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Gramado, 11 de agosto de 2023.
O climatologista brasileiro Carlos Nobre, conhecido pelo trabalho no campo da ciência do clima e suas contribuições para a compreensão das causas e consequências dos eventos climáticos e renomado mundialmente, lotou o auditório Farroupilha, no Serra Park, na manhã do último dia da 78ª Soea, em Gramado (RS), nesta sexta (11/8).
Para uma plateia composta por profissionais da engenharia, agronomia e geociências, Carlos Nobre disse que as mudanças climáticas são um desafio para todos nós e que é preciso atuar rapidamente para tentar frear as consequências desastrosas para o planeta.
“Nós passamos pela Covid, mas as mudanças climáticas são um risco maior no planeta do que foi a pandemia. É importante perceber a emergência climática que vivemos hoje e o clima de fato vem sofrendo a interferência humana”, alertou.
O sexto relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), de 2021 e 2022, deixou claro que os dados apresentados são um alerta vermelho para humanidade. “As mudanças climáticas recentes observadas são generalizadas, rápidas, intensificadas e sem precedentes”, diz o relatório.
De acordo com o climatologista, um dos resultados é o calor extremo que matou na Europa 61 mil pessoas no verão do ano passado, acometendo principalmente idosos e mulheres. Na avalição dele, as estratégias utilizadas atualmente para lidar com as temperaturas altas não estão sendo eficazes. “Duas décadas de esforços na Europa para se adaptar a um mundo mais quente não estão acompanhando o ritmo do aquecimento global”, alertou.
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Recorde de calor em julho de 2023
Carlos Nobre apresentou dados que mostram que em julho deste ano houve recordes de calor. “Foi o mês mais quente do registro histórico. A diferença de 1940 para 2023, no mês de julho, foi de 1,2ºC”, disse. No caso dos oceanos, a temperatura bateu recorde. Os oceanos muito quentes evaporam muito mais água e esse vapor d’água é veículo dos extremos climáticos. Isso para mostrar o quão crítico nós chegamos”, alertou.
Projeções para o futuro
O climatologista Carlos Nobre destaca novamente o IPCC sobre o desafio da humanidade. “A menos que haja reduções imediatas, rápidas e em grande escala nas emissões de gases de efeito estufa, limitar o aquecimento global a 1,5% pode ser impossível”, diz o relatório. Para atendermos o acordo de Paris e não deixar a temperatura passar de 1,5%, argumenta, há duas trajetórias. “A mais importante é zerar as emissões até meados do século e depois remover o gás carbônico da atmosfera até 10 bilhões de toneladas por ano, até o final do século. Mas o pior cenário é a temperatura passar de 4ºC, se as emissões continuarem a aumentar”.
Brasil tem papel essencial
Carlos Nobre enfatiza que nós podemos nos tornar o primeiro país a zerar as nossas emissões. Hoje, somos o quinto maior emissor, 4% das emissões globais. “Para alcançar a meta de 1,5°C é necessário redução de 50% das emissões até 2030 e zerar as emissões líquidas até meados do século e passar a segunda metade removendo uma enorme quantidade de carbono”, explica.
Entre as medidas urgentes para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e mitigar os impactos das mudanças climáticas, o climatologista reforça a necessidade de transição para fontes de energia limpa e sustentável, investimentos em tecnologias de adaptação e ações para proteger os ecossistemas naturais, como florestas e oceanos, que desempenham um papel crucial na regulação do clima.
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“As emissões precisam parar de crescer até 2025, não pode passar disso. Não existe espaço para novas infraestruturas baseadas em combustíveis fósseis, por isso, 99% dos cientistas climáticos são totalmente a favor de não haver a exploração de carvão, petróleo e gás natural, inclusive, é preciso reduzir até a exploração já existente”, afirma.
“Mas ainda dá tempo! É uma enorme responsabilidade de todas as gerações, não temos outro caminho para salvar o planeta”, concluiu Carlos Nobre, sendo aplaudido de pé pela plateia presente ao auditório Farroupilha.
Reportagem: Anelly Medeiros (Crea-RN)
Edição: Henrique Nunes (Confea)
Fotos: Studio Feijão & Lentilha