Planejar o imprevisto

Brasília, 8 de novembro de 2006

“As pessoas que decidem o futuro do Brasil na área da Engenharia de Segurança do Trabalho estão presentes neste seminário e, a partir das nossas reflexões, podemos contribuir para a nossa profissão e para a segurança da sociedade”. Com estas palavras o presidente da Associação Nacional de Engenharia de Segurança do Trabalho (ANEST), eng. Francisco Machado da Silva, deu início ao 1º Simpósio Internacional de Engenharia de Segurança do Trabalho, que acontece hoje, 8 de novembro, e amanhã, dia 9, em Brasília, na sede do Crea-DF. Para ele, a principal função de um engenheiro de segurança é planejar o imprevisto, "um desafio extremamente filosófico", lembrou Machado.

O convidado de honra do 1º Simpósio, o ex-ministro do Trabalho, Arnaldo Pietro, falou da importância da profissão do engenheiro de degurança do trabalho para garantir condições adequadas de trabalho ao todos brasileiros. Ele destacou ainda o fato de que hoje os ministros do Trabalho não dão a atenção merecida à área, como ele fazia enquanto ministro, em 1974. “Nunca fui ministro de gabinete. Sempre me preocupei em conferir as coisas ‘in loco’. Se acontecia um acidente eu fazia questão de visitar o local, de ver de perto os estragos, de conferir os fatos”, frisou Pietro.

Ainda segundo o ex-ninistro, dar confiança aos profissionais que estavam se formando à época e reverter o quadro de acidentes de trabalho no país foram suas metas. Em 1974, de acordo com dados do ex-ministro, cerca de 1,8 milhão de trabalhadores se acidentava no Brasil, o que representava quase 17% dos trabalhadores registrados no Instituto Nacional de Seguridade Social, atual Previdência Social.

Para os organizadores do Simpósio os temas e as palestras vão apresentar aos profissionais e à sociedade a realidade da área da segurança do trabalho no Brasil e em outros países e vão dar aos participantes a dimensão da importância da profissão. Por isso, segundo eles, os temas escolhidos são bastante atuais e polêmicos. Dentro dos principais estão a melhoria da qualidade e do ensino da engenharia de segurança, a necessidade de atualização das leis trabalhistas e as funções de um profissional formado na área.

Participam do 1º Simpósio Internacional, profissionais brasileiros, argentino e português, líderes de Entidades Nacionais da área da Segurança do Trabalho e políticos como os Senadores Marcelo Crivella (Presidente da Comissão Parlamentar de Engenharia) e Romeu Tuma e o Deputado Federal Nelson Proença. Todos preocupados em mudar os números dos acidentes do trabalho no país, garantindo melhores condições de trabalho a todos, através de uma boa legislação.

Durante os dois dias os participantes vão poder conhecer um pouco da realidade da Engenharia de Segurança no Brasil e também a realidade da profissão em outros países. De acordo com engenheiro brasileiro erradicado em Portugal Ailton Santos, em Portugal a baixa remuneração e o processo falho de responsabilização faz com que não existam muitos profissionais formados na área da segurança do Trabalho. “Em Portugal não há cultura de segurança e a falta de uma boa legislação dificulta a atuação dos poucos profissionais existentes no país”, desabafou ele.

Já para o engenheiro argentino César Acuña o principal problema em seu país é a ausência de profissionais formados na área.“No meu país não existe o engenheiro de segurança do trabalho, mas apenas o engenheiro. Somente agora estamos começando a formar os primeiros profissionais”. Segundo ele, a preocupação com segurança e a necessidade da formação dos profissionais surgiram após a tragédia acontecida em Buenos Aires em 2004, quando uma casa de show pegou fogo. O incêndio aliado a um projeto de evacuação ineficaz matou cerca de 200 jovens.
 
Para os organizadores o 1º Simpósio é o ponto de partida não só para refletir sobre a profissão, sobre o papel do profissional e sua importância para evitar tragédias como a citada pelo engenheiro Acuña, mas também é ponto de partida para buscar o fortalecimento do profissional no mercado de trabalho que hoje está sendo substituído por outros profissionais. “Precisamos voltar a ocupar o nosso espaço no mercado, precisamos ter mais consciência da importância da nossa profissão, conquistar a confiança da sociedade em nosso trabalho para que todos tenham segurança”, afirmou o vice-presidente da ANEST, engenheiro Nelson Burille.

O Ministério do Trabalho e Emprego registrou em 2005, no Brasil, 491.711 acidentes de trabalho enquanto em 2004 o número registrado foi de 465.700. Dos acidentes registrados em 2005, 378.604 foram com homens e 113.106 foram com mulheres. A maioria dos acidentes, ainda segundo o Ministério do Trabalho e Emprego, atinge profissionais em idade entre 20 e 29 anos.

Já dados do Ministério da Previdência Social mostram que  a ausência de segurança nos ambientes de trabalho no Brasil gerou no ano de 2000 um custo de cerca de R$ 23,6 bilhões para o país, o equivalente a 2,2% do Produto Interno Bruto(PIB). Deste total, R$ 5,9 bilhões correspondem a gastos com benefícios pagos a trabalhadores que sofreram algum tipo de acidente de trabalho, a aposentadorias especiais e ainda, à reabilitação dos profissionais.

Ana Karienina
da Assessoria de Comunicação do Crea-DF