Mercado de data center em ascensão abre portas para engenheiros

Brasília, 18 de abril de 2024.

É um desafio achar algo do dia a dia que não tenha um data center envolvido. Ao acordar e pegar o celular, você já recebe notificações e e-mails. Ao longo do dia, você usa GPS para dirigir ou aplicativo de transporte para ir ao trabalho. Transações financeiras com cartão de crédito e PIX também colocam essa infraestrutura em ação, da mesma forma quando você posta nas redes sociais ou assiste a seriados. E, se você faz algum tipo de trabalho remoto, saiba que sem uma central de processamento de dados isso não seria possível.

Essas soluções digitais geram uma avalanche de dados que precisam ser processados, armazenados, tratados e distribuídos por segundos, o que acontece em ambientes conhecidos como data centers. Até 2030, estima-se que o volume global de dados alcance incríveis 600 trilhões de gigabytes. Para acompanhar essa tendência, empresas e governos demandam, cada vez mais, infraestrutura robusta e profissionais altamente capacitados. É nesse contexto que entram os engenheiros responsáveis por garantir o funcionamento contínuo dos data centers, mantendo velocidade, conexão e segurança em níveis confiáveis.

As oportunidades são inúmeras para esses profissionais, como conta Alexandre Kontoyanis, engenheiro mecânico com mais de 12 anos de experiência nas áreas de operação e manutenção de data center. “O setor é extremamente carente com relação à mão de obra qualificada. Em praticamente todo congresso especializado no mundo um dos temas é a escassez de talentos e como resolver esse problema. Muitos profissionais sequer sabem que o setor de data centers demanda engenheiros eletricistas, mecânicos, de telecomunicações, de automação e tantas outras disciplinas que vão muito além do mundo da Tecnologia da Informação. O tema definitivamente é um dos mais multidisciplinares e as principais funções estão dentro do Sistema Confea/Crea”, afirma o especialista em Design e Operações de Data Center e conselheiro no Crea do Distrito Federal.

Nesse segmento, o papel dos engenheiros é essencial para garantir o funcionamento constante dos sistemas que são de porte industrial e chegam a potências instaladas de mais de 100 MW, algo próximo do consumo de 375 mil residências na região Centro-Oeste do Brasil. “Por ser uma instalação de missão crítica, deve operar 24 horas por dia durante todo o ano, e uma interrupção no serviço pode causar prejuízos de milhões de dólares. Para garantir toda essa disponibilidade, data centers possuem sistemas elétricos e mecânicos de grande confiabilidade e, via de regra, contam com um sistema de redundância completa de infraestrutura e sistemas de automação e supervisórios altamente complexos”, explica Kontoyanis, que também possui experiência em certificação de data centers, tendo participado das principais do setor, como ISO 55001 e Uptime Institute.

Por conta da operação contínua de servidores, os data centers geram calor excessivo, demandando sistemas de refrigeração. Nesse caso, é fundamental ter profissionais que conheçam modelos modernos de resfriamento e saibam administrar esses equipamentos de maneira eficiente e sustentável. “Atualmente, o que diferencia um data center eficiente de um ineficiente é o seu sistema de resfriamento. Em data centers mais antigos, o consumo do sistema de resfriamento consome 50% de toda energia de infraestrutura. A depender da localização geográfica do data center, há possibilidade de um resfriamento 100% com ar exterior, o que reduz muito o consumo energético”, comenta Kontoyanis.

Quer seguir carreira no setor de data center? Confira as dicas de quem já atua no ramo:

“Busque saber mais do setor e faça cursos de especialização. Existem desde treinamentos mais simples e baratos oferecidos por associações até certificações internacionais. Além da parte técnica, o desenvolvimento de soft skills, como resiliência, comunicação e trabalho em equipe, são fundamentais para crescer dentro desse segmento. Engenheiros com expertise técnica e com essas habilidades são disputados fortemente no mercado interno e externo. Neste momento não consigo pensar em outra indústria com tantas oportunidades para engenheiros, desde os recém-formados aos mais experientes.” – Alexandre Kontoyanis (foto) preside a representação brasileira da Sociedade Americana de Engenheiros de Aquecimento, Refrigeração e Ar Condicionado (Ashrae, sigla em inglês) e palestra sobre controle térmico e sustentabilidade de data centers para profissionais dos quatro cantos do planeta.

Ascensão
No Brasil, o mercado de data centers está avaliado em US$ 2,23 bilhões, podendo chegar a US$ 3,69 bilhões até 2027, segundo a Arizton, empresa de pesquisa e inteligência de mercado que atua em todo o mundo. O levantamento demonstra ainda que o Brasil concentra 40% dos investimentos realizados na América Latina, ocupando posição de líder na região. São Paulo é o ponto central de diversas instalações, incluindo serviços de nuvem. Na sequência, vêm Rio de Janeiro e Fortaleza.

Apesar de ser um país tropical com temperaturas elevadas, o Brasil conta com uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, além de uma boa oferta de energia com preços atrativos, como ressalta Kontoyanis. “Isso nos coloca no centro das atenções dos gigantes da tecnologia e podemos ver isso na prática. Um pequeno passeio de carro pelo estado de São Paulo mostra a quantidade de novos data centers sendo construídos e não somente lá, mas em outras regiões como Nordeste e Sul também vêm crescendo muito. Alguns países, como Singapura, Alemanha e Holanda, têm restringido a construção de novos data centers por não terem energia suficiente e isso nos oferece uma oportunidade ímpar de trazer esses grandes investimentos para cá”, conclui o especialista.

Julianna Curado 
Equipe de Comunicação do Confea, com informações da Arizton e Terra
Fotos: Freepik e arquivo pessoal