Água: a fonte da vida a disposição de todos

Brasília, 2 de agosto de 2016

O terceiro e último dia da “Conferência Internacional Água & Energia Novas Abordagens Sustentáveis” começou com a apresentação de Tomáz Angel Sancho Marco, engenheiro Civil, de Canais e Portos. Considerado especialista em financiamento de infraestrutura e planejamento e gestão de água, Sancho Marco tratou sobre a contribuição da engenharia para o desenvolvimento sustentável do planeta a partir da gestão da água. Para ele, “a boa gestão dos recursos hídricos é um desafio importante a ser enfrentado por toda a humanidade, representada por governos, entidades de classe, academia, todos os segmentos sócio-econômicos, profissionais e também o cidadão comum”.

Mais vivo e atual do que nunca o conceito de desenvolvimento sustentável, para o especialista, envolve os aspectos econômico, ambiental e social. Ele acredita que a tecnologia permitirá que sejam dados passos cada vez mais determinantes para a sustentabilidade do planeta e determinará a velocidade desse avanço: “Nesse sentido, os engenheiros são fundamentais na criação de tecnologias que poupem os recursos hidrológicos e garantam a vida para as gerações futuras”, disse Marco que questiona se estamos mesmos praticando o desenvolvimento sustentável.

Membro do Conselho Consultivo da WFEO/Fmoi (Federação Munidal de Organizações de Engenharia), Sancho Marco afirma que “hoje somos mais conscientes, sabemos que mais de 11 mil espécies correm risco de extinção, o que  é preocupante, além de que alguns incidentes como maremotos que provocaram danos como o de Fukushima, no Japão.

O especialista em gestão de água defende que para trilhar o caminho sustentabilidade é preciso diminuir a perda da biodiversidade e repensar a redistribuição da riqueza “que aumenta de forma cada vez mais desigual em muitas zonas do planeta.

Mesmo reconhecendo os avanços dos protocolos de Kioto, de Montreal, lembrando da Agenda Rio 21, a Rio+20, e as metas do Milênio, com o comprometimento de entidades e governos é preciso uma ação coordenada, por exemplo, por uma agência reguladora mundial.

“Nas últimas décadas vivemos as crises alimentar, a financeira, a  energética,  a econômica que podem provocar o aumento da pobreza. Temos um milhão de pessoas passando fome, sem condições de viver dignamente - o que considero um escândalo -, ao mesmo tempo em que praticamente a mesma quantidade morre por doenças provocas por obesidade. 

Identificando que para melhorar a qualidade de vida é necessário gerar mais eletricidade, Marco afirma que como a água, a energia também é distribuída de forma desigual. “Se a população mundial crescer 50% até 2035, teremos que ter 85% a mais da energia gerada hoje. Qual o futuro que queremos”, indagou para uma plateia atenta ao tema. “A pergunta é simples e contundente”, completou.

Temendo que uma elite intelectualizada “resolva consertar o mundo elimando milhões de pessoas sob o argumento de que não cabemos todos no planeta”, acrescenta outra indagação: “Vamos alcançar o desenvolvimento sustentável eliminando gente?” 

Ao destacar que há a necessidade de elementos de governabilidade convocou os participantes da conferência para “ajudar a construir o edifício da sustentabilidade e definitivamente mudar paradigmas”.

Marco tratou ainda de transporte, de segurança hídrica e alimento, além da defesa do uso e consumo responsável e eficiente dos recursos hidrológicos,  assim como a gestão de bacias, adaptação às mudanças climáticas, e da preparação do planeta para ter em 2050 70% de sua população vivendo em cidades e apenas 30 na zona rural. “A maior parte de água está armazenada em aquíferos que alcançam diversos países o que exige a discussão sobre como gerir o acesso a essa riqueza, precisamos de guias para gerar soluções e dar sinais econômicas e eficientes na a gestão da água”.

Otimista, lembrou que em 2013 foi o primeiro ano que líderes mundiais colocaram foco na água como assunto de transcendência mundial. Planejar, investir, pesquisar, criar, descentralizar são verbos chaves para enfrentar o que Marco considera o maior desafio da humanidade atualmente, assim como a palavra parceria. “Hoje ninguém resolve os problemas sozinho”, afirma.

 “A água é necessária para produzir riquezas e muitos disputam o mercado da água, considerado promissor. Nos últimos anos é consenso de que  investimento em agua é mais rentável a médio e longo prazo. O retorno apresenta uma relação custo beneficio de 1 para 6”.

Para Marco, a sociedade  tem de se  integrar para permitir economias de escala local, regeneração e reutilização de água que darão garantia hídrica sem aumentar a pressão sobre o meio ambiente: “cada localidade deve gerir o seu consumo de água. Os governos têm que regular o aproveitamento e a distribuição de forma democrática para toda a sociedade que tem sua cota de responsabilidade, especialmente os engenheiros que devem assumir o desafio de preparar o planeta para mais pessoas. Os civis são também guardiões da natureza. “Podemos fazer o bem conservando sem agredir o meio ambiente. 

Ao chamar a atenção para que engenheiros coloquem sua capacidade à serviço da cidade defendeu politicas tarifarias que gerem sinais econômicos indicando o uso eficiente da água: “quem mais consome tem que pagar mais”.

“Todas as soluções de infraestrutra de gestão são a melhor defesa estratégica para o futuro da água”, afirmou taxativo.

Certo de que a fonte hídrica limpa é a melhor para o planeta - com a contribuição que considera insuficiente de outras fontes como eólica e solar, por exemplo, disse que os engenheiros devem aplicar seus conhecimentos empenhar para prever o que pode acontecer e ajudar a reduzir os efeitos de desastres naturais ou mesmo provocados pelo homem. 

Pouco antes de encerrar, Marco falou da ética como forma de luta contra a corrupção. Para ele, “ética também é desenvolvimento sustentável”.

Maria Helena de Carvalho
Equipe de Comunicação do Confea