Debate sobre acesso à água de qualidade encerra evento em Manaus

Manaus, 12 de maio de 2017.

 

O último dia do Preparatório da Engenharia e da Agronomia para o Fórum Mundial da Água foi marcado pela mesa-redonda que contou com a participação de seis especialistas em Recursos Hídricos. A cada 15 minutos, cada palestrante levou ao público conhecimento técnico acerca do “Desafio para garantia de acesso à água de qualidade”. Na sequência, os participantes tiveram a oportunidade de debater as principais questões do painel.  

 

Programação completa

Hotsite do evento

Álbum de fotos

Palestras

"Paulo Rodrigues"

A mesa-redonda foi aberta pelo especialista em hidráulica e saneamento, engenheiro civil Paulo Rodrigues, que apresentou a visão da engenharia sobre “O desafio para garantia de acesso à água de qualidade” baseada em quatro aspectos: oferta do recurso, abastecimento intermitente, águas poluídas e conflitos existentes e potenciais pelo uso de água. “É notório que há grande oferta de água no mundo especialmente aqui nesta região, mas ela é mal distribuída seja pela baixa produção nos mananciais nos períodos de estiagem, pela deficiência de investimento para aproveitamento de novos mananciais, pelos elevados índices de perdas na distribuição ou pela precariedade dos sistemas de captação, adução e tratamento de água”, comentou o palestrante, para quem os engenheiros têm papel fundamental na democratização dos recursos hídricos.

"Eduardo Antonio Ríos-Villamizar"

Também atento à proteção dos rios amazônicos e das áreas úmidas, o engenheiro químico especializado em estudos da Amazônia Eduardo Antonio Ríos-Villamizar compartilhou com o público ferramentas resultantes de pesquisas relacionadas com química de águas e áreas úmidas realizadas por ele juntamente com o Grupo de Pesquisas em Ecologia, Monitoramento e Uso Sustentável de Áreas Úmidas Amazônicas do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA). O material, que abrange um compilado de mais de 300 estudos e análise de 400 rios e igarapés identificados nos últimos 60 anos, pode funcionar como instrumento para manejo e conservação, considerando inclusive que grandes áreas alagáveis estão sofrendo sérios riscos, como alertou o pesquisador. “80% das águas dos igarapés de Manaus está comprometida e os outros 20% representam algumas das nascentes que ainda se encontram preservadas”. Villamizar chamou atenção ainda para a relevância das áreas úmidas que representam 30% da bacia amazônica e apresentam importantes serviços ecossistêmicos, como mitigar riscos de inundações naturais, purificar a água, recarregar águas subterrâneas e estocar água para consumo humano e animal. 

 

Impactos ambientais nos corpos d´água

"Bruno Leão"

Desmatamento, mineração, fertilização artificial e uso do solo, construções em margens de rios são algumas das causas de degradação de corpos hídricos na Amazônia.  O assunto foi abordado pelo doutor em Biologia de Água Doce e Pesca, Bruno Leão, que também participou da mesa-redonda, que finalizou a programação oficial do Preparatório, em Manaus. 

Esses fatores, de acordo com o estudioso, trazem impactos ambientais sobre os ambientes aquáticos, comprometendo o próprio ciclo hidrológico e deve refletir no tipo de tratamento adotado para o próprio sistema de abastecimento de água à população. 

Outra preocupação que deve existir é com relação ao lançamento de efluentes domésticos e industriais, pois, conforme Bruno Leão, nem sempre são adotados os procedimentos adequados, gerando a contaminação dos corpos hídricos e em alguns casos, do próprio sistema de tratamento de água fornecida à população. 

“Essa é uma situação de desperdício  porque a água tratada passa a se misturar com as contaminadas, ocasionando, além do impacto econômico, um custo ambiental  devido à redução da disponibilidade de recursos hídricos de qualidade”, frisa o palestrante, que defende a educação ambiental como o principal desafio, tendo como co-responsáveis as diferentes representações da sociedade, com destaque para a Engenharia e Agronomia. Ele salientou que, em paralelo com ações educacionais, é preciso uma gestão pública adequada, que vislumbre os investimentos corretos de recursos, bem como a inclusão da questão ambiental nos processos decisórios. 

Investimentos em Meteorologia

"Augusto José Pereira Filho"

Tanto as enchentes quanto os períodos de seca afetam a qualidade dos recursos hídricos, portanto, é necessária a adoção de uma política nacional que contemple investimentos e ações no âmbito da Meteorologia e da Climatologia Meteorológica. Essa tese foi defendida pelo professor da Universidade de São Paulo (USP), Augusto José Pereira Filho, na mesa-redonda.

Conforme explanação do docente da USP, esses investimentos são necessários e tipo de avaliação proporcionada por essa área do conhecimento, que é pautada no tripé da sustentabilidade, economia e sociedade, pode contribuir sobremaneira no fornecimento de subsídios de análises sobre precipitações pluviométricas ou ausência delas. De posse desses dados, podem ser adotadas ações preventivas ou mitigadoras  das consequências de cheias e secas, problemas enfrentados em diferentes regiões do País.

Em sua exposição, Augusto Pereira Filho, também fez questão de ressaltar o fato de que tão quanto a floresta e fontes de água doce os oceanos precisam ser considerados neste processo de discussão envolvendo os recursos hídricos. O que acontece no 

Atlântico, por exemplo, pode afetar toda a América do Sul.  “Se não houvesse o Oceano Atlântico, não haveria toda essa exuberância da Amazônia, ou seja, a floresta é importante porque faz com que a água circule no sistema, entretanto, é do oceano (Atlântico) a origem da água que chega até aqui (Amazônia)”, afirmou. 


Qualidades das águas de afluentes da bacia Amazônica

"Sérgio Bringel"

O doutor em Agronomia e mestre em Energia na Agricultura, o pesquisador do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa), Sérgio Bringel, abordou a respeito das alterações na qualidade das águas do rio Negro e destacou ainda a importância da Amazônia Brasileira, responsável por 17% da água doce do planeta. "A água tem a função de integração, e comunhão entre seus múltiplos. Não existe qualquer atividade sem a água. Houve um consenso de que é viável a utilização dos rios, como rio Negro, como corpos receptores de efluentes sanitários, por meio de alternativas de tratamento e lançamento, através de emissário subfluvial, considerando a auto-depuração em corpos hídricos com grande capacidade de diluição.  É urgente reconhecer a importância e respeitar as funções dos componentes e instrumentos de gestão dos recursos hídricos", aponta Bringel.

"Arlindo Sales"

O engenheiro civil e diretor de Regulação e Meio Ambiente da Manas Ambiente, Arlindo Sales, finalizou a mesa-redonda destacando a importância do Sistema Confea/Crea. "Depois de três dias de evento, chegou o momento de pararmos e pensarmos em tudo que foi debatido. Precisamos colocar em prática todo esse vasto leque de pesquisa apresentados. Acredito que o Confea vai transformar o que foi apresentado em algo executável. A engenharia tem a capacidade transformar sonhos em realidades", explana Sales.

 

Julianna Curado, Laila Moraes e Lisângela Costa
Equipe de Comunicação do Confea, do Crea-RO e do Crea-AM