Painel discute inovação e valorização profissional no campo

Conselheira federal eng. agr. Andréa Brondani moderou o debate com as participações do presidente do Confea, eng. civ. Joel Krüger; do senador eng. agr. Luis Carlos Heinze; fiscal agropecuário do Mapa, eng. agr. Silvio Testasecca, e do chefe de gabinete do Confea, eng. agr. Luiz Antonio Rossafa
Conselheira federal eng. agr. Andréa Brondani moderou o debate com as participações do presidente do Confea, eng. civ. Joel Krüger; do senador eng. agr. Luis Carlos Heinze; fiscal agropecuário do Mapa, eng. agr. Silvio Testasecca, e do chefe de gabinete do Confea, eng. agr. Luiz Antonio Rossafa

Brasília, 17 de setembro de 2021.

Ao longo de aproximadamente uma hora e 40 minutos, foi possível verificar como a tecnologia, tão natural ao convívio dos profissionais do Sistema Confea/Crea e Mútua, pode ser também uma aliada para aproximar os mais diversos atores de cenários complementares nessa engrenagem valiosa, que tanto contribui para o avanço das atividades da Agronomia, neste caso em particular.
 
Pelo Sistema, participaram o presidente do Confea, eng. civ. Joel Krüger, e o chefe de gabinete do Conselho, eng. agr. Luiz Antonio Rossafa, além da conselheira responsável pelas “pontes” entre os debatedores. Estes reuniam ainda o senador Luis Carlos Heinze (PP-RS), também engenheiro agrônomo, representando o universo da política, e ainda o auditor fiscal agropecuário eng. agr. Silvio Luiz Rodrigues Testasecca, representando o ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), como assessor do chefe do departamento de Sanidade Vegetal e Insumos Agrícolas. E claro, o público, constituído por profissionais, lideranças do Sistema e estudantes, que participavam ativamente do “chat” do debate, em questionamentos que também foram colocados à mesa pela moderadora.

Elos
Os primeiros elos entre os debatedores começaram a ser descritos pelo presidente do Confea, ao saudar o senador Heinze pelo recente apoio à defesa do Salário Mínimo Profissional e da ART para engenheiros eletricistas, que poderiam cair diante de uma iniciativa do governo federal, a Medida Provisória 1.040/2021. “Agradeço ao apoio dado pelo senador às demandas do Sistema”, disse, sendo cumprimentado de volta.

Embora de outra área entre os engenheiros agrônomos, Joel de pronto definiu o Brasil como um dos principais players do agronegócio mundial. “Devemos à ciência, a empresas como a Embrapa, para que aumentássemos não apenas a área plantada, mas a produtividade. Discutir o agronegócio é fundamental, diante da necessidade de alimentos e da segurança alimentar, a qualidade dos nossos produtos. Nos próximos anos, muitas inovações vão ser implementadas no agronegócio”, disse, antecipando um dos temas mais debatidos na sequência: a inovação. “Temos máquinas agrícolas, equipamentos de altíssima tecnologia. Tenho certeza de que essa revolução dos últimos 50 anos continuará ocorrendo, continuaremos nos destacando”, apontou.

Presidente do Confea, eng. civ. Joel Krüger
Presidente do Confea, eng. civ. Joel Krüger ​

Sempre pontuadas pela moderadora Andréa Brondani, as informações técnicas sobre as diversas abordagens ganharam um fator humano mais surpreendente, quando o representante do ministério manifestou sua emoção em rever o chefe de gabinete do Confea, que contribuíra para sua formação, no Estado do Paraná. “É um prazer rever o Rossafa, atuei por muito tempo em Bandeirantes”, disse, estimulando algumas lembranças que seriam mais bem compartilhadas ao final do debate, já em clima mais informal. “Um dos objetivos da Soea é justamente esse: permitir as interações. Ela ainda permite isso, como neste caso que estamos testemunhando”, comentou a engenheira mediadora, reverenciando todos os profissionais, pesquisadores, colegiados e órgãos que atuam no setor, em especial, os extensionistas rurais. 

Inovação
Após descrever a importância da criação da Embrapa e de seus dirigentes para reverter o quadro de importação de alimentos, nos anos 1970, citando nomes como o ex-ministro da Agricultura Luiz Fernando Cirne Lima; o segundo presidente da Embrapa, Eliseu Alves, e ainda o do ex-ministro da Agricultura Alysson Paolinelli, o senador Luis Carlos Heinze descortinou uma série de dados sobre a produtividade brasileira atual. “Eles deram início a essa revolução que o campo brasileiro tem hoje”, disse, lembrando que Paolinelli está concorrendo ao Prêmio Nobel da Paz, em proposta apoiada pelo Confea.

Segundo o senador, em 1977, cinco anos após a criação da Embrapa, o Brasil tinha 37 milhões de hectares plantados, com produtividade média de 1357 quilos por hectare, com uma produção de 46 milhões de toneladas para uma população de 109 milhões de habitantes. “Em 2021, nós aumentamos para 68 milhões de hectares, crescemos 85% de área plantada e a produtividade saiu para 3.360 quilos por hectare, um crescimento de mais que o dobro da área plantada. Isso é revolução, isso é tecnologia.  Esta revolução do campo brasileiro se deve aos nossos pesquisadores, aos nossos engenheiros agrônomos, zootecnistas e principalmente aos produtores rurais brasileiros”.

Para Heinze, “o Brasil ainda pode dobrar a sua produção de grãos, apenas usando áreas de pastagens degradadas e parte do cerrado, sem mexer na floresta Amazônica, apenas com os nossos pesquisadores, profissionais e produtores, e sem os subsídios na quantidade que os outros países recebem”, disse, chamando atenção ainda para o trabalho das AgTechs, espalhadas por todo o país. 

Senador Luis Carlos Heinze
Senador Luis Carlos Heinze

“Gostaria que o Confea fizesse também um trabalho junto às nossas universidades, um estímulo para que as empresas incentivem os jovens nos cursos de graduação e de pós-graduação. Nós temos mais 13 mil startups. Mas há apenas 352 na área do agro. O maior produtor brasileiro hoje, o Mato Grosso, tem apenas 19 startups.  Estamos trabalhando essas AgTechs com a Capes e diretamente com as universidades”.


Com anos de experiência junto ao ministério da Agricultura, inclusive com artigo publicado na obra que marcou o Ano Internacional da Sanidade Vegetal, em 2020, Testasecca apontou: “a gente precisa aproveitar as vantagens da biodiversidade do Brasil. Tem uma nova onda de inovação que vai permitir que o Brasil se mantenha como grande player do mercado internacional. Acredito que esta nova onda tem que ter uma participação mais importante do setor privado, diferente do que foi na década de 1970, com a Embrapa e as entidades de pesquisas estaduais”, considerou.

O pesquisador apontou que na próxima fase da inovação é preciso ainda que o país não dependa tanto de um único importador, a China, e de um único produto, a soja. “Concordo que a gente pode dobrar a produção, continuar a ser um grande exportador de alimentos para o mundo. Eu acredito que logo a gente vai chegar a 300 milhões de toneladas, mas é muito importante a diversificação de destinos, como de produtos”, comentou, informando, em resposta à conselheira Andréa, que sua área no ministério contribui para isso por meio da abertura para novos mercados.

Fiscal agropecuário do Mapa, eng. agr. Silvio Testasecca
Fiscal agropecuário do Mapa, eng. agr. Silvio Testasecca

“Por isso, levantei essa questão: muitas vezes, os colegas pensam em inovação como mera aplicação de novas tecnologias, mas quando o senhor fala de abertura de novos mercados, isso não deixa de ser uma inovação. Porque são acessos a mercados que os nossos produtores outrora não tinham e que passam a ter com a utilização de insumos, com a melhoria de qualidade, com um processo de certificação que possibilita o avanço, e, portanto, é um avanço tecnológico ou inovador na agregação de valor à sua produção. E o ministério da Agricultura tem sido reconhecido mundialmente pela sua capacidade de apoiar os sistemas produtivos do Brasil”, considerou.

Já em referência ao vídeo exibido pelo servidor do Mapa, sobre os investimentos em inovação junto à agricultura familiar, a conselheira federal ponderou que “o Mapa também investe muito na qualificação da agricultura familiar”. Ela manifestou ainda que a Agronomia costuma ser criticada como associada apenas ao agronegócio. “No entanto, a gente vê o Brasil liderando produções bastante específicas com alto valor agregado”, ressaltou.

Após uma explanação sobre os potenciais energéticos dos insumos agrários brasileiros, em biocombustíveis, por exemplo, Rossafa considerou que “o segredo da inovação é fazer a mesma coisa de forma diferente”. Citando a experiência da inovação no Brasil Central, lembrou que os brasileiros aprenderam no exterior as bases de sustentação para a ocupação do cerrado brasileiro.

Chefe de gabinete do Confea, eng. agr. Luiz Antonio Rossafa
Chefe de gabinete do Confea, eng. agr. Luiz Antonio Rossafa

“Não foi magia. Fomos aprender balanço iônico nas universidades americanas. Boa parte do que entendemos da química do cerrado veio da Universidade da Carolina do Norte. Não se conhecia nada da dinâmica iônica do solo brasileiro. E aí fizemos a grande magia do conhecimento e da inovação, aí entra a Embrapa. Conhecendo o solo, nós o recuperamos em parte e nos preparamos pela genética e pelo melhoramento das plantas e deu no que deu: trigo sendo produzido em um solo que era pior do que areia de praia. O nível de toxidez de alumínio, de manganês, de ferro era absurdo. E hoje o Brasil está preparado para qualquer desafio”, disse, já saudando o colega Sílvio, ao rememorar as vivências no interior paranaense. “Ser jovem é olhar para trás profissionalmente sem remorso”, pontuou Rossafa, dando início a um conjunto de referências que aliam essa dinâmica ao repertório do profissional do Sistema. 

Papel do Sistema
“Esse país é maravilhoso. As suas oportunidades se multiplicam a cada dia. E as políticas públicas, felizmente, estão hoje a alicerçar um futuro promissor para todos nós. E no Sistema Confea/Crea nos cabe a grande responsabilidade de sermos atores nesse processo criativo que nos leve à inovação. Inovação também é decisão política. Esta cria a diretriz, ela pode estabelecer metas para que venhamos realmente a desdobrar, em benefício do emprego, da renda, do desenvolvimento social e humano de nossa gente”, considerou Rossafa.


A conselheira Andréa Brondani esclareceu, em resposta a um internauta, que a finalidade do Sistema é a fiscalização do exercício profissional. “Dar definições de atribuições profissionais e dar a garantia para a sociedade de que os profissionais que atuam no mercado têm as devidas habilitações profissionais. O Sistema também é grande incentivador da valorização profissional através das entidades de classe, tendo o Colégio de Entidades Nacionais como um dos órgãos consultivos”, disse, relacionando a Confederação dos Engenheiros Agrônomos do Brasil –  Confaeab entre as integrantes do colegiado.

Conselheira federal eng. agr. Andréa Brondani
Conselheira federal eng. agr. Andréa Brondani

Andréa Brondani considerou ainda que o Sistema “tem incentivado projetos de diferenciação, desde a certificação, através da Comissão de Educação e Atribuição Profissional”. E destacou que o Confea tem promovido vários termos de cooperação técnica, com a participação de especialistas, que contribuem para o desenvolvimento do agronegócio, pela interação com órgãos regulatórios. Incentivando o público a conhecer a estrutura do Sistema, ela arguiu o chefe de gabinete da presidência do Confea sobre esse papel. 

“Eu sempre tive o cuidado de entender o nosso sistema profissional muito além da autorização da lei. Nós não poderemos ter limites legais para fazer a defesa da sociedade através da boa Agronomia e da boa Engenharia, entendendo que nós somos autorizados a colaborar para o desenvolvimento, a inovação, a geração de novas tecnologias, a pesquisa. Mas com a atuação do Conselho nos últimos anos, nós estamos muito próximos de dar algumas respostas em termos de estratégias de nação, de políticas públicas para a inovação através de grupos técnicos. Eu entendo que nós temos condições para ter grupos de profissionais notáveis que possam contribuir na estruturação de boas ideias. No Brasil, a ascensão social ainda se dá pela educação. Mas o Confea pode ir além de regulamentar, de fiscalizar e de até punir um exercício leigo da profissão. Então, esse grupo pode contribuir para a empregabilidade e o desenvolvimento do país”, declarou.

A integração do Sistema com o Mapa e outras instâncias decisórias da cadeia produtiva foi saudada pelo auditor fiscal do Ministério da Agricultura. “Esses acordos de cooperação técnica realmente são muito importantes. Acho que compete ao Sistema identificar as pessoas que podem liderar tecnicamente essa onda nova, que será essencial se o Brasil quiser se manter como um player importante pelos próximos 40 anos porque os outros países têm se mexido. Então, essa iniciativa é muito importante”, disse, colocando-se à disposição para intermediar o diálogo com a secretaria de Inovação do Mapa. 

Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea