Entrevista: Engenheiros Sem Fronteiras no V FSM

"Simon Godefron"
A oficina “Tecnologias e Inclusão Social”, que tratou do assunto engenharia e arquitetura públicas, organizada pelo Confea dentro da programação do V Fórum Social Mundial, foi marcada por reencontros de profissionais militantes da causa da moradia para as pessoas de baixa renda. O engenheiro francês Simon Godefron e a engenheira brasileira Elequicina dos Santos, presidente do Crea-RN, Conselho Regional que possui uma das mais bem sucedidas práticas de engenharia e arquitetura públicas. Os dois se conheceram na oficina sobre o mesmo assunto, no IV FSM, realizado em 2004 na Índia. Aproveitamos a oportunidade e conversamos com Godefron sobre as experiências francesas nessa área. Acompanhe:

Confea  O que o traz ao Fórum?
Godefron -
Represento uma entidade que mobiliza engenheiros em torno de projetos de solidariedade internacional a cidades, estados e/ou países que necessitam de auxílio técnico (orientação) para a construção de moradias que tragam dignidade às pessoas mais pobres. O FSM é uma oportunidade de troca de experiências que podem melhorar nossa atuação. Minha entidade se chama Engenheiros Sem Fronteiras (ISF- France).

Confea - Como são realizadas as ações da ISF?
Godefron 
Nossas ações são centradas em cima da responsabilidade social. Atuamos, por exemplo, nas antigas colônias francesas da África do Sul. Trabalhamos em parceria com ONGs auxiliando as populações mais pobres na construção ou reconstrução de suas casas. Fazemos intervenções pontuais. O trabalho é voluntário.

Confea  Além da África do Sul você pode citar outro exemplo do trabalho da entidade?
Godefron 
Temos em execução um trabalho com os agricultores do sul da França. Trabalhamos dentro do conceito que o engenheiro é um transformador social. Hoje, temos 40 projetos em execução, envolvendo 900 profissionais na França.

Confea  Em quais países é possível encontrar o movimento?
Godefron -
Os Engenheiros sem Fronteiras existes também na Espanha, Itália, Canadá, entre outros países. Mas a atuação de cada entidade no seu país é independente, o que é comum é só o princípio da solidariedade. Na França, existimos desde 1982. Na Espanha, desde 1991 e na Itália, desde 1994.

Confea  Existe algum trabalho de conscientização para a solidariedade junto aos profissionais?
Godefron 
Sim, trabalhamos muito a questão da ética. Dentro das empresas eles são orientados e incentivados a só pensarem no mercado e no lucro financeiro. Postura que muitas vezes atropela os direitos humanos. Na França não existe um Código de Ética elaborado pelos profissionais. O atual foi feito pelos empresários. São códigos das empresas, voltados para os interesses delas.  Nossa proposta é que seja criado um Código de Ética Internacional dos Engenheiros.

Confea  E a questão das diferenças culturaIs, como ficariam num código internacional?
Godefron 
Nossa objetivo com essa proposta é integrar os engenheiros da sociedade civil mundial. Acreditamos que os pontos gerais da ética podem sim, ser internacionais. Porém, cada entidade representativa de país permanece com seu próprio código. Os engenheiros já disponibilizaram as plantas de mega edifícios, os mecanismos geneticamente modificados... Enfim, várias tecnologias sob a ótica das empresas e atendendo aos interesses delas. Nunca sob a ótica da sociedade. Podemos discutir isso num texto internacional sobre ética.

Confea  Como funciona a regulamentação profissional na França?
Godefron 
Não existe. Um dos nossos objetivos no Fórum é conhecer as experiências dos outros países. A do Brasil nos interessa muito. Hoje, estamos discutindo na França que tipo de organismo pode fiscalizar que o trabalho do engenheiro seja, efetivamente, voltado para a sociedade.

Bety Rita Ramos
Assessora de Comunicação