só vai sobrar para o brasileiro o subemprego, porque os melhores empregos vão para os profissionais estrangeiros. Existe um projeto na Câmara dos Deputados em Brasília para que a gente dê o registro ao profissional estrangeiro em três meses. Pergunto: o que está sendo feito para que isso não seja aprovado? Temos de brigar por isso. E o nosso Sistema Confea/Crea tem de ser o protagonista dessa história. A gente não pode ser omisso, fingir que nada está acontecendo. O nosso Sistema precisa fazer uma grande campanha em defesa da engenharia. Vamos levar essa discussão para o Colégio de Presidentes em Brasília e pleitear que o Conselho Federal atue na defesa das nossas empresas, dos nossos empregos, do trabalho para os nossos profissionais que estão se formando e estão sem perspectiva. Isso não é defender o emprego pelo emprego. É a defesa do país, da soberania nacional e dos nossos profissionais.

 

Julianna Curado

Equipe de Comunicação do Confea