Petrolina, 02 de março de 2011.
No foco da discussão o “Velho Chico”, um rio que ao longo da sua bacia, que banha 504 municípios, vem sendo atingido por poluição, assoreamento e muita degradação. Sua importância para o crescimento das áreas banhadas por suas águas é inegável, por isso, profissionais da área tecnológica estão reunidos em Petrolina até amanhã (sexta-feira, 04) para discutir os impactos e as condições atuais de um rio considerado como o rio da integração nacional.
A degradação ambiental é o que mais preocupa, pois mais de 15 milhões de toneladas de areia vão para calha do Rio anualmente, reduzindo a navegabilidade, a atividade econômica ao longo da sua bacia, a produção de alimentos. Esse assoreamento é resultante, também, da destruição de 95% da sua mata ciliar, que virou carvão.
Ao falar sobre a necessidade de revitalização do Rio São Francisco, Marcos Túlio de Melo, presidente do Confea, defendeu que o “desenvolvimento brasileiro que queremos não é apenas aquele que tivemos num passado recente, mas sim aquele com uma visão integrada, onde a cultura, a economia, a responsabilidade ambiental e social também assumem o papel de vetores do crescimento”.
Ele ainda defendeu que é preciso entender o conjunto da sua bacia, além da calha principal. “O que acontece hoje inicia em cada um desses 504 municípios, pois essas ações cairão na calha principal. Temos que ter um programa de saneamento onde todo o esgoto produzido seja recolhido, tratado e, principalmente, não seja lançado no rio”, defendeu, propondo que na Carta do São Francisco, documento que conterá os pontos debatidos no evento, conste uma proposta completa.
“O Brasil precisa investir R$ 20 bilhões por ano, nos próximos 10 anos, para recuperar o passivo em saneamento. É uma meta para 2030, momento em que queremos alcançar o tratamento completo do esgoto no país”, lembrou Marcos Túlio.
“O rio precisa voltar a ser o vetor de desenvolvimento que foi no passado. Mas, não há como discutir desenvolvimento sustentável sem discutir o semi-árido, sem a participação pró-ativa da sociedade, que precisa contribuir nesse processo de revitalização vigoroso, como uma rede de integração social”, afirmou Jonas Dantas, presidente do Crea-BA e ex-coordenador do Colégio de Presidentes do Sistema Confea/Crea.
Para o presidente do Crea-PE, José Mário Cavalcanti, a “história do ‘Velho Chico’ tem sido a história do sofrimento de um rio que ao longo da sua existência, mais de 500 anos, é fonte de riqueza, mas é alvo de destruição. Um rio que nasce na Serra da Canastra, tem 640 mil km2 e banha cinco estados brasileiros, com forte importância regional e desempenha um importante papel na ocupação do nosso território, precisa ser cuidado”, defendeu.
Palestra – “O Modelo institucional para a entidade delegada a operar e manter a infraestrutura hídrica do projeto de transposição das águas do Rio São Francisco” foi o tema da primeira palestra do encontro, nesta quarta-feira (02.02), sendo apresentada por Francisco Lopes Viana, superintendente da Agência Nacional das Águas (ANA).
“A nossa principal preocupação agora é sobre como será gerida essa infraestrutura hídrica criada com a transposição. Será um complexo sistema de integração, com grandes reservatórios que demandam água, o que impõe a necessidade de os estados se organizarem para buscar uma gestão equilibrada”, ressaltou, lembrando que a vazão será de 26m3 por segundo.
O palestrante lembrou que, de acordo com o projeto inicial, há a necessidade de criação de um órgão gestor. “E é isso que estamos cobrando. A ANA vai regular o que precisa ser regulado, cobrando a existência de um sistema de garantias que funcione, como o menor risco político, inclusive”.
Francisco ainda falou sobre quatro experiências brasileiras com transposição: do Rio Paraíba do Sul (Barra do Piraí-RJ); Bacia do Rio Piracicaba (São Paulo) e o Rio Jaguaribe (Ceará) e o Rio São Francisco. A primeira delas, realizada a partir de 1952, foi no Rio Paraíba do Sul, tendo a cidade do Rio de Janeiro como a grande usuária de suas águas, com o abastecimento atual de 8 milhões de pessoas. A vazão, reduzida ao longo do tempo, hoje é de 119m3 por segundo, mantendo o sistema de abastecimento, mas reduzindo a produção de energia.
O segundo exemplo citado foi de São Paulo, com as águas que saem do manancial da Cantareira, formando um importante sistema de transposição que permite o abastecimento de 50% da grande São Paulo. A Região Metropolitana de São Paulo ainda dispõe de mais sete mananciais: Alto Tietê; Rio Claro; Rio Grande; Guarapiranga; Alto Cotia; Baixo Cotia e Ribeirão Estiva.
O terceiro modelo foi adotado em Fortaleza, com a transposição, em 2003, feita entre rios intermitentes, tendo como principal afluente o Rio Jaguaribe, permitindo uma vazão de 6m3 por segundo. Ainda no Ceará será feita a transposição do Açude do Castanhão – um grande reservatório com 6 milhões de m3 de água, o que permitirá uma vazão de 23 m3/segundo e o abastecimento de 2.750.000 pessoas na Região Metropolitana de Fortaleza.
O Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF), segundo Francisco Viana, será realizado nos eixos norte (estados de PE, PB, CE e RN) e leste ( estados de PE e PB), envolverá vários rios, como Jaguaribe, Apodi, Piranhas-Açu, Paraíba – e de rios afluentes do próprio rio São Francisco – Brígida, Terra Nova, Pajeú e Moxotó (além de atendimento a demandas urbanas em outras bacias – Capibaribe, Ipojuca, Mundaú e Una). “Esse projeto vem sendo pensado, debatido e proposto em vários momentos da história do Rio, tendo seu registro mais antigo datado de 1860”.
Na mesa de abertura do evento também estavam presentes Geraldo Coelho, ex-deputado estadual por Pernambuco; Armando Ferreira, presidente da Assea – Associação dos Engenheiros, Arquitetos, Agrônomos, Tecnólogos e Técnicos do Médio São Francisco; Urbano Costa, inspetor do Crea-PE em Petrolina; Aloísio Ferreira, presidente do Crea-AL; Geraldo Júnior, secretário de Urbanismo, Planejamento e Meio Ambiente de Petrolina.
Na programação de hoje (03/03) palestras sobre: “A degradação ambiental do Rio São Francisco: diretrizes para a elaboração de um plano diretor da Bacia”, com Augusto César Soares, analista de desenvolvimento Ruralminas; “O Rio São Francisco como eixo hidroviário para o Nordeste”, com a doutora Gertrudes Nadler Lins; “As mudanças climáticas e os efeitos na Bacia do Rio São Francisco”, com Luiz Carlos Baldicero, professor do Instituto de Ciências Atmosférica (ICAT) da Universidade Federal de Alagoas.
A programação encerra na sexta-feira (04.03) com uma visita técnica à Usina Hidrelétrica de Sobradinho.
Ondine Bezerra
Assessoria de Comunicação do Confea
No foco da discussão o “Velho Chico”, um rio que ao longo da sua bacia, que banha 504 municípios, vem sendo atingido por poluição, assoreamento e muita degradação. Sua importância para o crescimento das áreas banhadas por suas águas é inegável, por isso, profissionais da área tecnológica estão reunidos em Petrolina até amanhã (sexta-feira, 04) para discutir os impactos e as condições atuais de um rio considerado como o rio da integração nacional.
A degradação ambiental é o que mais preocupa, pois mais de 15 milhões de toneladas de areia vão para calha do Rio anualmente, reduzindo a navegabilidade, a atividade econômica ao longo da sua bacia, a produção de alimentos. Esse assoreamento é resultante, também, da destruição de 95% da sua mata ciliar, que virou carvão.
Ao falar sobre a necessidade de revitalização do Rio São Francisco, Marcos Túlio de Melo, presidente do Confea, defendeu que o “desenvolvimento brasileiro que queremos não é apenas aquele que tivemos num passado recente, mas sim aquele com uma visão integrada, onde a cultura, a economia, a responsabilidade ambiental e social também assumem o papel de vetores do crescimento”.
Ele ainda defendeu que é preciso entender o conjunto da sua bacia, além da calha principal. “O que acontece hoje inicia em cada um desses 504 municípios, pois essas ações cairão na calha principal. Temos que ter um programa de saneamento onde todo o esgoto produzido seja recolhido, tratado e, principalmente, não seja lançado no rio”, defendeu, propondo que na Carta do São Francisco, documento que conterá os pontos debatidos no evento, conste uma proposta completa.
“O Brasil precisa investir R$ 20 bilhões por ano, nos próximos 10 anos, para recuperar o passivo em saneamento. É uma meta para 2030, momento em que queremos alcançar o tratamento completo do esgoto no país”, lembrou Marcos Túlio.
“O rio precisa voltar a ser o vetor de desenvolvimento que foi no passado. Mas, não há como discutir desenvolvimento sustentável sem discutir o semi-árido, sem a participação pró-ativa da sociedade, que precisa contribuir nesse processo de revitalização vigoroso, como uma rede de integração social”, afirmou Jonas Dantas, presidente do Crea-BA e ex-coordenador do Colégio de Presidentes do Sistema Confea/Crea.
Para o presidente do Crea-PE, José Mário Cavalcanti, a “história do ‘Velho Chico’ tem sido a história do sofrimento de um rio que ao longo da sua existência, mais de 500 anos, é fonte de riqueza, mas é alvo de destruição. Um rio que nasce na Serra da Canastra, tem 640 mil km2 e banha cinco estados brasileiros, com forte importância regional e desempenha um importante papel na ocupação do nosso território, precisa ser cuidado”, defendeu.
Palestra – “O Modelo institucional para a entidade delegada a operar e manter a infraestrutura hídrica do projeto de transposição das águas do Rio São Francisco” foi o tema da primeira palestra do encontro, nesta quarta-feira (02.02), sendo apresentada por Francisco Lopes Viana, superintendente da Agência Nacional das Águas (ANA).
“A nossa principal preocupação agora é sobre como será gerida essa infraestrutura hídrica criada com a transposição. Será um complexo sistema de integração, com grandes reservatórios que demandam água, o que impõe a necessidade de os estados se organizarem para buscar uma gestão equilibrada”, ressaltou, lembrando que a vazão será de 26m3 por segundo.
O palestrante lembrou que, de acordo com o projeto inicial, há a necessidade de criação de um órgão gestor. “E é isso que estamos cobrando. A ANA vai regular o que precisa ser regulado, cobrando a existência de um sistema de garantias que funcione, como o menor risco político, inclusive”.
Francisco ainda falou sobre quatro experiências brasileiras com transposição: do Rio Paraíba do Sul (Barra do Piraí-RJ); Bacia do Rio Piracicaba (São Paulo) e o Rio Jaguaribe (Ceará) e o Rio São Francisco. A primeira delas, realizada a partir de 1952, foi no Rio Paraíba do Sul, tendo a cidade do Rio de Janeiro como a grande usuária de suas águas, com o abastecimento atual de 8 milhões de pessoas. A vazão, reduzida ao longo do tempo, hoje é de 119m3 por segundo, mantendo o sistema de abastecimento, mas reduzindo a produção de energia.
O segundo exemplo citado foi de São Paulo, com as águas que saem do manancial da Cantareira, formando um importante sistema de transposição que permite o abastecimento de 50% da grande São Paulo. A Região Metropolitana de São Paulo ainda dispõe de mais sete mananciais: Alto Tietê; Rio Claro; Rio Grande; Guarapiranga; Alto Cotia; Baixo Cotia e Ribeirão Estiva.
O terceiro modelo foi adotado em Fortaleza, com a transposição, em 2003, feita entre rios intermitentes, tendo como principal afluente o Rio Jaguaribe, permitindo uma vazão de 6m3 por segundo. Ainda no Ceará será feita a transposição do Açude do Castanhão – um grande reservatório com 6 milhões de m3 de água, o que permitirá uma vazão de 23 m3/segundo e o abastecimento de 2.750.000 pessoas na Região Metropolitana de Fortaleza.
O Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF), segundo Francisco Viana, será realizado nos eixos norte (estados de PE, PB, CE e RN) e leste ( estados de PE e PB), envolverá vários rios, como Jaguaribe, Apodi, Piranhas-Açu, Paraíba – e de rios afluentes do próprio rio São Francisco – Brígida, Terra Nova, Pajeú e Moxotó (além de atendimento a demandas urbanas em outras bacias – Capibaribe, Ipojuca, Mundaú e Una). “Esse projeto vem sendo pensado, debatido e proposto em vários momentos da história do Rio, tendo seu registro mais antigo datado de 1860”.
Na mesa de abertura do evento também estavam presentes Geraldo Coelho, ex-deputado estadual por Pernambuco; Armando Ferreira, presidente da Assea – Associação dos Engenheiros, Arquitetos, Agrônomos, Tecnólogos e Técnicos do Médio São Francisco; Urbano Costa, inspetor do Crea-PE em Petrolina; Aloísio Ferreira, presidente do Crea-AL; Geraldo Júnior, secretário de Urbanismo, Planejamento e Meio Ambiente de Petrolina.
Na programação de hoje (03/03) palestras sobre: “A degradação ambiental do Rio São Francisco: diretrizes para a elaboração de um plano diretor da Bacia”, com Augusto César Soares, analista de desenvolvimento Ruralminas; “O Rio São Francisco como eixo hidroviário para o Nordeste”, com a doutora Gertrudes Nadler Lins; “As mudanças climáticas e os efeitos na Bacia do Rio São Francisco”, com Luiz Carlos Baldicero, professor do Instituto de Ciências Atmosférica (ICAT) da Universidade Federal de Alagoas.
A programação encerra na sexta-feira (04.03) com uma visita técnica à Usina Hidrelétrica de Sobradinho.
Ondine Bezerra
Assessoria de Comunicação do Confea