Brasília, 8 de novembro de 2006
“Estamos nos transformando em um país de vontade fraca, que não encara seus desafios no nível em que eles se colocam”. A afirmação é do economista e cientista político César Benjamin, que ministrou uma palestra hoje, 8 de novembro, no Plenário do Confea. Participaram presidentes de Creas, conselheiros federais, além de representantes de entidades nacionais e regionais ligadas ao Sistema, lideranças que estiveram reunidas em Brasília para trabalhar pela agenda parlamentar prioritária, no Congresso Nacional.
Conforme o presidente do Confea, eng. civil Marcos Túlio de Melo, que abriu o evento e participou dele, César Benjamin deverá ser consultor do projeto “Pensar o Brasil, Construir o Futuro da Nação”. Trata-se de uma iniciativa que visa inserir a área tecnológica no debate e construção de um projeto de desenvolvimento sustentável para o país. “É preciso superar os limites do atual sistema político e impor esse debate”, afirmou Benjamin.
Para oferecer uma avaliação de conjuntura, ele usou três exemplos, resultado de sua percepção da última campanha presidencial, em que foi candidato à vice-presidência na chapa da senadora Heloísa Helena (PSOL). Sobre a questão do emprego, Benjamin constatou que 90% dos postos gerados nos últimos seis anos foram de domésticos, vigilantes, balconistas e moto boys. “Nesse período de tempo, a economia não gerou nenhum emprego com renda superior a três salários mínimos”, ressaltou o economista.
Para ele, o que torna a situação um macro-problema é que o Estado não tem buscado soluções de longo prazo para a questão. “O que se propõe são atalhos, como o programa bolsa família. Independentemente de seus méritos, ele não encara a questão onde ela realmente está. Os problemas da nação não são a soma de problemas individuais, a construção de um projeto nacional é qualitativamente diferente disso”, ponderou.
A análise da conjuntura de outras questões abordadas por Benjamin, como infra-estrutura e educação levam para esse mesmo pano de fundo: as respostas que o Brasil está buscando estão muito aquém do que o país precisa para se colocar no cenário político. É nesse contexto que ele considera fundamental a participação da área tecnológica no debate de um projeto de desenvolvimento.
O primeiro grande desafio, para ele, é tirar dos economistas o monopólio do discurso e recolocar em pautas questões fundamentais de infra-estrutura, com soluções de longo prazo. “Estamos inseridos em um mundo que cresce, por ano, duas vezes mais do que crescemos e que muda muito mais do que mudamos. É preciso retomar a capacidade de enfrentar os desafios no nível em que eles estão colocados para deixarmos de ser um país de vontade fraca”, concluiu Benjamin.
Saiba mais sobre o Palestrante - César Benjamin foi membro da Organização Marxista Política Operária (POLOP). Na época da ditadura foi preso, exilado e posteriormente anistiado. É um dos fundadores do PT, coordenador das duas primeiras campanhas de Lula em 1989 e 1994. Saiu do PT em 1995.
É autor de dezenas de artigos publicados no Brasil e no exterior e dos livros "E o sertão, de todo, se impropriou à vida: um estudo sobre a seca no Nordeste" (Petrópolis, Vozes, 1985, em colaboração com Sérgio Goes de Paula); "Diálogo sobre ecologia, ciência e política" (Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1992, terceira edição); "A opção brasileira" (Rio de Janeiro, Contraponto, 1998, nona edição) e "Bom Combate" (Rio de Janeiro, Contraponto, 2004).
Escreve regularmente na revista Caros Amigos. Trabalhou na Fundação Getúlio Vargas, na Escola Nacional de Saúde Pública, na Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, na Prefeitura do Rio de Janeiro e na Editora Nova Fronteira.
Deu cursos regulares em história do pensamento econômico, macroeconomia, economia brasileira, jornalismo científico, meio ambiente e ciências sociais em universidades e empresas. É doutor honoris causa pela Universidade Bicentenária de Aragua, Venezuela. É membro do Movimento Consulta Popular.
Por Mariana Zanatta
Equipe de Comunicação do Confea
