Em busca de estratégias disruptivas para cumprir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

Rio de Janeiro, 15 de março de 2019.

"Assessor sênior do PNUD, Haroldo Machado Filho: engenharia tem papel fundamental para todos os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável"


A importância de a Engenharia buscar soluções disruptivas, que estejam além das práticas habituais, para desafios como os relacionados à engenharia sanitária, por exemplo, foram alguns dos aspectos levantados pelo assessor sênior do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento – PNUD, no Brasil, Haroldo Machado Filho, durante o encerramento do 10º Encontro do Conselho de Associações Profissionais de Engenheiros Civis dos Países de Língua Portuguesa e Castelhana, nesta sexta (15), no Rio de Janeiro.

"Rayne Ferreti, da ONU-Habitat: engenharia e cidades"


Para Haroldo, “ser disruptivo pode minimizar os efeitos de Objetivos do Desenvolvimento Sustentável que não vamos alcançar. No Brasil, por exemplo, a questão sanitária. Se pensarmos em tecnologias disruptivas, podemos ter uma solução mais eficiente. Só pela engenharia essa ruptura será possível para que tenhamos um mundo mais justo e mais inclusivo em 2030”.

O presidente do Confea, eng. civ. Joel Krüger, destacou a participação de 18 países no evento e a busca por soluções inovadoras. “Queremos aprofundar essa parceria com o Sistema. Na ideia de ser disruptivo, queremos avançar, por exemplo, na participação da mulher na Engenharia com um conceito novo”, afirmou.

"O argentino Enrique Sgrelli ao lado do presidente Joel Krüger: reciprocidade mais próxima"


Para a internacionalista e bacharel em Direito Rayne Ferreti Moraes, Oficial Nacional do Programa  ONU Habitat, que se apresentou em seguida como conferencista do Congresso Ibero-Americano de Engenharia Civil, ao trabalhar com a temática das cidades, a organização projeta uma aproximação natural com a Engenharia, pois “a área desempenha um importante papel nesse desenho”.

Na abertura do Congresso, o Bastonário da Ordem dos Engenheiros de Portugal, Carlos Mineiro Aires, lembrou que “infelizmente, hoje é preciso trabalhar mais com a adaptação e com a mitigação das consequências das mudanças climáticas”, em visão compartilhada com o representante do PNUD. “Todos os 17 objetivos são identificados com a Engenharia, eles não podem ser alcançados sem a nossa atuação”.

Ainda antes do Congresso, o presidente Joel Krüger assinou protocolos de intenções com o Conselho de Engenheiros Civis da Argentina, Enrique Sgrelli, e o presidente do Colégio de Engenharia de Caminhos, Canais e Portos da Espanha, Juan Antonio Santamera, voltados à definição de estratégias para a definição de Termos de Reciprocidade Profissional nas linhas daquele firmado entre o Confea e a OEP.

Por dentro dos ODS

Segundo o assessor sênior do PNUD, Haroldo Machado Filho, a formulação de desenvolvimento sustentável associava-se, em geral, ao meio ambiente. “Houve uma certa distorção dessa ideia nos últimos anos. A definição clássica de Desenvolvimento Sustentável diz que a humanidade tem a capacidade de ter um desenvolvimento sustentável no qual se possa garantir as necessidades do presente sem comprometer as necessidades do futuro. Está se falando de direitos e deveres, nada de questão ambiental. O que nos interessa é a confluência entre esses fatores, o que promove o real desenvolvimento sustentável”.

Segundo ele, entre 2000 e 2015, falava-se da Agenda de Desenvolvimento do Milênio, uma agenda muito mais simples, cujo foco era o combate à pobreza extrema e à fome. “As engenharias contribuíram bastante com essa agenda que teve grandes resultados, tirando vários países do mapa da fome. E contamos que a Engenharia esteja também à frente desta Agenda 2030.  No Brasil, houve ganhos em vários indicadores. Essa agenda foi a primeira vez em que se metrificou o processo de desenvolvimento. E as engenharias têm grande importância em qualquer processo de mensuração.  Isso ensinou as Nações Unidas a buscar essa metrificação nos objetivos globais”, informa.

Foi usado então o Índice de Desenvolvimento Humano – IDH, baseado no Censo promovido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “Hoje, nem os países mais pobres da África têm a configuração que o Brasil tinha nos anos 1990. A evolução é uma conquista da sociedade brasileira. Estou muito ansioso para ver o mapa em 2020. Nossa área foco ainda são as regiões Norte e Nordeste”.

Veja fotos do Encontro

Haroldo apresentou, então, a formulação dos 17 objetivos, considerando que a estrutura dos ODS tem metas que precisam ser conhecidas e onde a engenharia tem um papel em cada uma delas.

1.    Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares;

2.    Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição; é promover a agricultura sustentável;

3.    Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todos, em todas as idades;

4.    Garantir educação inclusiva e equitativa de qualidade, e promover oportunidades de aprendizado ao longo da vida para todos;

5.    Alcançar igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas;

6.    Garantir disponibilidade e manejo sustentável da Água e saneamento para todos;

7.    Garantir acesso à energia barata, confiável, sustentável e moderna para todos;

8.    Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todos;

9.    Construir infraestrutura resiliente, promover a industrialização inclusiva e sustentável, e fomentar a inovação;

10.     Produzir a desigualdade entre os países e dentro delas;

11.    Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis;

12.    Assegurar padrões de consumo e produção sustentáveis;

13.    Tomar medidas urgentes para combater a mudança do clima e seus impactos;

14.     Conservar e promover o uso sustentável dos oceanos, mares e recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável;

15.    Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificaçáo, bem como deter e reverter a degradaçáo do solo e deter a perda de biodiversidade.

16.    Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituiçóes eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis;


17.    Fortalecer os mecanismos de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável.


“Na ODS 3, temos por exemplo, hospitais, e se destaca a importância de ter estruturas que assegurem a qualidade de vida para todos. O 4 trata também da importância da capacitação ao longo da vida. Falamos de educação infantil e também de EaD. E ainda a importância de pensar na inclusão feminina na Engenharia, considerando que essa capacitação proporciona importantes ganhos econômicos. No 8, vemos que o crescimento econômico sustentável depende da Engenharia, inclusive da Engenharia de Segurança do Trabalho. O ODS 9, só por meio da inovação e da engenharia vamos alcançar. Daí a importância da engenharia para mitigar e adequar os danos da mudança climática. Hoje, os cálculos de engenharia consideram os impactos das mudanças de clima por meio de estruturas que sejam resilientes a impactos de longo prazo. O ODS 12 está relacionado à engenharia de produção com menor impacto ambiental. O problema de epidemias está relacionado a como eu descarto o lixo, por exemplo”.

Participantes falam sobre o Congresso

"Eduardo Chacón - Costa Rica"

"Apresentou conceitos importantes para todos os engenheiros latino-americanos em torno do desenvolvimento sustentável para que em cinco ou dez possamos estar mais próximos dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Essa integração com a ONU é fundamental para reduzir problemas como a pobreza e o de saneamento básico, área em que temos obtido bons resultados, tal como na potabilização de água".

Presidente do Colégio de Engenheiros Civis da Costa Rica, Eduardo Chacón


"Horácio Aguilar Salguero - Guatemala"


"Esse trabalho da ONU promove um importante intercâmbio de informações, diante das necessidades do meu país, ainda mais considerando que estamos participando pela primeira vez do Encontro. Na Guatemala, a ONU desenvolve assistência técnica, mas gostaríamos de fundar uma Escola de Análise de Riscos, Vulnerabilidades e Mudanças Climáticas, já que somos um país com seis mil engenheiros civis, enfrentando problemas como terremotos e vulcões. Também temos que estudar estratégias para problemas como a baixa qualidade do ensino de Engenharia hoje, devido a carreiras sem qualquer estrutura.

Presidente do Colégio de Engenheiros da Guatemala, Horácio Aguilar Salguero

"Carlos Ballón - Bolívia"

"Temos conversado muito sobre esse debate em torno dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável para a próxima década. Temos que debater muito aspectos como o saneamento. Em relação aos projetos da ONU, eles não são tão específicos como os que vimos agora aqui no Brasil. E gostaríamos muito que fossem assim, pelo menos nas cidades maiores. A pobreza é algo comum em todo o continente sul-americano, o que nos leva a problemas não só no saneamento como no transporte, apesar dos avanços que estamos tendo em relação aos sistemas de energia".

Presidente da Sociedade de Engenheiros da Bolívia, Carlos Ballón

Palestras:

ODS ONU Habitat, de Rayne Ferreti

ODS 2030, de Haroldo Machado Filho

 

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Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea

Fotos: William Vargas Átomo Filmes/Confea