Brasília, 15 de dezembro de 2021.
Em entrevista ao diretor de conteúdo do Canal Rural, Giovani Ferreira, transmitida na noite desta terça (14), o presidente do Confea, eng. civ. Joel Krüger, apontou alguns dos principais desafios do país, a serem enfrentados pela Engenharia, Agronomia e Geociências brasileiras. Segundo ele, a inflação preocupa e o PIB enfrenta “alguns soluços”. Apontando problemas como o déficit hídrico do país, o saneamento e a mobilidade urbana, Joel considera que as atividades do Sistema Confea/Crea vêm reagindo bem às intempéries. Ele discorreu ainda sobre os grandes temas que devem pautar a campanha eleitoral de 2022, destacando o papel da ciência para gerar investimentos necessários à população.
Em relação à retomada da economia na chamada pós-pandemia, Joel apresentou um cenário otimista, apesar da preocupação com a inflação e com o PIB. “O processo inflacionário atinge as nossas atividades econômicas. Acreditamos que, no ano que vem, a gente possa ter um certo controle, ficando em um patamar de uns 5, 6%, dentro de um número mais razoável. É algo que precisamos controlar. E o PIB, infelizmente, está ainda com alguns soluços. Em um trimestre, ele vem um tanto otimista, em outro negativo, a gente não consegue enxergar bem o conjunto do PIB brasileiro. Mas a Engenharia, Agronomia e Geociências estão indo muito bem”.
Ele ressalta que a Engenharia, a Agronomia e as Geociências não pararam durante a pandemia. “Em 2020, a gente continuou em plena atividade. Claro que houve toda essa dificuldade econômica, mas, se nós olharmos para as nossas atividades, elas continuaram ocorrendo. Nesse Pós-Pandemia, a gente está bastante otimista. Em 2021, segundo a CBIC (Câmara Brasileira da Indústria da Construção), houve um aumento de 10% na atividade da construção civil. As pessoas voltaram a se planejar, voltaram a adquirir imóveis. Também o agronegócio, que também continuou trabalhando normalmente, teve um crescimento bastante significativo, de 3 a 4%”.
Em relação à participação do Sistema na retomada das atividades, o presidente do Confea identifica ainda grandes oportunidades para o Brasil em áreas como o saneamento e a construção civil como um todo. No entanto, pondera quanto à grande quantidade de desempregados. “Uma das atividades que mais contrata e rapidamente é a construção civil e o saneamento básico. Então, cada obra de construção civil, cada edifício que está sendo construído ou cada quilômetro de saneamento básico que está sendo feito gera muitos empregos. Temos hoje cerca de 40 milhões de pessoas que não têm acesso a à agua potável. Temos metade da população brasileira que não tem acesso a esgoto. Então, essa é uma grande oportunidade de garantir essa infraestrutura, qualidade de vida, saúde para essa população”, diz.
Joel Krüger considera que a Engenharia e a Agronomia são estratégicas para o desenvolvimento nacional. Ele lembra que os investimentos habitacionais geram muitos empregos. “A construção civil apresenta dois gargalos para crescer mais, a falta de materiais de construção e a mão de bora qualificada”. Já no agronegócio, para ele, o país tem trabalhado com uma competitividade muito grande, tornando-se “um player significativo no mercado internacional”.
Sustentabilidade
Questionado sobre a valorização da sustentabilidade e dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável, no cenário posterior à mais recente Conferência do Clima (COP 26), ele considera que o Sistema tem se aproximado bastante dos temas definidos pelos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável por meio da Agenda 2030. “Todos eles estão todos alinhados com a Engenharia, a Agronomia e as Geociências. A questão da segurança alimentar, por exemplo. Quem pode erradicar a fome é quem gera emprego, a Engenharia, a Agronomia”.
Joel especificou o ODS 5, de valorização da participação feminina na sociedade, citando o Programa Mulher, implantado nos 27 regionais. “Estamos fazendo essa discussão da mulher profissional, não apenas das diferenças salariais, dificuldades de trabalho, assédio, mas da mulher na sociedade como um todo. Temos também ações concretas em torno das demais ODS. As nossas profissões, empresas são estratégicas para gerar riqueza e atingir os 17 Objetivos”.
Papel do Sistema
Sobre esse papel social do Sistema, Joel remeteu também que, ao longo da história da humanidade, sempre houve corporações em defesa dos interesses profissionais, mais relacionadas hoje às entidades de classe e aos sindicatos. “Mas temos também as corporações que defendem a sociedade, os conselhos e ordens profissionais que têm papel estratégico. O Confea trabalha nessa linha de defender os interesses coletivos, defender a ciência, a tecnologia, o desenvolvimento, a soberania nacional”, destacou.
Ele exemplificou em torno de algumas questões que afetam o cotidiano dos brasileiros. Considerou que a habitação representa qualidade de vida e citou que, durante a pandemia, as profissões do Sistema tiveram que garantir a segurança nos hospitais, por meio dos engenheiros de segurança do trabalho, engenheiros químicos, engenheiros civis, engenheiros ambientais, engenheiros mecânicos e outros. “As nossas profissões estão na vida da população 24 horas por dia, estão ligadas à qualidade de vida das pessoas. Os Creas, junto com o Confea, buscam atender essas demandas da sociedade, garantir que as profissões sejam exercidas por pessoas qualificadas e defender a sociedade para que ela tem qualidade de vida e segurança”, disse, dando outros exemplos da atuação das atividades do Sistema durante a pandemia.
Complementariedade
Ao ser questionado sobre a complementariedade das atividades ligadas ao Sistema Confea/Crea, o presidente abordou diretamente o contexto do campo. “Quando você fala campo, produção, o primeiro profissional que vêm à mente é o engenheiro agrônomo. É fato, é ele que está ali no dia a dia. Mas para esse engenheiro agrônomo poder exercer a profissão, houve todo um trabalho de ciência, de pesquisa anterior. Então, a pesquisa de laboratório, o desenvolvimento de sementes são atividades que passam por outros profissionais, além do engenheiro agrônomo, como a engenharia química, por exemplo”.
Joel descreve ainda que, na produção, são necessários equipamentos, grandes máquinas utilizadas no campo com tecnologia embarcada. “Então, é engenharia mecânica, engenharia eletrônica, é satélite, telecomunicação. Depois que produz, precisa armazenar, aí entram a engenharia civil, engenharia mecânica. Tem que garantir o meio ambiente, entra a engenharia ambiental. Muitas vezes, a produção atrelada à pecuária, à engenharia florestal, à preservação florestal e outras formas de produção, então entram a engenharia florestal, a engenharia agrícola. E precisamos do tempo, do clima, precisamos da meteorologia para saber como vão ser as condições do tempo. Precisamos da Geologia para saber os produtos que vão corrigir o solo”.
O presidente do Confea considera que “não adianta apenas produzir e produzir bem, até porque o agronegócio é em grande parte para o mercado internacional. Então, se ele precisa chegar, precisa da logística no Brasil e da logística internacional, principalmente a marítima. Então, a infraestrutura é uma questão estratégica para nós e essas atividades trabalham em conjunto e têm que estar integradas”.
Eleições
Em relação ao cenário eleitoral, Joel reconhece a permanência de uma forte polarização política. “Nas últimas décadas, houve uma polarização muito grande, mas isso se intensificou na eleição de 2018. E nos parece que haverá ainda uma polarização muito grande. No momento, o cenário é esse. Claro que na política é como olhar para o céu, toda da vez que você olha para o céu as nuvens estão em um lugar diferente. A leitura de hoje talvez não vá ser a mesma daqui a três meses. É fundamental que os candidatos dialoguem com a Engenharia, dialoguem com a Agronomia e as Geociências, dialoguem com o campo, com a cidade, para que a gente possa fazer o verdadeiro desenvolvimento nacional”.
Para o presidente do Confea, entre os temas ligados às profissões do Sistema, não podem ficar de fora do debate eleitoral, questões como a qualidade de vida das cidades. “Precisamos de 10 milhões de moradias, saneamento, mobilidade urbana. Temos problemas muito sérios de qualidade de vida. Não é justo que uma pessoa passe três, quatro horas em um transporte coletivo. É desumano. Precisamos resolver essa questão da infraestrutura das cidades. E para resolver precisamos de tecnologias, cidades inteligentes, inovação. Precisamos de soluções novas, e não das mesmas soluções de 10, 15 anos atrás para esses problemas já históricos”.
Krüger retomou o cenário Pós-Pandemia, considerando que o trabalho remoto deverá ser uma das alternativas. Em muitas atividades, diz, não é necessário a pessoa estar no seu local de trabalho. “Isso vai dar qualidade de vida para a pessoa, desafoga o transporte coletivo. Vejo na questão do campo que precisamos valorizar as nossas atividades, seja na agricultura familiar, a produção dos alimentos do dia a dia, seja no agronegócio, que também é estratégico para a nossa balança comercial com esse potencial maravilhoso que temos. Também precisamos estudar com seriedade a questão energética. Se voltarmos a crescer 4%, 5% ao ano, em dois anos, falta energia no Brasil. E temos que trabalhar com energia limpa. Passamos também por sérios problemas de água em nossas cidades”.
Joel considera necessário também discutir a mineração e a Amazônia como um todo. “Ninguém quer derrubar a Amazônia, mas também não dá para não utilizá-la de maneira sustentável. A própria floresta precisa do manejo adequado para não morrer sozinha. Discutir a Amazônia, a riqueza mineral, nós precisamos disso para gerar riquezas para o país. E atacar o desemprego, e aí a Engenharia, a Agronomia e as Geociências são estratégicas. Podemos contribuir muito para estimular a geração de empregos. De outro lado, precisamos desenvolver as ciências, precisamos ter tecnologias. Investindo em ciências, com certeza a gente vai gerar riquezas e qualidade de vida”.
Equipe de Comunicação do Confea