Quinta-feira, 3 de junho de 2004. A iniciativa privada nacional conquistou mais espaço nas negociações por um eixo de integração comercial entre o Mercosul e a União Européia (UE). No dia 2 de junho, durante a reunião da Coalizão Empresarial Brasileira (CEB), o Ministério das Relações Exteriores garantiu que o setor poderá a levar, a partir de então, três representantes às rodadas de negociação. Eles não terão direito a participar das reuniões entre as comissões dos blocos, sempre realizadas a portas fechadas, mas estarão presentes no local do evento para consultas periódicas nos intervalos. A notícia animou os empresários, mas, para o setor, muito ainda deve ser feito para esclarecer pontos importantes das negociações. Conforme a gerente de Relações Institucionais do Confea, Carmem Eleonora Cavalcante Amorim, as companhias nacionais reclamam da pouca transparência dada às decisões com relação aos conceitos dos capítulos que entrarão nos termos de negociação. Assim, o segmento cobra do Itamaraty a divulgação dos documentos analisados nas rodadas. "O debate entre Mercosul e UE não admite a participação da sociedade civil e setor privado, como acontece nas mesas da Alca, por exemplo", explica Carmem, que atribui o fato à preocupação dos blocos em evitar pressão e lobby dos segmentos interessados.Carmem participou da última reunião da CEB como representante do Confea. O Sistema integra o Grupo de Trabalho de número 4, que faz parte do Fórum de Competitividade da Cadeia Produtiva do Desenvolvimento Industrial. O Fórum, encabeçado pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, conta também com a participação do setor privado e entidades. O Confea, como uma das entidades consultivas da instância, contribui para a discussão das relações comerciais exteriores no tocante à área tecnológica, mais especificamente serviços em engenharia, consultoria e construção civil.Durante a reunião, foram debatidas as inquietações do empresariado nacional, assunto relacionado em documento produzido pela CEB. O texto, entregue ao Itamaraty no último dia 28, sexta-feira, foi elaborado para dar subsídios à comissão negociadora brasileira que participará do próximo encontro do Comitê de Negociações Birregionais (CNB), em Buenos Aires, Argentina, de 7 a 11 de junho. Segundo Carmen, "80% das incertezas do setor privado recaem sobre questões relativas ao setor agrícola".Incertezas - Entre outros dilemas, Carmem citou o compromisso verbal assumido pelos europeus de que seriam ampliadas as cotas da UE para importação de alguns itens agrícolas. "Entretanto, houve retrocesso para alguns produtos importantes da área industrial", alerta a gerente. Ela dá o exemplo da área química, que caiu na tabela das cotas, tendo seu volume reduzido nas importações européias. "Não adiante melhorar em um ponto e piorar em outro. A idéia da CEB é trabalhar o setor empresarial como um todo", reforça. Carmen lembrou, ainda, a necessidade de priorizar segmentos em que as exportações brasileiras estão defasadas, como os de telecomunicações e fármacos. "A Organização Mundial do Comércio (OMC) já sinalizou a abertura de mercados destas áreas, assim como a de software. Precisamos, portanto, buscar esses mercados, porque os europeus já estão fazendo isso", argumenta.Gustavo Schor - Da equipe da ACOM
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