Cuiabá (MT), terça-feira, 9 de setembro de 2003. A Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT) e o governo do Estado bateram o martelo e resolveram apoiar a proposta de implantação de cursos superior e técnico na área de mecânica, reivindicação do Conselho Regional de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Crea-MT). Na semana passada, o próprio reitor Paulo Speller presidiu reunião que contou, inclusive, com a participação do consulado da Alemanha, interessado em intermediar convênios com empresas alemãs para a montagem de laboratórios, conforme já acontece em outras instituições de ensino superior no país. Também na semana passada, o presidente do Crea-MT, Sátyro Pohl Moreira de Castilho, recebeu despacho do governador Blairo Maggi considerando essencial a implantação do curso de Engenharia Mecânica, hoje inexistente em Mato Grosso, para o processo de agroindustrialização que vive o Estado.Na reunião semana passada também estavam presentes representantes do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), da Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Superior e da Associação de Engenheiros Mecânicos. A perspectiva é que a UFMT ganhe três cursos na área: o técnico, o tecnólogo e o superior em Engenharia Mecânica. Uma alternativa para a falta de recursos do governo federal será a participação do Senai, que se comprometeu a ajudar na construção e aparelhamento dos laboratórios, que atenderão tanto ao curso superior, como aos de técnico e tecnológico. O Senai viabiliza a presença da iniciativa privada, interessada no projeto. Provavelmente, os cursos estarão aglutinados no campus da UFMT em Rondonópolis, pólo agroindustrial da região Centro-Oeste. "As providências estão sendo tomadas em ritmo acelerado. Provavelmente, no primeiro semestre de 2004 haverá definição sobre a implantação dos cursos", comenta Sátyro Castilho.A solicitação pelos cursos partiu do Crea-MT. Em julho, foi entregue à secretária de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Superior, Flávia Nogueira, um documento que expunha a necessidade do curso para o desenvolvimento do Estado. Em todo o Mato Grosso, existem cerca de 100 engenheiros mecânicos, número insuficiente para atender às empresas de um Estado de tamanho continental. Vale lembrar que Mato Grosso lidera a produção de grãos e de algodão no país, com elevado potencial inclusive para se tornar um pólo têxtil.Para o gerente de Fiscalização do Crea-MT, Érico de Mello Campos, é uma incoerência para o Estado querer industrializar o que produz sem ter cursos de Engenharia Mecânica. "Exigimos a presença de um engenheiro mecânico porque é lei, mas muitos empreendedores querem contratar o profissional e não o encontram", ressalta.A maior carência de profissionais está nos agronegócios. "A indústria é construída sem orientação técnica. Depois, o Crea fiscaliza e multa a empresa por não ter engenheiro mecânico. A Delegacia do Trabalho diz que o nível de ruído é superior ao permitido. A Fundação Estadual de Meio Ambiente (Fema) ressalta que os poluentes estão excedendo a quantia legal. E assim vai...", descreve Érico. Para o gerente, todas essas infrações poderiam ser evitadas com a presença do engenheiro mecânico.Durante a Fiscalização Preventiva Integrada (FPI) coordenada pelo Crea-MT no setor de bebidas ano passado, a falta de manutenção e falhas na construção de caldeiras impressionaram os fiscais, que interditaram três aparelhos. As empresas, em sua maioria, foram notificadas a fazer reformas e adequações nas caldeiras, o que exige a presença do engenheiro mecânico.O cotidiano nas cidades também é influenciado por este profissional. Os setores de elevadores e condicionadores de ar, por exemplo, não encontram profissionais habilitados para atuar na manutenção, no projeto e na execução dos sistemas. Cuiabá é uma das cidades mais quentes do país, o que torna indispensável o uso constante de condicionadores de ar. O uso inadequado é responsável por problemas de saúde. Nos hospitais, a falta de adequação do projeto ao local pode contaminar o ar do ambiente, prejudicando a recuperação dos pacientes. São detalhes que mostram a importância dos cursos da área de Mecânica não apenas para a agroindústria, mas também para o dia-a-dia de todos. Caroline Rodrigues - Crea-MT
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