Israel apresenta soluções criativas para economia de água

Brasília, 29 de julho de 2016

Na última semana, a “Conferência Internacional Água e Energia: novas abordagens sustentáveis” trouxe a Brasília o chefe da divisão de dessanilização do governo israelense, Abraham Tenne, que apresentou o cenário de dificuldades por que passa a região para abastecimento de água e energia. “Este é um evento importante para nós - em maioria engenheiros - compartilharmos conhecimento, perguntas e respostas”, afirmou antes de iniciar sua palestra, na manhã de sexta-feira (29/7). 

Responsável por todas as tecnologias de água em Israel, Tenne tratou sobre soluções criativas para lidar com o recurso no deserto, além de meios de diálogo entre Israel e Palestina, fora dos radares políticos, para evitar que água seja mais um motivo de conflitos na região. “A água tinha que ser a ponte para a paz entre países vizinhos, mas é uma razão para guerra”. Tenner citou exemplos de tribos na África brigando por água. “O Egito usa 90% do Nilo. Os 10% restantes têm de dar conta de abastecer os outros 13 países que margeiam o rio”. 

Israel não tem recursos naturais suficientes para suprir toda a demanda por água, de 2.2 milhões de m3 por ano. Com as criativas soluções apresentadas por Tenne, o país consegue prover água confiável em quantidade, qualidade, localização e com o preço correto. “Para um deserto, isso é uma revolução!”, comemora. Antes de apresentar as soluções, o engenheiro israelense contextualizou a realidade de que, em 30 anos, o país terá de 10 a 15% menos chuva. “Realizamos um trabalho de engenharia enorme, com ações divididas em três vertentes: economia, reutilização e produção de novas fontes”.


Economia
O governo de Israel produziu uma campanha televisiva, em que simularam rostos altamente ressecados de atrizes famosas e bonitas, para ilustrar o que seriam alimentos ressecados por falta de irrigação. “Conseguimos reduzir o consumo em 15% após a campanha”, contou Tenne. Outra medida é a abordagem do assunto nas escolas, desde o jardim de infância. “As crianças são nossa ‘polícia da água’ e ensinam os pais como economizar no dia a dia”, comentou. Outra iniciativa é reduzir a perda de água dos vazamentos nos encanamentos. Tenner mencionou que, no Líbano, metade da água que passa pela tubulação é perdida. Nos Estados Unidos essa taxa é de 20 a 30%. Em Nova Délhi, chega a 45%, mesmo número de Londres por ter um encanamento “extremamente velho”. Com a comparação, Tenne comentou que essa taxa em Israel é de 10%.

“Isso é um problema enorme em todos os países, pois os políticos não gostam de investir em algo que ninguém vê, que é o caso dos canos embaixo da terra. Em casos de desastres naturais, por exemplo, as tubulações são as primeiras coisas a serem afetadas”. Meios de lidar com o problema são os softwares que detectam onde exatamente estão os vazamentos que precisam ser consertados e a redução de pressão nas tubulações. Dados demográficos também fazem parte da gestão das tubulações. “Você não quer colocar um sistema de tubulação muito grande em locais de onde a população pode se mudar”. A região de Israel e palestina contam com índice elevado de migração.

Outra forma de economizar é na irrigação. “A forma como você irriga é muito importante”, comentou, antes de apresentar um sistema chamado “irrigação por gota”, em que se goteja somente a quantidade necessária de água, bem em cima das plantas, evitando evaporação e excessos. “A economia pode chegar a 50%”, comemorou, antes de comentar que 75% da agricultura em Israel utiliza esse tipo de irrigação. Segundo ele, mais de 70 países já aderiram à técnica. “Isso acontece porque o fazendeiro paga o preço real da água. Então ele topa utilizar tecnologias que a economizem. Em países onde o usuário final paga barato pela água, ele nunca vai economizar. Aqui a gente vê jardineiro regando plantas com mangueira. Você nunca vai ver isso em Israel”, disse, ao explanar que o governo de seu país não dá nenhum subsídio para água - o insumo e sua distribuição não entram no orçamento público. “As empresas que fornecem não querem ter prejuízo e, portanto, investem em soluções e tecnologia para evitar o desperdício.”.


Dessanilização
No entanto, todo esse esforço em economia de água não foi suficiente para suprir a lacuna entre demanda e fornecimento. Foi daí que surgiu a necessidade de se investir em dessanilização. “Levou muito tempo para chegarmos a essa decisão. É um projeto enorme – tem a planta, o transporte, o bombeamento... Enfrentamos resistência do Tesouro – porque é um projeto caro - e dos agricultores, para o quem o preço da água aumentaria”. Atualmente, Israel tem 35 pequenas unidades de dessanilização. Na Califórnia, o preço da água dessanilizada é US$ 2 por m3, enquanto que em Israel é US$ 0,52. Israel foi bem sucedido no projeto, que atende do Norte ao Sul do país, elminando o gap antes existente.

 

 

Beatriz Leal
Equipe de Comunicação do Confea