Brasília, quinta-feira, 29 de abril de 2004. Pouco mais de 48 horas depois de a Organização Mundial de Comércio (OMC) ter dado prazo de seis meses para a retirada dos subsídios norte-americanos às exportações do algodão, por contestação do Brasil, o secretário executivo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), Mário Mugnaini, falou ao Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea). No segundo dia da plenária ordinária 1321, que acontece em Brasília de 28 a 30 de abril, ele relatou a as expectativas brasileiras para a conjuntura comercial exterior e traçou perspectivas de atuação dos profissionais ligados ao Sistema Confea/Crea no cenário que se configura.Mugnaini, engenheiro químico, fez um retrospecto da situação macroeconômica e da inserção do país no contexto internacional. "Hoje, com a dinâmica da economia mundial, com nossa inflação controlada e cambio estável, percebemos um bom momento para o país e um vasto campo comercial a ser explorado", considerou. Realmente, levando em conta a atual desenvoltura brasileira, muito há que se fazer: o país é o 25o do mundo em exportações, com volume que chega a US$ 73,1 bilhões. A Bélgica é o décimo maior exportador, com US$ 254,6 bilhões. "Não podemos nos contentar em exportar três vezes e meia menos do que um país do tamanho do estado de São Paulo", afirma Mugnaini. Nas importações estamos ainda mais abaixo, na 30a colocação, com US$ 50 bilhões. "Um país que importa pouco não tem condição de crescer", decreta o engenheiro, que projeta um aumento entre 15% e 20% até o fim do ano. "Esperamos, ao final deste governo, chegar nos US$ 100 bilhões, o que significa um aumento importante", estima.Custo versus benefício - O problema mais grave, segundo Mugnaini, é a relação entre os valores reais das exportações e a quantidade de produtos que mandamos para fora do país. "A importância em dinheiro permaneceu mais ou menos estável nos últimos 10 anos, mas a curva dos produtos exportados, em peso, aumentou assustadoramente", explica. Isso quer dizer que as exportações brasileiras, na sua maioria comodities, estão cada vez mais baratas no mercado externo. Mugnaini alerta sobre a necessidade de exportar bens com maior valor agregado, ou logo não teremos infra-estrutura em condições de suportar tal dinâmica. "Vamos acabar gastando o saldo da balança comercial com a manutenção e desenvolvimento de estradas, portos e silos", ironiza.Os planos para a ligação infra-estrutural com a América do Sul, segundo ele, já estão bem demarcados: "precisamos muito de uma saída para o Pacífico e estamos trabalhando para isso". De acordo com Mugnaini, o eixo de integração com países vizinhos, para facilitar a exportação e a importação, deve estar consolidado em poucos anos. O acesso ao Oceano Pacífico também vai diminuir os custos com o frete, tornando o produto brasileiro mais competitivo no mercado asiático, por exemplo.As vias que ligarão os países, por transporte rodoviário, ferroviário e fluvial, também intensificaram a importação de produtos. "A jazida de fosfato, para a indústria de adubo, e a farinha de peixe são produtos fortes do Peru, aos quais teremos acesso por um preço muito menor", lembrou Mugnaini. O projeto também vai melhorar o abastecimento de combustível da região norte. "Hoje, é preciso trazer o produto de São Paulo. Fica muito mais barato importar da Venezuela, que é bem mais próxima" reitera. Ainda há projetos de interligação com Bolívia e Argentina, que darão nova saída para o mar e outras alternativas para gás e energia elétrica.Novas possibilidades - "A engenharia e a arquitetura brasileiras têm nesses planos, um grande desafio e uma boa oportunidade", diz Mugnaini, que espera ser o capital nacional, por meio do BNDES e do Proex, o principal financiador das obras. "A idéia é ganhar espaço para essas atividades em obras de grandes proporções na América do Sul, região próxima e onde temos certa vantagem relativa", explica o engenheiro. Todavia, ele não sabe exatamente como se dará o exercício profissional no exterior, especialmente no âmbito do Mercosul, assunto ainda em debate nos foros deliberativos do bloco. "Não há dúvida de que uma empresa brasileira poderá atuar na Argentina. O que não se sabe, porém, é se um brasileiro poderá assinar o projeto", reforça. Gustavo Schor - Da equipe da ACOM
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