Mato-grossenses compartilham experiências sobre gestão de água

Cuiabá, 4 de outubro de 2017.

A agenda de debates do Preparatório da Engenharia e da Agronomia para o Fórum Mundial da Água teve início, nessa terça-feira (3) com a palestra “Água, a próxima guerra” do engenheiro químico e autor do livro de mesmo título, Celso Luís Giampá. Para ele, é crítica a situação de disputa pelos recursos hídricos no planeta. “Estamos falando da próxima guerra. E nós somos responsáveis por evitar que ela aconteça”.

Sobre a escassez de recursos hídricos, Giampá disse que a sociedade precisa lidar com duas novas realidades: a chuva está mudando de lugar e as reservas de água estão sumindo do mapa. “Lagos, como o Chade no continente africano, o Poopo na Bolívia, além do Mar Morto no Oriente Médio estão secando”, exemplificou. Para ele, a situação se agrava quando se pensa também nas inúmeras formas de perda de recursos hídricos. Algumas capitais, segundo dados apresentados pelo palestrante, perdem mais de 70% na etapa de distribuição, como é o caso de Porto Velho, Manaus e Macapá. “Mato Grosso perde quase 48% por conta de vazamentos residenciais e roubo de água também, o que é um grande problema”, comentou. Clique para ver a palestra na íntegra.

 

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Uso da água de chuva na zona rural

Na sequência, o público assistiu à palestra “Utilização de água de chuva na área rural de Mato Grosso”, ministrada pela eng. sanit. e amb. PhD Margarida Marchetto, da Faculdade de Arquitetura, Tecnologia e Engenharia da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). A especialista integra o projeto que tem levado água desde 2007 para comunidades rurais de Cárceres, Chapada dos Guimarães, Nobres e Várzea Grande. “Assentamentos localizados no berço das águas formadoras do Pantanal estão recebendo projetos pilotos para coleta da água da chuva, como lagos de múltiplos usos, cisternas e barraginhas”, explicou. 

A implantação de cisternas tem sido uma realidade, segundo Marchetto, graças à parceria entre a UFMT, o Ministério Público Estadual e o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) local, representado pelo eng. agr. Samir Curi. “Com essa tecnologia social já foi possível beneficiar 22 famílias em municípios diferentes, atendendo em média 100 pessoas entre 2010 e 2017. Essa prática tem sido disseminada no estado e espera-se que o poder público subsidie a implementação de novas unidades permitindo que a população permaneça na área rural vivendo com dignidade”, comentou a PhD.   

Projeto similar é o de barraginhas, desenvolvido pela Embrapa em 1993. “Trata-se de sistema eficiente capaz de garantir a captação de até de 50% das enxurradas em uma propriedade rural ou 3 milhões de litros”, explicou o eng. agr. Samir Curi, responsável por multiplicar essa tecnologia social no estado mato-grossense. “É uma revolução ambiental, pois quando fica retida a água é absorvida pelo solo alimentando nascentes e rios da redondeza, forma também um lago subterrâneo capaz de reduzir o tempo de seca rigorosa para até 45 dias/ano, além de minimizar a devastação causada pelas queimadas”, detalhou. Acesse a palestra.

Drenagem urbana

Os desafios para a correta implantação e manejo sustentável de sistemas de drenagem urbana foi tema apresentado pelo professor Ricardo de Aragão, da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG). Entre as questões críticas, segundo ele, estão os altos índices de impermeabilização, inundações frequentes, a destinação inadequada dos resíduos sólidos e a ausência de normas técnicas e literatura para o desenvolvimento de projetos. 

Atento à realidade brasileira, Aragão relatou que “cada ponto de alagamento registrado causará no final do ano uma perda de Produto Interno Bruto de R$ 1 milhão”. Como solução, o especialista aposta na gestão integrada das águas urbanas, ou seja de esgoto, água, drenagem e resíduo sólido, por meio de projeto ambientalmente sustentável capaz de abranger planejamento urbano, legislação e gerenciamento, qualidade de vida e conservação ambiental. Conheça os detalhes da apresentação.

Variações climáticas

A temática clima abriu a rodada de palestras no período da tarde. O professor doutor Antônio Carlos Zuffo, da Universidade de Campinas (Unicamp) tratou das “Variações climáticas e o gerenciamento de recursos hídricos no Brasil” instigando o público com questões acerca de comportamento do clima. “Os episódios de estiagem extraordinária prolongada foram restritos ao Estado de São Paulo? A maior frequência desses episódios são devido a mudanças climáticas ou variações em relação à média? Os modelos de gerenciamento de recursos hídricos devem ser revistos ao longo do tempo?”. O palestrante concluiu propondo que é necessário se planejar porque “é impossível que o improvável jamais ocorra”. Veja mais informações.  

“Tempo e clima – impactos em água e energia” foi pauta do professor doutor Augusto José Pereira Filho, do Instituto de Astronomia, Geofísica e Ciências Atmosféricas da Universidade de São Paulo (IAG-USP). 

O especialista apresentou ao público as mudanças climáticas destacando as possíveis causas dessas alterações. Entre elas, redução da vegetação, crescimento urbano e poluição do ar. A solução, para ele, é investir no monitoramento de variações climáticas, fazer uso apropriado do solo e da água e revisar a legislação do setor. Assim, é possível gerar menos riscos e mais benefícios ao bem-estar da população, além de proporcionar mais proteção ao meio ambiente. De acordo com Augusto Filho, essas ações compõem a ciência da sustentabilidade, a qual abrange economia, sociedade, ciências naturais, conhecimento e atividade humana. “E a meteorologia tem contribuição para todas as atividades”, afirmou.  

Em sua explanação, o PhD disse que tanto as enchentes quanto os períodos de seca afetam a qualidade dos recursos hídricos, portanto, é necessária a adoção de uma política nacional que contemple investimentos e ações no âmbito da Meteorologia e da Climatologia Meteorológica. Leia a palestra.

Bacia do Rio São Francisco

Ministrada pelo assessor da Presidência da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) Márcio Adalberto Andrade, a apresentação sobre “Crise hídrica na bacia hidrográfica do Rio São Francisco” esteve centrada nas ações emergenciais para desassoreamento de canal de captação no rio São Francisco, adotadas entre novembro de 2016 e março de 2017 pela instituição. Foi investido R$ 1,9 milhão, além de ter sido reabilitado o conjunto de obras e equipamentos componentes das infraestruturas de captação, condução, distribuição, dragagem e drenagem de projetos públicos de irrigação. “A Codevasf teve que trabalhar ainda mais focada na melhoria da eficiência do uso da água”, comentou o palestrante. Nesse sentido, foi proposta metodologia para levantamento da situação das captações para abastecimento e perímetros de irrigação situados na calha do rio ou nos reservatórios formados na calha. Também foram encaminhados ofícios aos estados solicitando informações e indicação de alternativas para adequação das captações. Conheça a iniciativa.  

Hidrovias

A última palestra do dia abordou o fluxo de carga em hidrovias e foi exibida pelo engenheiro civil e inspetor-chefe do Crea-MT em Cárceres, Adilson dos Reis. “Nos registros históricos sempre identificamos uma relação direta entre o meio (navegação) e o fim (comércio), ainda hoje os fluxos de carga nas hidrovias vêm crescendo, confirmando o seu papel na interação comercial”, lembrou trançando um histórico das atividades de importação e exportação no estado do Mato Grosso, famoso por ser destaque no ranking brasileiro de venda de mercadorias para outros países, sendo o primeiro estado exportador do Centro-Oeste. Clique aqui para conhecer a apresentação “Mato Grosso: águas e logística”.

A caminho do Fórum Mundial da Água

Na quarta-feira (4), a programação do preparatório continua a partir das 9h com a palestra “Elaboração e execução dos planos municipais de saneamento básico em Mato Grosso: desafios e perspectivas”, que será ministrada pela engenheira sanitarista e PhD Eliana Rondon Lima, da Universidade Federal de Mato Grosso. 

O encerramento será marcado com a participação do engenheiro civil e chefe de gabinete da Agência Nacional da Água (ANA), Horácio Figueiredo Junior, que adiantou ao público para apresentar um pouco do que será o 8º Fórum Mundial da Água. A agência nacional, assim como o Confea, é membro da Seção Brasil do Conselho Mundial da Água, cuja responsabilidade é organizar o evento de 2018.  

Para saber mais acesse: mundialagua.confea.org.br

 

Julianna Curado
Equipe de Comunicação do Confea