Porto Alegre (RS), terça-feira, 28 de janeiro de 2003. Da década de 80 pra cá ocorreram mudanças nos conceitos que definem a problemática dos portadores de deficiência. Mudanças que implicam na questão cultural. Segundo a arquiteta Sandra Fagundes Fernandino, especialista do Ministério Público de Minas Gerais, até 1980 se falava em: integração, tratamento e reabilitação, esforço pessoal e unilateral, adaptação pontual, sociedade imutável. A partir de então, os termos se transformaram em: inclusão, modelo social de deficiência, equiparação de oportunidades, esforço coletivo bilateral, adequação, mudança estrutural e administrativa, inserção total e incondicional.As colocações da arquiteta fizeram parte da palestra realizada durante a oficina "Sensibilidade e Acessibilidade, um outro Mundo com Inclusão é Possível", realizada pelo Sistema Confea/Crea em parceria com a Mútua e as Entidades Nacionais no III Fórum Social Mundial, em Porto Alegre. O evento reuniu dezenas de profissionais, portadores de deficiência, estudantes e vários outros atores sociais interessados nessa problemática. Foi coordenado pelo Conselheiro Federal, arquiteto Itamar Kalil.Sandra Fernandino explicou que este novo paradigma se refere a uma sociedade inclusiva, planejada para a diversidade, portanto com acessibilidade a todos. De acordo ele a deficiência física é resultante do desajuste entre as características físicas e o meio, e este último é que tem que ser adaptado.Na mesma linha de pensamento, o arquiteto José Antônio Lanchotti, membro da Corde (Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência) falou sobre a capacitação técnica para acessibilidade ao meio físico e sobre as barreiras arquitetônicas e a cidade. Sua palestra teve o objetivo de despertar os profissionais, ligados à elaboração e execução de projetos, para as dificuldades de acesso, levando em conta, entre outras cosias, que nenhum modelo de cidade é igual a outro.Mitos e realidades - A coordenadora do programa de capacitação da Fundação Municipal Francisco de Paula, Ethel Rossenfeld, deficiente visual, que tem como olhos o cachorro labrador Jan, enfatizou os mitos e realidades sobre as pessoas com deficiência, levantando questionamentos sobre o que é ser deficiente. "Quem é deficiente, as pessoas ou a sociedade?", provocou."Deficiência não é doença, é geralmente seqüela de uma doença e não modifica o ser humano em sua essência, apenas o limita em alguns aspectos", fez questão de ressaltar, endossando as palavras da coordenadora da Corde, ditas no início da oficina.Rossenfeld encerrou sua palestra lembrando que os deficientes são diferentes e os espaço não podem ser iguais. Foi mais fundo ainda, lembrando que um espaço adaptado para um cadeirante não é adequado para um deficiente visual. "Para superar os preconceitos é indispensável esclarecer e envolver a sociedade. O convívio humano é mais importante que o próprio viver. É necessária uma consciência única que o país, que o mundo é para todos", disse. Bety Rita Ramos - Da equipe da ACS
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