Brasília, terça-feira, 9 de setembro de 2003. O XII Cobreap - Congresso Brasileiro de Engenharia de Avaliações e Perícias - promovido pelo Ibape Nacional e realizado pelo Ibape-MG, contou com a presença e prestígio de renomados profissionais nacionais e internacionais, entre eles a engenheira Maria dos Anjos Ramos, professora da Universidade Politécnica de Valência (Espanha), que participou como debatedora da palestra Novas Tendências Mundiais em Avaliações e é coordenadora da equipe de engenheiros que está avaliando a Casa dos Contos de Ouro Preto, primeira Casa da Moeda do Brasil. Maria dos Anjos concedeu entrevista exclusiva à Assessoria de Comunicação (ACS) do Confea abordando, entre outros assuntos, as novas tendências dessa prática profissional e as técnicas de avaliação de bens históricos. Acompanhe:ACS - Quais são as novas tendências da avaliação e perícia?Maria dos Anjos - A avaliação, como tudo mais nesse momento no mundo, vive um grande clima de incerteza, ou seja, há vários caminhos e acho que todo mundo está buscando descobrir qual é o melhor. É evidente que sendo a avaliação, que está naturalmente agregada ao resto das atividades do homem, atividades de âmbito social e econômico sobretudo, as alterações sociais, econômicas e políticas que estamos vivendo também alteram o papel do avaliador. Alteram mais no acessório do que no essencial, porque o essencial se mantém, ou seja, o avaliador continua sendo o homem que dá um valor normalmente traduzido por um montante monetário. ACS - Como é chegar a esse valor?Maria dos Anjos - Chegar a essa valor é um caminho que pode ser tão simples, empírico, como emitir uma simples opinião que leva a dizer vale este ou aquele valor. É importante ressaltar que estamos falando de pessoas sérias e competentes que trabalham com base nos seus conhecimentos e nas suas experiências anteriores. Essa opinião é dada por pessoas (profissionais) acima de qualquer suspeita que emitem sua opinião sem paixão e sem interesse pessoal no assunto, isso é o essencial. Em termos de acessório há muita coisa que o avaliador tem que conhecer, em termos de questões de direito, questões legais e políticas e às vezes o avaliador tem que ser até um pouco vidente. Explico o que quero dizer: em determinadas situações, o avaliador dá um valor cujo efeito permanece no tempo, enquanto que fazemos avaliações que o efeito é para hoje, fazemos outras que o efeito tem ser atemporal, como por exemplo, avaliações para garantia hipotecária ou para fazenda pública, que os seus efeitos vão perdurar no tempo. Não como é no Brasil, mas em Portugal, nas avaliações para garantia hipotecária os prazos são muito longos, quase até a eternidade. Então, esse valor tem que permanecer no tempo. Não é que permaneça imutável, mas tem que garantir o financiamento durante toda sua vigência, não pode perder valor.Mas e esse conceito popular que os imóveis valorizam sempre?Maria dos Anjos - Há situações sobre o ponto de vista tradicional que diz que os imóveis valorizam sempre, mas isso não acontece sempre e às vezes acontece por ciclos: valoriza-se numa determinada época, desvaloriza-se noutra. É importante que essa avaliação seja feita por um técnico que entenda de construção, em virtude das funções construtivas. Hoje, ninguém constrói como construía há 20 anos, mudaram não só os termos estéticos como também da qualidade de materiais, um exemplo: tipos de azulejos que numa determinada época valorizavam muito uma construção, hoje não são mais usados. Por isso que algumas avaliações têm que ter critérios especiais, devido seu caráter atemporal o valor tem que se manter. Na Europa estabeleceram regras que tentam produzir o valor desse ciclo de sobe (valorização) e desce (desvalorização) durante muitos anos. Em países como a Alemanha isso é um pouco possível porque trata-se de uma economia muito estruturada, mas mesmo com esta estabilidade acontecem falhas.ACS - Essa questão de estabelecer um valor que não se perca com o tempo pode ser apontada como um dos principais objetivos da avaliação?Maria dos Anjos - Sim, se você vai comprar uma casa para você viver e tem a preocupação do investimento, já tem que ter esta visão. Mas normalmente os compradores conhecem muito pouco do que é o mercado imobiliário e do que é o mercado da construção. As pessoas são muito facilmente enganadas com as questões estéticas e decorativas e não se preocupam com a qualidade do material, segurança da construção, condições térmicas e acústicas. Por exemplo, o que se pode poupar de energia com a utilização de determinados tipos de vidro, em termos de condições acústicas pode-se evitar o stress das pessoas que ocorre quando se está dentro de uma casa que é exposta a barulhos de carro, avião. Esta questão do conforto é de fundamental importância e as vezes o próprio avaliador deixa de lado levado pelas imposições do mercado, que nem sempre funcionam com racionalidade.ACS - As pessoas hoje estão preocupadas com sua qualidade de vida quando compram uma casa?Maria dos Anjos - As pessoas são muito sensíveis as questões de marketing. Se é moda viver num determinado bairro, as pessoas vão mais pela moda do quê pelo número de árvores. Infelizmente, essa foi a razão que levou muitos bairros a serem mal feitos, graças a Deus que hoje as coisas estão mudando. Começa a haver uma preocupação e hoje temos estudos feitos, inclusive, em que se verifica que o número de árvores, numa determinada região, é uma variável formadora do valor das habitações nessa região. Mas isso é um processo que vai levar tempo para integrar a cultura das populações.ACS - Qual o atual perfil profissional que o mercado pede ao avaliador?Maria dos Anjos - As tendências mundiais hoje têm base que são comuns em todo mundo, quando não são é porque há destruição do papel do avaliador, mas que tem a ver com a sua formação. Formação não só acadêmica, mas humana do avaliador. Hoje, com as novas tecnologias, é muito fácil saber o que se passa em todo mundo e de preferência, se puder viajar, é muito positivo. Nós fomentamos isso com nossos alunos em Valência, aconselhamos a eles que se desloquem a outras cidades, que vejam outras realidades, que falem com outros profissionais, que compartilhem, que entrem em fóruns de discussão porque essa troca de opiniões é que vai consolidar seus conhecimentos. A troca permite estabelecer comparações, afinal de contas avaliar é comparar. Então, defino o perfil do avaliador que o mercado busca como o que soma sua formação profissional com a curiosidade, ou seja, a busca contínua de novos conhecimentos, das novas tecnologias, de tudo que for possível lhe acrescentar experiências.ACS - Qual a diferença de executar avaliações em prédios comuns e prédios considerados históricos, como a Casa dos Contos, em Ouro Preto, cuja avaliação a senhora está coordenando?Maria dos Anjos - É preciso ler muito. Para isso é fundamental o trabalho multidisciplinar, ou seja, é importante que a equipe de avaliação seja pluridisciplinar. Eu procuro nunca fazer um trabalho de avaliação de monumentos ou prédios históricos sozinha. Embora haja momentos em que é preciso uma certa solidão para pensar no assunto, avaliar as informações. Até chegar aí a discussão é fundamental. Eu costumo dizer que no início, a equipe deve concordar o mínimo possível. Só não é necessário que cheguem aos tapas, mas a discussão deve ser acalorada, porque há muitos detalhes que às vezes, são fundamentais para a atribuição do valor, que são visíveis a uns e podem passar despercebidos a outros e muito mais ainda a uma pessoa que estevir avaliando sozinha. Por isso é importante que seja uma equipe. É importante ressaltar que lutamos sempre contra o tempo, normalmente o cliente pede uma avaliação para ontem. Então, se o avaliador não tem tempo para estudar, para analisar, para digerir as informações, corre o risco de dar um parecer precipitado. E há também a necessidade de se fazer muitas avaliações: de indústrias, do pequeno apartamento, do grande edifício porque se você se especializa muito, terá muita dificuldade de fazer avaliação de prédios históricos, porque é a diversidade do trabalho que traz à tona a sensibilidade, isto é, dá condições ao avaliador de separar o acessório do essencial.ACS - Como assim?Maria dos Anjos - Se o avaliador se especializa muito numa determinada área e não tem outras experiências, algumas vezes pode se prender ao acessório, até porque é normal do ser humano se impressionar com a beleza, com uma má aparência de degradação do imóvel e, às vezes, um imóvel degradado tem mais valor que um muito bem restaurado. Outro fato é que é necessário saber muito de construção, restauração, conhecer os materiais, a história da restauração que vem do tempo dos gregos, dos romanos... E conhecer a história do próprio prédio, o que significou para a sociedade este prédio durante os séculos, o impacto do prédio no sítio histórico, como também saber tudo sobre as restaurações que forma feitas nele. Por exemplo, houve época em que o restauro só serviu para destruir o imóvel porque não houve conhecimento de determinado tipo de ácido na sua relação com a umidade e com materiais que já haviam perdido a elasticidade, o que provocou alta corrosão com ferrugem que se transformou em manchas vermelhas e as pedras, que eram extraordinárias, foram destruídas. Bety Rita Ramos - Da equipe da ACS
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