Especialista garante que falta d' água no Nordeste é atribuída à evaporação

Brasília, 3 de junho de 2011.

Os conselheiros das Câmaras de Engenharia Civil do Brasil vão sair de Salvador, onde estão reunidos desde o dia 1º de junho, conhecendo um pouco mais sobre a história dos recursos hídricos do Nordeste. A palestra O Semiárido Brasileiro, proferida pelo engenheiro civil, especialista em hidrologia, ex-diretor do DNOCS e ex-secretário geral do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Manoel Bomfim Dias Ribeiro, esclareceu que a falta de água no Nordeste não é atribuída à escassez de chuvas e sim à evaporação.

“Aqui chove 600 milhões de metros cúbicos por ano, seis vezes mais do que é despejado pelo rio São Francisco no Atlântico. O problema é que pelo menos 400 milhões de metros cúbicos vão pelos ares”, explica.

Para o engenheiro, a falta de aproveitamento dos açudes, construídos desde 1830, como o Açude Velho de Campina Grande (PB); o Cedro (1886), Orós (1960) e Castanhão (2003) no Ceará; e Açu (1983) no Rio Grande é o que ocasiona para o Nordeste a demanda por recursos hidrícos. Segundo Bomfim existem 531 grandes açudes com capacidade para 30 bilhões de metros cúbicos nos estados que mais clamam por água: Rio Grande do Norte, Ceará, Paraíba e Pernambuco. “O Semiárido é uma ilha cercada por água doce por todos os lados”, frisa, lembrando que existem 135 milhões de metros cúbicos em lençóis subterrâneos sem aproveitamento.

Velho Chico  Estudada desde a época do Império, a transposição do rio São Francisco voltou a ser vista como a salvação para a seca do Nordeste em 1994, menos para o engenheiro civil. Ele acredita que a obra vai resolver todos os interesses menos o da falta d´água. “Foi desconsiderado que 60% das águas do Nordeste vão para os ares. São 4 bilhões de metros cúbicos evaporados por ano nos açudes e o projeto em sua operação máxima prevê o desvio de 2 bilhões de metros cúbicos. A evaporação é o maior consumo do Nordeste”, destaca.
Finalizou sugerindo interligação dos açudes criados às adutoras secundárias e terciárias como solução para o problema de escassez de água no Nordeste. 

Outros dados

 - 62% da área do Nordeste ocupada pelo Semiárido;
- A Paraíba é o estado que chove menos no Nordeste (menos de 300mm);
- Na Bahia, Chorrochó, é o município com menor densidade pluviométrica;
- 56% da Bacia do Rio São Francisco está no Semiárido;
- 500 mil pessoas morreram por causa da seca em 1877;
- 6,7 bilhões de metros cúbicos é a capacidade do Açude Castanhão (CE), corresponde a três vezes o tamanho da Baía de Guanabara (RJ).

Ascom Crea-BA