Ex-ministro da agricultura defende ciência e tecnologia para o campo

Brasília (DF), 27 de outubro de 2006

O Plenário do Confea assistiu nesta sexta-feira, 27 de outubro, durante sua 1336ª Reunião Plenária, a uma palestra do eng. agr. Alysson Paolinelli, ex-ministro da Agricultura. Ele fez parte da equipe de governo do presidente Ernesto Geisel, caracterizado pelo período da ditadura militar, mas também pelo chamado “milagre econômico brasileiro”. Paolinelli falou sobre o desenvolvimento da agricultura nacional, potencializado, segundo ele, pelo notável avanço da engenharia agronômica do país.

O ex-ministro analisou as ações e políticas públicas para o setor ao longo dos últimos 40 anos ressaltando que, do início da mecanização agrícola até os dias de hoje, o país convive com o que chamou de ironia perversa. “O país bate sucessivos recordes de safra, mas ainda não é capaz de alimentar todo seu povo”, afirmou.

De fato, os números oficiais apontam para esta discrepância. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a produção nacional de cereais, leguminosas e oleaginosas, que respondem pela grande maioria do solo cultivado brasileiro, é estimada em 127,612 milhões de toneladas para 2006, superior em 13,22% à obtida em 2005 (112,715 milhões de toneladas). Por outro lado, o próprio IBGE, em sua mais recente Pesquisa Nacional de Amostra por Domicílio (PNAD), demonstra que cerca de 35% da população convive com situação leve, moderada ou grave de insegurança alimentar. Significa que há 18 milhões de brasileiros comendo pouco, mal ou quase nada.

Embrapa - O eng. agrônomo aproveitou, também, para analisar a situação da Embrapa, segundo ele a principal responsável pelo salto de qualidade e tecnologia na produção agropecuária das últimas décadas. A empresa foi criada em 26 de abril de 1973 e é uma das maiores instituições fomentadoras de pesquisa do mundo tropical. Apesar disso, Paolinelli critica uma suposta falta de prioridade dada à estatal. “A Embrapa perdeu, nesses 33 anos, muito de sua fatia de investimentos por parte do governo. Hoje, ela recebe cerca de 15% do que era investido em 1974. Sem dinheiro, este que é um dos grandes orgulhos nacionais, não pode ter autonomia financeira nem administrativa”, lamentou.

Por fim, o ex-ministro fez uma defesa incondicional da ciência e tecnologia como solução tanto para a questão da segurança alimentar do brasileiro, como para o incremento da produção para fins de exportação e abertura de novas fronteiras agrícolas. Mesmo considerando os anos 1990 como década perdida para a agricultura, lança olhar otimista para o futuro. “Hoje se diz que o crescimento da produção está ancorado na destruição de nossos recursos naturais. Não é verdade. Hoje o mundo tem fome de comida, mas também de energia limpa, e só o Brasil reúne condições de liderança mundial nesse campo”, argumentou. E continuou, em tom, ao mesmo tempo de convite e desafio ao Plenário do Confea: “Estou aqui, em frente a conselheiros federais que integram a elite pensante nacional. Ou nós tomamos posição clara em defesa do conhecimento, da ciência e da tecnologia, ou corremos o risco de condenar o país ao retrocesso”.

Sandro Farias
GCO/Confea