Governo, estudantes e pesquisadores defendem integração científica latino-americana

Brasília (DF), 28.02.2005

São Paulo - A integração científica e tecnológica da América Latina está na pauta de prioridades do governo federal garantiu César Callegari, coordenador regional do Ministério de Ciência e Tecnologia em São Paulo, em debate com estudantes pesquisadores latino-americanos e caribenhos, na noite de ontem, na capital paulista.

Callegari enumerou os programas de governo voltados para a cooperação científica regional, ressaltou que é uma área extremamente "fecunda", mas fez um alerta: "É fundamental que a gente desenvolva também programas na área de educação para a produção e difusão do conhecimento científico."

Callegari lembrou que 40% dos estudantes brasileiros que freqüentam escolas públicas de nível médio "jamais ouvirão falar de Isaac Newton" pois nunca terão aulas de química ou física. "Além das possibilidades de cooperação para estratégias, é importante implementar medidas que nos permitam superar problemas básicos como a educação", opinou.

Ênio Candotti, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência - SBPC chamou atenção para a diversidade de culturas e ecossistemas desta enorme extensão de terras que é a América Latina. "É preciso reconhecer que vivemos num território de enorme valor científico, um laboratório único no mundo, e precisamos conhecê-lo", afirmou. "Na Amazônia precisamos de 10 mil jovens pesquisadores, na Colômbia de cinco mil, na Venezuela outros cinco mil e assim por diante", disse Candotti.

No entanto, a exemplo de Callegari, o presidente da SBPC alertou para a necessidade de qualificação do ensino como caminho para a integração regional na área científica. Na sua opinião, isto deve ser feito a partir do desenvolvimento de uma cultura comum. "Sabemos mais de Luís XIX, do Egito e da história da Inglaterra do que dos povos incas, da cabanagem, da Revolução Farroupilha", afirmou.

Candotti acredita que para a ciência crescer regionalmente é preciso que os povos latino-americanos voltem o olhar para sua história."O mote Soy loco por ti América, dos anos 60, voltou a ser entoado aqui. Se somos locos por la América, vamos estudá-la. É a melhor maneira de lembrar e honrar todos aqueles que deram a vida por uma América unida e fervilhante".

A qualidade do ensino de pós-graduação foi questionada pelo presidente da Associação Nacional de Pós-graduandos, Luciano Rezende. Ele lembrou que em 1986 o Brasil titulou 6.321 mestres e 800 doutores. Em 2004, foram titulados 27 mil mestres e 8.014 doutores em dois mil programas de pós-graduação em todo o país.

"Houve uma expansão muito grande que não foi acompanhada de qualidade", disse Rezende. Segundo ele isto se explica, em parte, porque o volume de bolsas não cresceu na mesma proporção: em 86 todos os mestrandos eram contemplados com bolsas de estudo; em 2004, apenas 17% de mestrandos e 30% dos doutorandos receberam bolsa para dedicação à pesquisa.

Rezende acredita que a desvalorização dos pesquisadores é um "legado" dos oito anos de governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. "O pensamento era de que o Brasil e outros países periféricos não precisam produzir ciência porque alguns países centrais produzem e distribuem. Isso é uma falácia, uma miopia política. Temos convicção de que o Brasil é uma potência científico-tecnológica", afirmou, mencionando projetos como o programa espacial brasileiro e o programa nuclear da Marinha.

O presidente da ANPG elogiou iniciativas do atual governo, como o reajuste do valor das bolsas, a criação de um programa de bolsas de iniciação científica para nível médio e o Plano Nacional de Pós Graduação - PNPG, que apontou debilidades, rumos e desafios da pós no Brasil. "O caminho está em nosso continente", concluiu.


Mylena Fiori
Repórter da Agência Brasil