Sucesso das culturas de café e mamão no Espírito Santo depende de manejo racional de água

Brasília, 23 de junho de 2017.

"Presidente da Sociedade Espiritossantense de Engenheiros Agrônomos será um dos palestrantes do Preparatório da Engenharia e da Agronomia para o Fórum Muncial da Água, em Colatina, no dia 11/7"

O uso da irrigação é necessidade nas principais culturas agrícolas do Espírito Santo. Entre elas o café, cuja produção representa 30% do Produto Interno Bruto (PIB) capixaba, e o mamão, responsável por qualificar o Estado como um dos maiores produtores da fruta, com 59% das exportações brasileiras. A gestão dos recursos hídricos, nesse caso, é uma demanda para garantir sucesso nas lavouras, como observa o presidente da Sociedade Espiritossantense de Engenheiros Agrônomos, Geraldo Ferreguetti. 

Segundo ele, o manejo adequado da água no cultivo do mamão, por exemplo, foi determinante para o sucesso do setor, permitindo a produção garantida pelo uso da irrigação, de modo sustentável, possibilitando atender aos protocolos de certificação internacional. Para as plantações de café, a demanda é mais expressiva e preocupante, como observa o engenheiro agrônomo: “Ainda que possamos avançar muito na adaptabilidade das lavouras à restrição hídrica, não se pode negar a relevância da água para o futuro da cafeicultura. Com certeza hoje e por muitos anos ainda, a atividade mais impactante sobre a disponibilidade de recursos hídricos no Espírito Santo é a cafeicultura irrigada”. 

Como caminho de solução, o especialista aposta no trabalho científico e técnico dos profissionais da Engenharia e da Agronomia, cujo compromisso é dar respostas para a crise da água que aflige a população capixaba, seja pela escassez ou pelo excesso. Nesse cenário e lembrando o rompimento da barragem em Mariana (MG) que provocou danos ambientais em parte do Espírito Santo em 2015, ele sinaliza nesta entrevista ao site do Confea como os profissionais da área tecnológica podem contribuir para a mitigação dos impactos ambientais e para o avanço da recuperação do rio Doce e seus afluentes. 

Todas essas questões serão destaque da palestra “Uso Racional da Água da Agricultura”, durante o Preparatório da Engenharia e da Agronomia para o 8º Fórum Mundial da Água, promovido pelo Sistema Confea/Crea e Mútua. O evento será entre 10 e 12 de julho no campus do Instituto Federal do Espírito Santo, onde será promovida rodada de debates sobre estratégias de manejo e preservação dos recursos hídricos e energéticos, com a presença de 300 lideranças profissionais, gestores públicos e pesquisadores. A proposta do Sistema é levar os resultados dessas discussões para o Fórum Mundial da Água, que será realizado pela primeira vez em Brasília, em 2018. 

 

Site do Confea: Para o senhor, qual é a importância de engenheiros, agrônomos e demais profissionais da área tecnológica participarem ativamente do Fórum? Como esses profissionais podem contribuir efetivamente?

Geraldo Ferreguetti: A água é o recurso natural mais importante do planeta e aquele que apresenta o maior risco de ser exaurido pela atividade humana, dentre os recursos disponíveis utilizados pelos processos produtivos que giram a nossa economia. Desta forma, a participação dos engenheiros de todas as modalidades nas discussões sobre água, um tema multidisciplinar, se traduz numa obrigação. A Engenharia e a Agronomia vêm contribuindo e irão contribuir ainda mais, para o uso mais racional da água nos processos produtivos. Espera-se que o ponto de equilíbrio das discussões no encontro em Colatina, sob a ótica da irrigação, seja exatamente o uso racional e eficiente da água, evitando-se tendências de polarização das discussões tanto para o consumo desenfreado ou para o rigor, mais ideológico que científico, de setores ligados aos movimentos ambientalistas.

 

Site do Confea: O Espírito Santo é responsável por 59% das exportações brasileiras de mamão Golden – políticas de manejo e gestão de água têm um papel relevante para a construção desse dado?

G.F.: Temos estudos mostrando que a “pegada hídrica” total do papaya é 640 litros de água para cada quilo da fruta produzida, o que representa uma necessidade de água bastante elevada. O manejo adequado da água no processo produtivo dessa fruta foi determinante para o sucesso do segmento, permitindo a produção garantida pelo uso da irrigação e, ao mesmo tempo sustentável, possibilitando atender aos protocolos de certificação rigorosíssimos do mercado consumidor internacional. A gestão do uso racional da água garantiu a produção adequada às exigências do mercado.

 

Site do Confea: A economia do Estado do Espírito Santo tem como destaque o cultivo e a exportação de café. O senhor abordará essa cultura na sua palestra?

G.F.: Sim, o Espírito Santo tem 30% do seu Produto Interno Bruto (PIB) baseado no café e mais de 75% dos municípios capixabas têm nesta cultura a fonte dinâmica de sua economia. Além disto, todo o avanço tecnológico que permitiu aumentos significativos da produtividade do café Conilon, desenvolvido principalmente pelo Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper), tem no uso da irrigação uma necessidade. Portanto, discutir água no Espírito Santo e não falar de café seria no mínimo incompleto. Ainda que possamos avançar muito na adaptabilidade das lavouras à restrição hídrica, não se pode negar a relevância da água para o futuro da cafeicultura. Com certeza hoje e por muitos anos ainda, a atividade mais impactante sobre a disponibilidade de recursos hídricos no Espírito Santo é a cafeicultura irrigada, portanto um assunto obrigatório neste fórum.

 

Site do Confea: Os debates acontecem à beira do rio Doce, um dos atingidos pelo acidente ambiental de Mariana. O senhor acredita que os debates podem auxiliar nas políticas de recuperação e manutenção do rio?

G.F.: Sim, a escolha do local se deu pensando exatamente nisto, mas temos que ter em mente que o rio Doce já agonizava antes do evento de Mariana. O impacto do acidente veio agravar consideravelmente uma situação já bastante ruim sob o ponto de vista da preservação ambiental da bacia do Doce. O objetivo agora – e o evento poderá contribuir muito com esta agenda – é trabalhar na mitigação dos impactos ambientais da ocorrência de Mariana e ao mesmo tempo avançar em outras medidas de recuperação do rio e seus afluentes, tais como recuperar as nascentes, reflorestar e proteger as matas ciliares, construir estrutura de reservação de água, promover o uso racional da água nos processos de produção, e reflorestar  as áreas de encostas íngremes as quais, desprotegidas, contribuem para o assoreamento da calha do rio. Certamente, tantos outros métodos e processos de conservação e reservação surgirão durante as exposições e debates do fórum, e ouso dizer que este evento será a melhor oportunidade de imprimir racionalidade à recuperação dos recursos naturais, especialmente da água.  

 

Site do Confea: Que reflexos os debates do Preparatório de Colatina poderão ser gerados para o Espírito Santo?

G.F.: Além das sugestões de projetos a serem executados visando à mitigação dos impactos do acidente de Mariana, visando à recuperação do rio Doce e seus afluentes que nos deixarão para os governos e a sociedade, penso que o debate contribuirá com o fortalecimento da consciência de preocupação ambiental entre os jovens profissionais da área de engenharia e agronomia do nosso Estado. Estaremos, então, contribuindo decisivamente para uma postura crítica fundada em conhecimentos científicos, permitindo a estes profissionais atuarem de forma decisiva na solução definitiva da crise de recursos hídricos que afligem a população capixaba todos os anos, seja pela falta, ou pelo excesso. Por fim, julgo essencial que todos os projetos e todos os processos de mitigação da realidade hídrica do rio Doce tenham como pano de fundo o trabalho com e para a sociedade. Um bom começo já é metade do fim.

 

Acesse http://mundialagua.confea.org.br/ e saiba mais sobre o evento. 

 

Equipe de Comunicação do Confea