Painel discute importância estratégica do conhecimento

Maceió, 23 de agosto de 2006

A inovação tecnológica teve todo o reconhecimento de sua importância na manhã de hoje (23/08) na 63ª Semana Oficial da Engenharia, Arquitetura e Agronomia (SOEAA), em painel que tratou também da produção de conhecimento científico. E que foi coordenado pelo eng. Carlos Couto da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), empresa pública ligada ao Ministério de Ciência e Tecnologia.

Couto explicou que a Finep é a “Casa da Inovação” e que a financiadora investiu recentemente R$ 40 milhões no Programa de Mobilização e Valorização da Engenharia (Promove). Ele fez questão de ressaltar que o processo de inovação ocorre sempre dentro das empresas porque são elas que possuem conhecimento de mercado. “A participação das universidades e dos institutos é importante para apoiar as empresas nos seus processos de inovação”, disse.

O eng. Allen Habert, da Federação Nacional dos Engenheiros (FNA), disse que hoje o Brasil vive um momento propício para dar um salto qualitativo de grande importância. Lembrou que os analistas internacionais dividem os países em três blocos: os que fazem tecnologia, que envolve a América do Norte, principalmente, Estados Unidos e Canadá; parte da Europa e parte da Ásia; os que usam tecnologia, bloco do qual faz parte o Brasil; e os que não geram e nem usam e só produzem matéria-prima. “Estes estão fora do poder”, constatou.

Habert enfatizou que o Brasil tem cerca de um milhão de profissionais na área tecnológica e que o grande problema do mundo no momento, fora a violência, é o desemprego. “A tarefa do engenheiro é gerar emprego”.Ele é forjado para transformar a natureza, transformar a vida das “pessoas”, ressaltou.

O engenheiro falou sobre ações que deram certo no Brasil e titulou este século como o das revoluções quântica, biomolecular e da informática. Concluiu que para o avanço e geração de empregos necessários, o Brasil tem que aumentar sua produtividade e sua competitividade. “E isso se faz com a engenharia. Temos um bom desafio: por o analfabeto tecnológico dentro da escola e romper com a situação de escolas fora da realidade de mercado”, finalizou.

Evandro Mirra de Paula e Silva, diretor de inovação da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial, reforçou que o conhecimento é a nova forma de riquezas das nações. “Inovação responde por metade do PIB nos países avançados. Hoje é regra e não exceção como nos anos mais conservadores”, disse.

Evandro concordou com o coordenador da mesa no que se refere à inovação nasce dentro das empresas, porém ressaltou que ela é uma mistura, que envolve também principalmente a capacidade de pesquisa do país. “Inovação mobiliza centros de pesquisa, universidades, agências de governo, instituições financeiras e opinião pública”, explicou.

O diretor de inovação da ABDI informou que hoje o Brasil conseguiu competência no formar recursos humanos. “O país já conta com 10 mil doutores e 20 mil mestres. Ainda sub aproveitados, mas já com significativa articulação no mercado. Já nos encontramos entre os 15 produtores de conhecimento do mundo. Das 198 nações, o Brasil é a terceira em volume e velocidade de crescimento nessa produção. Estamos atrás somente da China e da Coréia”, comemorou.

Lynaldo Cavalcanti, secretário executivo da Associação Brasileira de Institutos de Pesquisa (ABITI) ressaltou a importância dos institutos no processo de geração de conhecimento.
Contraponto - Apesar das boas notícias anunciadas pelos palestrantes anteriores, o eng. Bautista Vidal, presidente do Instituto do Sol, disse que o Brasil vive um momento perigoso.

Para ele o que hoje ainda se comemora é resultado de ações do passado. “Estamos vivendo de melancolia, como se o país estivesse decadente. Nada está sendo feito agora. O que se fala é só de mensalão, quando o país tem tudo para dar um grande salto. Nos últimos dez anos entregamos um trilhão e novecentos bilhões aos banqueiros internacionais para pagar uma dívida, sobre a qual nunca houve uma auditoria, nuca a questionamos”, desabafou.

Para Vidal o momento é favorável para uma virada e quem deve liderar este processo são os engenheiros. “Mas nada está sendo feito neste sentido. Nossa categoria tem que assumir a posição de contestação”, desafiou, dizendo sobre o Brasil: “nossa geografia é apoteótica, mas nossa história é medíocre. O mundo está esperando que o Brasil apareça. Tudo que se refere à riqueza natural existe aqui, mas não aproveitamos”.

Levando em conta sua condição de físico Vidal lembrou que energia é a força que transforma os bens e que é um potencial absolutamente decisivo e o Brasil a tem de várias fontes. “Mas está faltando mobilização, consciência, retomada de luta, estratégia”, insistiu. E por final alertou que quem vai arcar com as conseqüências dessa situação de inércia pela qual passa o país “são nossos filhos”.

Bety Rita Ramos
Da equipe da ACOM