Porto Alegre (RS), quinta-feira, 23 de janeiro de 2003. A apresentação de uma pesquisa inédita feita em 15 países dos cinco Continentes, onde foram ouvidos 15 mil cidadãos sobre a globalização e econômica e social, marcou na tarde do dia 23 de janeiro, na PUC de Porto Alegre, a abertura oficial do III Fórum Social Mundial (FSM). O resultado da consulta revelou que os caminhos que o Fórum vem trilhando estão totalmente afinados com a vontade dos povos. Ou seja, buscar formas de colocar o ser humano e sua qualidade de vida como prioridade mundial.Os cidadãos de países como Brasil, Índia, Rússia, Nigéria, Japão, Canadá e México, entre outros, foram questionados sobre qual crescimento deve ser priorizado, se o econômico ou o social; se a globalização traz benefícios a todos ou somente a alguns grupos; e se as pessoas têm autonomia sobre suas vidas ou se existem grupos com poder, que está fora de seus controles, decidindo tudo.A maioria das pessoas consultadas - uma média de 61% em cada país - acredita que as questões sociais devem vir em primeiro lugar; que a globalização torna os ricos cada vez mais ricos e os pobres cada vez mais pobres, entre outros motivos, porque é controlada por interesse de pequenos grupos econômicos; e que seus futuros vêm sendo decididos por forças externas que estão fora de seus controles. Mais de 50% dos entrevistados de todos os países avalia que a globalização concentra riquezas ao invés de dividi-las. A pesquisa foi conduzida pelo FSM sob a supervisão do Instituto Environics International.Davos - Para dar sequência ao contraponto entre os Fóruns, foi realizada também uma pesquisa sobre o Fórum de Davos (Suiça) que busca definir os rumos econômicos do mundo. Nesta consulta os líderes econômicos do mundo, que lá se reúnem, receberam notas de confiabilidade menor que suas empresas. A questão visou saber o nível de liderança que esses empresários têm entre a população mundial para enfrentar os desafios dos próximos anos.A pesquisa mostra a nós, engajados na luta por um outro mundo, que estamos levando o sentimento da maioria, que estamos no bom caminho", disse o coordenador do FSM, Chico Whitheker, abrindo oficialmente o III FSM. Ele citou como outro fator comprovador de que o Fórum representa o legítimo sentimento dos povos, o crescimento do número de oficinas ao longo dos três anos: em 2001, 400; em 2002, 800; e nesta versão, 1.700. "Isso significa que há uma acolhida do nosso método de criar espaço aberto, democrático, de aprendizado mútuo.3º FAL - O prefeito de Porto Alegre, João Verle, fez um balanço do 3º Fórum das Autoridades Locais (FAL), que antecedeu o FSM. Segundo ele, o evento teve participação de 236 cidades de 26 países e resultou numa manifestação vigorosa contra a guerra e pela paz. "Avançamos no processo de unificação das cidades pela inclusão social", informou. Sobre o resultado da pesquisa disse: "Está claro que os povos querem a globalização sim, mas da justiça e da fraternidade é o que nós aqui buscamos também".Essa posição foi ressaltada pela representante do Comitê Internacional do FSM, a queniana Njoki Njehu que depois de declarar que o Fórum foi um movimento construído em décadas de resistência e hoje é um fenômeno mundial, disse: "Não somos somente um movimento anti-globalização, mas sim, pela globalização da justiça mundial, dizendo não a guerra, e sim a paz".Apoios - O ministro Soares Dulci, secretário geral da Presidência da República, representante do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, lembrou da importância da realização da II FSM no Brasil no atual momento da vida do país, quando num processo democrático o povo decidiu por mudanças. "O governo Lula apoia, presta muita atenção e vem buscar, nesse evento, subsídios para seu trabalho, mas reconhece que o Fórum é uma iniciativa da sociedade civil organizada".Dulce informou que o presidente Lula responsabilizou a Secretária Geral da Presidência da República pela interlocução com a sociedade civil organizada, da mesma forma que esse papel é desempenhado pela Casa Civil no que ser refere aos parlamentares e líderes políticos. O ministro, que participa pela terceira vez do FSM, se colocou a inteira disposição, dizendo: "É importante falar, mas é especialmente importante ouvir".O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, manifestou apoio oficial do governo local ao evento, parabenizou os organizadores e agradeceu o fato do estado ter sido escolhido como sede de mais uma edição do FSM. "Estamos sempre dispostos a incentivar e promover encontros direcionados a pensar soluções para os problemas que afligem a humanidade", disse. Depois da solenidade oficial de abertura, que contou com a presença de vários ministros, foi realizada uma marcha pela paz reunindo cerca de cem mil pessoas nas ruas de Porto Alegre. Bety Rita Ramos - Da equipe da ACS
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