Desmitificando os alimentos feitos em laboratórios

Brasília, 13 de março de 2024.

A tecnologia tem seus jeitos de dar as respostas para os desafios do planeta. Uma solução viável para centenas de milhões de pessoas ao redor do mundo que vivem em insegurança alimentar, a carne de laboratório já é uma realidade e diversos restaurantes a oferecem sem que nenhum animal tenha de ser importunado por isso. Agora os pesquisadores começam a fazer suas variações: liderados pelo professor Jinkee Hong, um grupo de engenheiros químicos e biomoleculares, cientistas alimentares e nutricionistas da Universidade Yonsei, da Coreia do Sul, desenvolveram o arroz de carne, um alimento que agrega a consistência do arroz à proteína da carne.

“A produção tradicional de carne consome vastos recursos e é uma importante fonte de emissões de gases com efeito de estufa. Esses produtos alternativos podem ajudar a reduzir o impacto ambiental das nossas dietas”, comenta o prof. Hong, que é engenheiro químico de formação, com especialização em Engenharia de Polímeros. “Ao simplificar potencialmente a cadeia de abastecimento alimentar, esses produtos alternativos podem resolver problemas de escassez de alimentos e ineficiências de distribuição. Propus uma solução que utiliza grãos de arroz para enfrentar o desafio da produção em massa, o que nos permite resolver problemas associados à escalabilidade”.

O arroz de carne lembra uma combinação de carne picada e arroz, de grãos rosados e pegajosos. A mistura é rica em nutrientes e, embora seja um pouco trabalhosa para ser produzida agora, poderá um dia aliviar a pressão alimentar. O arroz de carne contém 8% de proteína e 7% de gordura a mais do que um arroz normal. Cerca de 18% da proteína é de origem animal, fornecendo nutrientes aprimorados que não estão presentes no arroz branco. “O arroz de carne foi elaborado para oferecer uma opção nutricionalmente mais completa, permitindo um planejamento mais simples das refeições”.


Inicialmente, o arroz de carne provavelmente será mais caro que o arroz comum devido à nova tecnologia e aos custos de pesquisa envolvidos. “No entanto, à medida que a tecnologia amadurece e a produção aumenta, espera-se que o preço diminua, tornando-o competitivo com os produtos alimentares tradicionais. Os alimentos produzidos através do cultivo de células são o resultado da combinação de várias tecnologias de componentes, pelo que as atuais estimativas dos custos de produção são meramente hipotéticas. No entanto, se tudo se desenvolver de forma ideal, o custo por 100g de produção de proteína animal poderá eventualmente ser inferior ao da carne bovina atual”, pontua Hong.

Prof. Jinkee Hong, da Universidade Yonsei

O professor Hong lista os principais benefícios de se incentivar o estudo da produção de alimentos em laboratórios:

•    pode levar ao desenvolvimento de produtos alimentares adaptados a necessidades nutricionais ou condições de saúde específicas;
•    reduz a dependência de terras agrícolas e de recursos hídricos;
•    contribui para resolver problemas na produção alimentar causados pelas alterações climáticas e pela degradação do solo;
•    permite a produção de proteínas animais saudáveis sem o sacrifício de animais, levando ao surgimento de diversos superalimentos;
•    pode servir como uma excelente fonte de alimento em ambientes como o espaço, onde a criação de gado é um desafio.

Rastreamento
Vale pontuar que a equipe do Prof. Hong está utilizando uma tecnologia blockchain corporativa chamada Mobick Blockchain para registrar todos os processos de produção do arroz de carne em um livro-razão digital imutável, avançando a pesquisa no desenvolvimento de produtos alimentícios totalmente confiáveis. “Estes esforços representarão um grande desafio para proporcionar confiança nos alimentos”, comenta o coordenador dos estudos.

Beatriz Leal Craveiro
Equipe de Comunicação do Confea
Fotos: Divulgação/Universidade Yonsei