Brasília, quarta-feira, 17 de setembro de 2003. Como um país com uma engenharia tão sofisticada como a do Brasil é tão pobre socialmente? Com essa indagação, o ministro da Educação, Cristovam Buarque, iniciou a teleconferência promovida hoje pela manhã pelo Confea e transmitida para todo o país através dos canais da Dtcom, especialmente para os participantes do XXXI Cobenge (Congresso Brasileiro de Ensino de Engenharia), que acontece no hotel Glória, Rio de Janeiro. Para o ministro, a resposta está na certeza de que "ao contrário do que pensávamos, uma economia fortalecida não é garantia de melhoria na educação. Assim como mais riqueza não significa mais educação para todos, em função da concentração de renda".Cristovam afirmou que "no Brasil a escola desune a educação e que uma criança brasileira é mais ou menos educada, dependendo da região onde tenha nascido e estudado. Hoje 59% dos alunos de 4ª e 5ª séries não sabem ler e possivelmente abandonarão a escola". A raiz do problema está, segundo o ministro, na "falta de interesse das universidades pelo ensino básico. As instituições de ensino superior não estão preocupadas em saber como o trabalho do pedagogo vai se refletir na criança". O ministro disse que a "federalização das escolas, respeitando as características regionais, pode ser um caminho para a mudança desse cenário".Com o tema "O novo modelo de desenvolvimento brasileiro e o ensino da Engenharia", Cristovam Buarque defendeu a figura do "alfabetizador" que, segundo ele, pode ser o estudante universitário, de qualquer área. Só com o esforço de todos diminuiremos o número de adultos analfabetos". O ministro chegou inclusive a sugerir para o presidente do Confea, Wilson Lang, que intermediou a teleconferência, a criação de um convênio entre o Mec e o conselho, que estabelecesse que o aluno de engenharia, sendo um alfabetizador, poderia ganhar créditos. Só assim, com um alfabetizado ensinando a quem não sabe ler e escrever, conseguiremos acabar com o analfabetismo, como quer o presidente Lula".Lang respondeu imediatamente que está aberto a discutir a proposta, lembrando que o Sistema Confea/Crea através de programas como o de Engenharia, Arquitetura e Agronomia Públicas, e do projeto que leva o título de Inserção da comunidade tecnológica no combate à fome e à pobreza, já realiza um trabalho social de larga escala e que deve ser aumentado, se a idéia do ministro for levada adiante.Perguntas feitas ao ministro através do e-mail e fax disponibilizados para isso, vieram de todo o país, do Rio Grande do Norte a Taubaté (SP). Entre elas, o interesse em saber como o governo pensa administrar os processos de formação com o conhecimento que duplicou nos últimos cinco anos."Investindo mais nas escolas de engenharia, respondeu o ministro, lembrando dos programas desenvolvidos pela Capes e CNPq. Nosso desafio é fazer com que a tecnologia de ponta chegue na escola básica, esse é o caminho", disse.Questionado sobre a duração de cinco anos dos cursos de engenharia, Cristovam deixou questão em aberto. Para ele, talvez não sejam cinco, mas três ou mesmo sete, os anos necessários para isso e que é a sociedade quem deve discutir com educadores sobre isso.Sobre educação à distância, o ministro afirma que "esse é o futuro do ensino como método universal". Para ele, a educação é um processo contínuo e permanente e a formação à distância é a maneira de se alcançar um número cada vez maior de pessoas". Maria Helena de Carvalho - Da equipe da ACS
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