Brasília, terça-feira, 9 de julho de 2002. O eng. Wilson Lang foi reeleito presidente do Confea com mais de 18 mil votos de diferença. Este processo eleitoral do Sistema Confea/Crea, além de inovar por ter sido eletrônico em todas as capitais do país e em muitos municípios, contou também com o diferencial de ser um dos mais concorridos em termos regionais. Em alguns Creas se chegou ao número de 11 candidatos para a presidência. Estas e outras questões são comentadas por Wilson Lang na entrevista a seguir. Ele deixa ainda, sua mensagem para os que aprovaram suas ações no período 2000/2002 e acreditaram em suas propostas para o próximo triênio. Confira!ACS- Qual a sua avaliação do processo eleitoral pelo o qual o Sistema Confea/Crea acabou de passar?WL - O processo eleitoral demonstrou várias hipóteses que haviam sido levantadas. Comprovou muitas das premissas que foram estabelecidas e deixou claro também uma série de procedimentos que devem ser modificados. Em primeiro lugar, entendo que o eleitor demonstrou que está entendendo o Sistema Confea/Crea. Ele está percebendo as mudanças em marcha. Está mais próximo do Sistema Profissional e, portanto, estamos conseguindo executar uma de nossas ações estratégicas que era fazer exatamente que isso acontecesse.No segundo momento, entendo que o processo eleitoral demonstrou a necessidade da continuidade, principalmente, da sua exeqüibilidade por meio de um processo eleitoral baseado em um sistema eletrônico, realizado sem grandes problemas. Com certeza o processo eletrônico de eleições, resultado de uma parceria com o Tribunal Superior Eleitoral, demonstrou sucesso e eficiência, fazendo com que devamos, num futuro breve, estabelecer esse processo como uma regra geral. Num terceiro momento, entendo que, particularmente, as nossas propostas se mostraram vencedoras de forma retumbante ou seja, se afastaram por completo aquelas posições políticas da época dos dinossauros, aqueles esqueletos que estavam nas prateleiras e que certamente não constróem uma organização positiva. Nossas propostas foram vencedoras. O país demonstrou isso com clareza. Todas as propostas tem um link de seriedade, elas têm um compromisso com mudanças profundas, melhorias constantes e portanto creio que o Confea e os Creas conseguiram consolidar, num primeiro momento do ponto de vista político, aquilo que estamos chamando de o Sistema Confea/Crea.ACS - O Brasil é pentacampeão e você acabou de vencer uma eleição nacional, são vitórias já consolidadas. Quais os pontos comuns que você destacaria como necessários para alcançar metas como essas?WL - Bom, fazer uma analogia com um time de futebol, digamos que é uma coisa bastante razoável. Um time de futebol tem um técnico, estratégias gerais e específicas para cada jogo, para cada momento do jogo. É composto por um conjunto de pessoas que é o time, mas que em determinados momentos depende da individualidade de seus componentes. Algo que, com certeza, chamou a atenção, pelo menos para mim, foi a união do grupo pentacampeão. Era perceptível que havia uma força interna que unia aquelas pessoas e eu creio que essa analogia possa ser feita para o Sistema Confea/Crea, na medida em que Presidentes de Creas, de Entidades Nacionais, Conselheiros do Confea estão todos conectados através das suas propostas, através do seu trabalho sério e comprometidos com mudanças que sabem não são fáceis de serem feitas e onde o discurso fácil de mudança não entra, como não entrou e não vai entrar. Dessa forma, me parece que esta analogia é razoável. Nós todos, de uma certa forma, agimos desse jeito. O plenário do Confea, por exemplo, tem sua unidade, o seu conjunto de pessoas, tem uma força que congrega essas pessoas na busca desses objetivo. Em determinados momentos, sobressaem-se as individualidades de cada um, em outros, é o espírito de conjunto que nos faz vencer as dificuldades. Então, creio que do ponto de vista de estratégia as coisas são muito semelhantes, ganhamos o penta, ganhamos o Confea, ganharam os Creas, ganhou o Sistema Confea/Crea .ACS - Então os pontos comuns seriam a seriedade e a união?WL - Seriedade, união e, principalmente, compromisso de realizações, ou seja nós assumimos o Confea no 1º de janeiro de 2000 com uma pauta de compromissos que foram persistentemente perseguidos, 99% deles estão em andamento, demostrando ao eleitorado que nossa proposta não era apenas de papel. Eram propostas de propósitos que foram executados e, portanto, creio que além da seriedade e da união, é preciso também abnegação. Porque para administrar uma organização com as especificidades que tem o Confea e que têm os Creas é preciso muita abnegação, é preciso abrir mão das coisas que temos direito para representar eticamente o agrupamento profissional. E além da abnegação, é necessário, efetivamente, encontrar pessoas competentes que formam nossa equipe e que estão de parabéns porque formam neste momento uma equipe de sucesso.ACS - Foi uma das eleições mais concorridas do Sistema. Alguns Creas tiveram cerca de onze candidatos concorrendo à presidência, a que você atribui isso? WL - Atribuo isso ao fato que muitas pessoas começam a entender do Sistema, começam a entender das questões deontológicas que orbitam numa profissão e começam a se sensibilizar para participar do processo. Uma pessoa para ser candidata precisa dessa sensibilização porque sabe que irá para um cargo honorífico. Sabe que irá para um cargo com um fardo de representações muito grande, que terá de abrir mão de questões pessoais, terá que defender ideais e, portanto, tem que estar sensibilizada para isso. Por isso, eu acredito que esse número de candidatos demonstra com facilidade que o projeto estratégico de comunicar-se com as entidades, com os profissionais, criando uma nova sinergia interna em torno dos ideais profissionais comprometidos com o desenvolvimento da sociedade brasileira, foram alcançados e estão sendo multiplicados não só no em nível nacional, mas em todos os estados particularmente.ACS - Já que você falou em comunicação, no seu primeiro mandado pode-se dizer que a ênfase foi dada a ações voltadas para essa área e para a valorização profissional, educação continuada e forte interação com as entidades, entre outras. Quais serão as prioridades para a segunda gestão? Deve-se esperar por alguma mudança de rota ou somente reajustes? WL- Nós entendemos que o processo de comunicação foi um processo vitorioso, embora não tenha alcançado os profissionais individualmente, na ponta do sistema digamos assim, até porque não era esse o projeto, que agora passa a ser. Ou seja, precisamos ampliar esse espaço, precisamos criar condições. E aí existe uma série de problemas de natureza operacional e até financeira porque são 850 mil profissionais em todo país, o que demanda um processo de comunicação de ponta a ponta, que é complexo e dispendioso. Mas gostaria de destacar que ficou muito clara a vitória da comunicação não pessoa, mas institucional. Nos locais onde a comunicação foi usada como meio de alavancagem de pessoas e de indivíduos ocorreram sérios problemas, mostrando, portanto, que o nosso encaminhamento e o fortalecimento de uma comunicação institucional voltada para os interesses profissionais técnicos e, principalmente de desenvolvimento da sociedade brasileira, foram acertados.ACS - E qual será a ênfase nesse 2º mandato?WL- Nesse segundo mandato, com certeza esses projetos terão continuidade, o que proporcionará a consolidação de quatro situações que são de grande complexidade. Uma delas é consolidar a comunicação de ponta a ponta, ou seja, fazer com que esses 850 mil profissionais sejam informados do que está acontecendo no seu Sistema Profissional e integrá-los a esse processo, o que é um grande desafio sob todos os aspectos. O segundo grande desafio é a implantação que já foi iniciada e está em andamento de um novo Código de Ética, que reflita as novas demandas sociais e, principalmente, nos permita modificar configurações legais, hoje existentes na administração das nossas profissões, que já demonstraram não serem mais compatíveis com a atualidade. Estas, por sua vez, são o terceiro grande desafio. Ou seja, criarmos condições para que o Sistema de Atribuições hoje existente seja alterado de forma consistente, que, efetivamente, represente as demandas tanto da sociedade quanto dos profissionais. E caminha paralelamente a tudo isso o Sistema de Ingresso na profissão, ou seja, a implantação decisiva de prática de mecanismos qualitativos de ingresso na profissão e de ascensão às novas atribuições. Este é um desafio técnico político de uma envergadura que vai exigir uma cruzada nacional para ser concretizado.O quarto projeto estratégico, que eu entendo foi uma das grandes alavancas do reconhecimento profissional, é a preocupação demonstrada pelo Sistema Confea/Crea com a educação continuada. Ou seja, manutenção do status quo, da inteligência profissional feita através do constante aprimoramento da constante participação de um processo de conhecimento do conhecimento. Isto é, contribuir para que os profissionais se tornem habilitados, portanto capazes de integrar a competição que o mercado nos impõe e também capazes de politicamente contribuir com as mudanças que o país está por exigir e que o desenvolvimento brasileiro está por demonstrar .ACS - Qual o seu compromisso com relação às Caixas de Assistência nos estados, existe um projeto de parceria voltado para a área social?WL - Todos os assuntos voltados para a questão social estão no âmbito da Mútua, que é a organização criada e que dispõe de recursos para este fim, no sentido de movimentar um setor que eu considero de altíssima complexidade e de grande envergadura, levando em consideração as dimensões de um Brasil continente.No Confea temos procurado nos reservar o importante papel de fiscalizador das atividades da Mútua, no sentido de garantir aos profissionais a credibilidade que a organização precisa ter para a sua manutenção, sua defensabilidade social interna e externa. Não temos nos envolvido especificamente com ações estratégicas da organização em si. Entendemos que os administradores, que foram para lá conduzidos, são pessoas da mais alta idoneidade e da mais alta competência e, portanto, estão desenvolvendo suas atividades dentro dos limites do possível. Durante a campanha eleitoral encontramos várias condições adversas com relação a este tema, parte delas decorrente do desconhecimento de como uma organização dessa natureza funciona, e parte, descontente com as ações que ainda não chegaram na ponta. Creio que os gestores disso, até porque eles próprios têm participado deste processo, estão trabalhando para que essas mudanças sejam feitas. Portanto, o Confea se reserva ao direito de ser um fiscalizador das ações e não um gestor do processo criativo, o que cabe aos administradores que por suas competências foram eleitos para gerir aquele órgão.ACS - As eleições gerais levaram, deste o último final de semana, as campanhas eleitorais para as ruas do país. Qual será a linha de orientação do Sistema Confea/Crea com relação a este processo eleitoral?WL- Devemos ter um comprometimento com as ações políticas do nosso país, ou seja, precisamos participar desse processo, precisamos intervir nele, dar nossa colaboração e isso requer uma postura madura, uma postura de consciência, de conhecimento da realidade brasileira. Não podemos cair no discurso fácil de mudança por mudança sem que nos meios não haja consistência do discernimento do quê realmente está acontecendo no país. Me parece que este será o importante papel que vamos exercer neste momento.Estamos todos liberados para isso porque o nosso processo eleitoral já está equacionado e, portanto, estimo e convido a todos os profissionais que participem da vida partidária e da vida política deste país. Só assim, efetivamente, daremos ao Brasil um projeto de nação, uma condição de desenvolvimento que, com certeza, só os profissionais da área tecnológica têm conhecimento necessário e sabem os mecanismos, que devem ser acionadas, para que as injustiças sociais sejam corrigidas e possamos ter um Brasil de brasileiros para brasileiros. ACS - Você venceu as eleições com uma diferença três vezes maior que da última eleição. Que mensagem você deixa para os seus eleitores?WL - A mensagem que deixamos para os nossos eleitores é de que estamos conscientes que isso representa três vezes mais trabalho, três vezes mais compromissos e representa, com absoluta certeza, o reconhecimento de que aquela vitória de 99 foi acertada e trouxe bons frutos. Isso tudo significa que a nossa responsabilidade ficou ainda maior, e com certeza, a nossa equipe vai responder a estes estímulos com seriedade, união e competência. A mensagem que deixo é de profundo agradecimento pela credibilidade e de que, tenham certeza, não mediremos esforços para corresponder a altura.ACS - E que mensagem você deixa para os presidentes de Creas eleitos, reeleitos e para os novos conselheiros federais?WL - A mensagem que fica é resultado do discernimento que essa conjuntura toda se explica a nível de Brasil. É preciso que os presidentes de Creas tenham em mente que os profissionais não aceitam mais um Sistema que não seja um Sistema. A redundância é proposital.É preciso que os que ganharam dos profissionais a responsabilidade de uma mandato tenham consciência que eles não aceitam mais assincronias de procedimentos, de interpretações de taxas. Os profissionais querem participar efetivamente de um sistema que funcione de norte a sul, de leste a oeste do país. Que tenha representatividade na discussão política do desenvolvimento brasileiro.Tudo isso, de um certa forma, vem sendo feito pelos Creas. Foi iniciado em 2000 um processo de profundas alterações na participação do sistema profissional na vida do cotidiano nacional. É evidente também que só tivemos condições de fazer isso porque todos os que nos antecederam construíram essas condições. Foi a partir delas que essa ações se multiplicaram e obtivemos os resultados eleitorais aí colocados. Todas as eleições estaduais foram decididas da mesma forma que a federal, com uma razoável maioria. O que demonstra que o Sistema Confea/Crea está no caminho certo. Bety Rita Ramos - Da equipe da ACS
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