Conferência aponta novos perfis profissionais

São Luís (MA), quarta-feira, 1 de dezembro de 2004.

A experiência do Planejamento Estratégico da Escola Politécnica da USP - Programa Poli 2015 foi o principal assunto da 1ª Conferência da 61ª Semana Oficial da Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia - SOEAA. A conferência "Os Cenários de Futuro e os Novos Perfis Profissionais", realizada na tarde de quarta-feira (1/12), foi aberta pelo presidente do Crea-MA, eng. civil José Pinheiro Marques.

A primeira palestrante foi a eng. civil Eliane Monetti, mestre e doutora em Gerenciamento na Construção Civil na Escola Politécnica da Universidade São Paulo, que falou sobre a reestruturação administrativa e estratégica da instituição, que completou 110 anos em 2004, na busca de respostas para questões tais como deverá ser o futuro profissional ou que escola se espera ter em 2015.

A resposta parece ter sido buscada por um grupo de estudos formado por 115 pessoas, entre alunos, ex-alunos, reitores de outras universidades e professores, que identificaram como principais características do novo profissional a competitividade nos relacionamentos humanos e de comunicação, uma inquestionável postura ética com o Brasil, empreendedores ao ponto de serem líderes no que estaria sendo decidido em nome da engenharia nacional e uma visão de sustentabilidade e respeito às gerações que estarão chegando.

Para alcançar este perfil, a Escola oferece atualmente alguns projetos, como o desenvolvimento do Centro Minerva de Empreendedorismo, onde os alunos desenvolvem atividades diferentes, enfrentando situações de risco e que exijam liderança, principalmente na montagem e administração de empresas na área tecnológica. Outra novidade na formação profissional é o Policidadão, onde são buscadas demandas específicas da sociedade que orientam os projetos de conclusão dos alunos da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Um exemplo recente foi o projeto de elevadores domésticos para pessoas portadoras de necessidades especiais, criado por um formando.

A integração dos alunos em projetos e atividades extra-curriculares, convênios com diversas escolas da Europa e aprendizado internacional através de intercâmbios e conseqüente registro de formação reconhecidos nos países envolvidos são também atividades incentivadas pela nova organização estratégica da Universidade paulista. "Estamos constantemente reavaliando nosso currículo, as demandas da sociedade em relação aos profissionais que formamos estão sempre mudando, assim como ficam obsoletas as especialidades que estudamos 'ontem'. Na Escola Politécnica, tentamos formar um aluno com capacidades multidisciplinares, educado de forma mais abrangente, deixando que cada um se responsabilize pela complementação de seu currículo", afirma a mestre e doutora Monetti.

A experiência do Poli 2015

O consultor empresarial que faz parte do grupo que desenvolve o Programa Poli 2015, Eng. de Produção Reinaldo Yonamine, falou sobre a experiência do processo de mapeamento de competências, que vem sendo realizada desde 2002 pela Escola Politécnica da USP.

Segundo ele, o mapeamento, que visa fornecer bagagem para o auto-conhecimento, também vem provocando transformações nas áreas estrutural, estratégica e na cultura da organização.

"O modelo de gestão de competência adotado pela escola está fundamentado em três eixos principais: conhecimento, capacidade e atitude e disposição para fazer. A nossa proposta é promover auto-conhecimento e orientação para o desenvolvimento profissional", explicou.

O consultor informou que o projeto, já aplicado em três turmas de formandos com sucesso, mapeia 20 competências essenciais ligadas a resultado, como aspectos ligados a planejamento, criatividade, organização e comunicação e a relacionamento, interpretadas por questões de controle emocional, sociabilidade e disposição para mudanças.

"O Programa nos permitiu detectar, por exemplo, que a Escola Politécnica da USP não vinha preparando os alunos para a competência do empreendedorismo, considerada importantíssima para o novo perfil profissional", depôs.

Educação e Processo Seletivo

A eng. civil Eliane Monetti destacou a importância dos programas de educação continuada para a reciclagem profissional. Segundo ela, a participação dos Creas como parceiros nessas atividades conduzidas pelas escolas é fundamental para o aperfeiçoamento dos profissionais.

Sobre as mudanças que poderão ocorrer na Resolução 218/73 do Confea, a opinião de Monetti é de que as duas instituições - a universidade que forma e o Crea que habilita e reconhece o profissional - devem discutir juntas o assunto. "O importante é que temos que dar mais flexibilidade aos engenheiros e arquitetos e engessar menos essas profissões. A multidisciplinariedade tem aparecido de forma cada vez mais intensa no mercado de trabalho".

A engenheira também fez uma avaliação dos processos seletivos para ingresso nas universidades. Segundo ela, há necessidade de se criar novos quesitos nos vestibulares. "Do ponto de vista curricular, a previsão é de que as universidades vão se moldando e se adaptando na medida em que vão surgindo novas demandas. Criar novos cursos é natural. O que é necessário é ter flexibilidade interna da escola. O aluno precisa desenhar o curso dele, com as ênfases de que ele necessita", disse.

Sobre a evasão escolar, Monetti explicou que no caso da Escola Politécnica da USP, ela ocorre de maneira intensa no ciclo básico, ou seja, no primeiro ano dos cursos. De acordo com ela, isso ocorre devido ao grande número de alunos que decidem fazer vestibulares em várias instituições de ensino e precisam optar por uma delas. Na Politécnica o índice de evasão escolar já chegou a 25% no período básico. "Acho que esse é um problema sério e precisamos mudar essa situação, principalmente pelo fato de nossa escola ser uma instituição pública", finalizou.

Alcione Vazzoler - Da Assessoria da Soeaa