Engenheiros e agricultores precisam adotar segurança alimentar

São Luís (MA), quinta-feira, 2 de dezembro de 2004.

Vitor Soares

Engenheiro de Alimentos Daniel Pereira Lobo
 
Conscientizar os profissionais da área agronômica sobre a importância das propriedades rurais estarem preparadas para desenvolver produtos com segurança alimentar e ambiental foi a principal proposta do curso "Rastreabilidade e Segurança Alimentar no Setor Produtivo Primário", realizado nos dias 1º e 2 de dezembro, durante a 61ª Semana Oficial da Engenharia, da Arquitetura e da Agronomia.

O curso foi ministrado pelo diretor técnico da Ecolog Consultoria Integrada, Engenheiro de Alimentos Daniel Pereira Lobo, que abordou a questão das análises de perigos e pontos críticos de controle do setor produtivo primário. A empresa atua nas áreas de gestão ambiental e de gestão da qualidade na cadeia produtiva de alimentos.

"O objetivo dessas análises é detectar e eliminar riscos de produtos não conformes com relação à segurança alimentar. Isso é bem diferente da qualidade do produto. Enquanto a segurança alimentar se preocupa com possíveis contaminações, como a presença de coliformes e agrotóxicos em níveis exagerados, a qualidade do produto pode ser observada pelos consumidores por meio de aspectos superficiais, como cor, tamanho, quantidade de suco e acidez dos alimentos", explicou.

Lobo, que há três anos atua diretamente na implementação de protocolos de Segurança Alimentar, Qualidade de Produto e Processo nas regiões Nordeste e Sudeste, em propriedades e packing houses para a fruticultura irrigada de exportação e é responsável pelo acompanhamento da implementação dos diferentes selos exigidos pelo mercado consumidor internacional, advertiu que o assunto é de extrema importância e que os profissionais têm que estar atentos para a responsabilidade de produzirem alimentos seguros para a saúde da população.

Como exemplo, Lobo citou o trabalho desenvolvido pela empresa na Frutan - Frutas do Nordeste do Brasil S.A, empresa localizada em Teresina (PI) e que exporta frutas para a Inglaterra, que segundo ele é o país mais exigente com relação a segurança. "A empresa teve que se adequar às normas da Segurança Alimentar Inglesa e cumprir alguns requisitos locais com relação aos produtos", contou. Ele destacou que nesses casos, o importante é e efetuar uma análise de perigo e identificar as medidas preventivas. "Durante a análise de perigos, os aspectos concernentes à inocuidade deverão ser diferenciados daqueles relativos à qualidade. Os perigos são definidos como uma propriedade biológica".

O Engenheiro de Alimentos esclareceu aos participantes que segurança alimentar não é um selo, e sim uma metodologia, e que para ser implementada devem ser observadas características como contaminação química, representada pela presença excessiva de agrotóxicos; biológica, manifestada por presença de organismos; e física, detectada pela presença de corpos estranhos.

Segundo ele, o Brasil ainda não se preocupa com a segurança dos alimentos e poucas são as empresas que adotam esses critérios. "O problema é que o país enfrenta hoje o problema da falta de acesso aos alimentos. A população de classe média, que já deveria se preocupar em buscar alimentos saudáveis, ainda se preocupa com o visual dos produtos, como a cor e a forma. Temos muito problema com as frutas e legumes in natura", disse ele sugerindo os alimentos orgânicos como uma opção para garantir uma alimentação mais saudável.

Lobo falou da importância de se identificar pontos críticos de controle - PCC e alertou para perigos como contaminação química do produto, dosagem acima do recomendado e pulverizadores ou bicos desregulados.

Para ele, um dos entraves para se produzir alimentos melhores é a desinformação dos profissionais que trabalham com a agricultura tradicional e a resistência deles diante desta nova metodologia. "Eles se preocupam muito com a calibração dos equipamentos, em ter um engenheiro agrônomo responsável e usam agrotóxicos acima do permitido por medo de perder o alimento por pragas. Os engenheiros agrônomos estão sendo subutilizados em sua profissão. O trabalho deles não pode estar restrito a assinar receituários de campo. Precisamos ter uma presença mais forte desses profissionais na Segurança Alimentar e cursos como esse, num evento tão expressivo, é muito importante para disseminar essas informações", concluiu.

Da Assessoria da Soeaa