Daniel Iglesias fala dos desafios de sua administração à frente do Crea-TO

Brasília 10 de dezembro de 2020.

Sem nunca ter atuado na política classista, o engenheiro civil Daniel Iglesias de Carvalho candidatou-se e de primeira foi eleito presidente do Crea Tocantins. “Fui procurado por representantes de associações interessadas em renovar o perfil dos presidentes de Crea e apoiar um candidato que não fizesse parte da politica classista ou partidária. Decidi aceitar o convite e meu nome foi lançado ao cargo”, resume.

O “professor Daniel Iglesias”, como é conhecido, é natural de São São Caetano do Sul, no ABC Paulista. Formado em 2000 pela Universidade Mackenzie (SP) e dono de uma construtora em São Paulo, Daniel vinha se sentindo “cansado da violência, do tumulto”, quando ouviu a sugestão de conhecer Palmas. 

Daniel Iglesias

Eram os idos de 2005 quando entrou num avião decidido a conhecer a cidade e, construindo uma casa, conhecer também o mercado da construção civil local. “Quando vi, tinha muitos projetos e Palmas me apresentava uma proposta irrecusável de oportunidades e qualidade de vida”, lembra. 

Dezesseis anos depois, aos 43 de idade, num mês de janeiro, o mesmo da chegada na capital tocantinense, ele assumirá o mandato de presidente do Crea-TO no período de 2021 a 2023, função que ele dividirá com os doutorados que realiza atualmente: o de Estruturas em Pontes, na Universidade do Porto (Portugal), e o de Desenvolvimento Regional, na Universidade Federal do Tocantins (UFTO). 

Ao final de sua formação, esses títulos se somarão aos que já constam de seu currículo, mestre em engenharia ambiental, pós-graduado em Docência no Ensino Superior e especializado em grandes obras e projetos de pontes.  

Casado há 11 anos com Aline Bailão Iglesias, juíza de direito, dois filhos, Thales com 5 e Luara com 8 anos de idade, o “professor Daniel” dá aulas de engenharia civil em duas faculdades e continua empresário, mas a construtora foi transformada em escritório de projetos,  consultoria e perícia. 

Nesta entrevista ao site do Confea, Daniel Iglesias fala dos desafios, propostas e objetivos de sua administração à frente do Crea-TO.

Site do Confea: Neste triênio à frente do Crea, quais os principais desafios já mapeados que demandam esforço e atuação? Eles constam da agenda de prioridades do próximo mandato? Como serão colocados em prática e quais resultados positivos irão gerar?

Daniel Iglesias de Carvalho: Dentre os desafios está a valorização do profissional baseada na fiscalização, e buscar uma participação mais efetiva dos profissionais  no Sistema. Temos que trazer o profissional para dentro do regional. A ideia é de pertencimento, mudar a imagem do Sistema como um órgão arrecadador, fazer com que entendam que Crea serve a eles, pertence a eles. A fiscalização tem que ser feita de maneira adequada, eficiente, justa e expandida para todo o Brasil. Devemos explicar, educar e nos comunicar com os profissionais que carecem ser ouvidos e não entendem o que o Crea fala.. Na pandemia de 2020, a forma de comunicação vem mudando. Continuar tratando os procedimentos por meio do correio, de uma carta registrada, de um Aviso de Recebimento, não faz mais sentido. Ou seja, trazer o profissional para junto do Crea significa também mudar a comunicação com ele e com a sociedade que margeia a valorização profissional. Sobre prioridades, está a de tratar de maneira igual os profissionais que atuam nas regiões mais afastadas de um estado que é muito grande, e tratar de maneira igualitária todas as profissões,  com  mais ou menos representatividade, com respeito e voz dentro do Crea.

Site do Confea: Na sua avaliação, o Sistema Confea/Crea e Mútua demanda uma adequação de procedimentos? Se sim, por quê?  Qual tipo de reestruturação é necessária, e como a sua gestão irá atuar neste sentido?

Daniel Iglesias de Carvalho:  A readequação é baseada na atualização frequente desse Sistema. No estado, os profissionais reclamam da atualização de procedimentos que, na opinião deles, não acompanha a velocidade que o serviço e o mercado exigem. A adequação de normas à realidade de 2020/2021 é essencial e é demanda clara dos profissionais. Quanto à normatização e fiscalização, volto a dizer que a ideia é gerar igualdade no processo de fiscalização das demais áreas em todas as regiões. Para a área da fiscalização temos propostas para modernizar e torná-la mais inteligente, baseada em atuação firme e em parceria com o profissional. Quanto à legislação, diversas propostas caminham no sentido de alterar procedimentos antigos que travam o Sistema o quê, por sua vez, dificulta que os leigos contratem e tenham acesso a profissionais qualificados e habilitados. 

Site do Confea: Nas eleições de 2020, seis mulheres foram eleitas para os Creas do Acre, Alagoas, Distrito Federal, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Norte e Rio Grande do Sul. Antes, somavam quatro os Regionais presididos por engenheiras. Qual a sua análise sobre esse crescimento da representação feminina e qual a importância de se fomentar a pauta equidade de gênero no Sistema?

Daniel Iglesias de Carvalho:  Sou professor universitário e convivo com essa realidade. Percebo que, dentro das universidades, elas vêm atuando de forma clara e participativa. Em centros acadêmicos, vejo alunas liderando turmas, participando de escritório modelo e coordenando eventos universitários. Não é mais tão evidente aquela distinção em que Engenharia e Agronomia são profissões masculinas. Na universidade isso já caiu por terra, há anos. O espaço que ocupam nas universidades se reflete na sociedade, no mercado de trabalho. Incentivo que elas assumam cargos de gestão. Vejo com bons olhos a mulher como representante das áreas do Confea. No Sistema, em geral, a participação deve e pode ser maior, tem que crescer por meio da igualdade de tratamento. Dessa forma, as oportunidades vão surgir, aposto demais nas mulheres que entraram para o Sistema, elas serão exemplo para as que ainda não pensaram no assunto. Quando falamos em equidade de gênero é bom relembrar que o Sistema Confea/Crea também pode e deve, na minha visão, ser um agente fomentador da valorização feminina. Ao agir assim, o Sistema será bem visto por homens que não concordam com a discriminação e a desvalorização que envolve gênero. Durante a campanha, diversas profissionais solicitaram que o Sistema se posicione diante de qualquer tipo de discriminação e esse é um compromisso que assumi. E acredito que presidentes e conselheiros devem abraçar essa causa.

Site do Confea: O senhor acredita que a integração dos Creas dentro da região geográfica e de forma nacional é importante? Se sim, quais caminhos possíveis, dos pontos de vista institucional e político? Quais vantagens esse movimento pode gerar para o Sistema e para os profissionais nele registrados? Se não, por quê?

Daniel Iglesias de Carvalho:  Acredito que as reuniões regionais são fundamentais para alinhar situações e soluções que atendam determinada região. O Brasil é muito grande com características culturais diferentes de Norte a Sul, e até mesmo na atuação profissional. O debate interno da região funciona para o alinhamento de propostas a serem apresentadas com mais clareza durante o encontro nacional do Colégio de Presidentes.

Site do Confea: Muito se fala na responsabilidade e habilidades dos profissionais registrados no Sistema Confea/Crea como contribuições diretas para o desenvolvimento do Brasil e para a implantação de políticas públicas que levem à retomada do crescimento nacional. Qual sua essa viabilidade?

Daniel Iglesias de Carvalho:  Na minha opinião, a questão pode ser vista sob duas óticas. A primeira é uma crítica interna. Temos que estar mais unidos, participar das eleições do Sistema que registra baixa participação. O Sistema, por sua vez, tem que se aproximar mais das universidades para que os estudantes, durante sua formação, comecem a entender a importância de existir um órgão normatizador e fiscalizador para  fortalecer as profissões.  A segunda maneira de ver a questão é o fato de que as empresas se ressentem de bons profissionais e não montam equipes e, por vezes, só um profissional atende às várias demandas de um projeto. Com formação multidisciplinar, os engenheiros trabalhavam em bancos e grandes corporações, hoje temos formação profissional especifica e as equipes reúnem várias  profissões que suprem o papel que antes era só do engenheiro.  


Maria Helena de Carvalho
Equipe de Comunicação do Confea