Alfredo Scheid Lopes

Engenheiro Agrônomo pela Escola Superior de Agricultura de Lavras (ESAL), em 1961; Mestre em Soil Science e Doutor em Soil Fertility pela Universidade da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, em 1975 e 1977, respectivamente

Nascimento: Minduri (MG), 19 de dezembro de 1937
Falecimento: Lavras (MG), 23 de maio de 2020
Indicação: Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG)

Uma das pesquisas agrícolas mais expressivas do século XX foi conduzida por um visionário engenheiro agrônomo brasileiro, Alfredo Scheid Lopes. É dele o estudo pioneiro sobre os solos do Cerrado que revolucionou a agricultura no Brasil na década de 1970. A investigação demonstrou que era possível estabelecer estratégias para o manejo sustentável da fertilidade dos solos desse bioma, transformando-o em uma das principais regiões produtoras de grãos do país.

Graduado, em 1961, pela Escola Superior de Agricultura de Lavras (ESAL), atual Universidade Federal de Lavras (UFLA), Alfredo ingressou no ano seguinte no quadro de servidores da instituição, como professor de Ciência e Fertilidade do Solo, no Departamento de Agronomia. Assumiu diversos cargos na escola e posteriormente na universidade, como chefe de seção e departamento, professor de graduação e pós-graduação e coordenador de pesquisas, além de membro de conselhos e comissões.

Foi durante o mestrado na Universidade da Carolina do Norte (EUA), entre 1972 e 1975, que o engenheiro agrônomo identificou que era possível diagnosticar a baixa fertilidade natural dos solos do Cerrado e as restrições que limitavam o uso agrícola. A pesquisa permitiu entender o comportamento de fixação de fósforo nesses solos e desenvolver soluções sustentáveis para superar as deficiências nutricionais, tornando o bioma produtivo.

Para a universidade norte-americana, Alfredo transportou 518 amostras que totalizavam mais de 1,5 tonelada de terra coletada numa área de 600 mil km², ou um terço da área total do Cerrado, em 60 municípios de Goiás, Minas Gerais e do Distrito Federal. O estudo foi aprofundado no doutorado, de 1975 a 1977, na mesma instituição, com o resultado divulgado em periódicos de prestígio mundial na época. 
No ramo de Fertilidade e Manejo de Solos, onde escolheu construir carreira, desenvolveu mais de cem trabalhos e passou a ser referência, mesmo após a aposentadoria, em 1993, e o falecimento, em 2020.

Prova disso é que em 2016, Alfredão, como era conhecido, foi convidado pela renomada revista “Advances in agronomy” para elaborar releitura da dissertação de mestrado, apresentada 40 anos antes. Em 2017, traduziu dois livros da área e lançou a quarta edição do “Guia de fertilidade do solo”. Seu último trabalho foi a tradução do clássico “Propriedades e manejo de solos nos trópicos”. Ele estava a apenas 300 páginas de finalizar a obra quando faleceu. Após quatro anos de sua morte, a tradução foi finalmente concluída por pessoas que o auxiliaram ao longo do processo, as quais definem a publicação como um tributo ao “Alfredão, um homem multitalentos”.

Sua vasta experiência em gestão de solos ácidos o levou a ocupar o cargo de diretor técnico da Associação Nacional de Difusão de Adubos (Anda) em São Paulo, de 1986 a 1989. Também por conta da expertise, foi convidado a palestrar em inúmeros países, incluindo Austrália, Filipinas, Japão, Itália, Inglaterra, Venezuela, EUA, Colômbia, Quênia, México, Argentina, Indonésia, China, Holanda, Alemanha, Espanha, Portugal, França e Singapura.

Em 2019, foi indicado para concorrer ao World Food Prize, que corresponde ao Prêmio Nobel de Agricultura, patrocinado pela General Foods Corporation nos EUA. Naquele mesmo ano, o nome de Alfredo foi proposto ao EUA Awashi IFFCO Award, na categoria Life Time Achievement in the Field of Agriculture Development and Agriculture Research pela The Fertilizer Association of India.

A paixão pela ciência dos solos foi vivenciada nas salas de aula da ESAL e, mais tarde, da UFLA, considerada por ele “um amor à primeira vista, que só se perpetuou”. Em mais de meio século de história com a instituição, Alfredão realizou seu projeto de vida. “Sempre transformei desafios em oportunidades. O magistério e a ciência do solo são profissões de fé na continuidade da produção de alimentos com sustentabilidade ambiental e é essa a profissão de fé que espero de meus alunos. Meus alunos são a razão da minha existência”, disse em um discurso emocionado ao receber o Prêmio Pesquisador Sênior do Instituto Internacional de Nutrição de Plantas (IPNI, na sigla em inglês), em 2013. A láurea reconhece pesquisadores brasileiros que colaboram para o desenvolvimento e a promoção da informação científica sobre manejo responsável dos nutrientes das plantas.

Sua dedicação à universidade foi além da sala de aula. Antes da federalização, a ESAL enfrentava o risco de ser fechada. Para evitar que isso ocorresse, Alfredo e outros professores e servidores trabalharam por aproximadamente dois anos sem receber salário. Em outra época, ele organizou iniciativas para captar recursos e convênios para a instituição. Aposentado em 1993, continuou como docente voluntário na UFLA, traduzindo artigos e incentivando alunos.

Em homenagem ao professor, a universidade criou em 2017 o Prêmio Alfredo Scheid Lopes, honraria concedida ao melhor trabalho apresentado durante o Simpósio de Ciência do Solo. Diversas outras instituições reconheceram a relevância de Alfredo para a carreira de Agronomia no mundo. Da Food and Agriculture Organization (FAO), ele recebeu Certificado de Mérito em 1976. Foi intitulado pesquisador do Ano de 1986 pela Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), além de professor emérito pela Associação Brasileira de Educação Agrícola Superior (Abeas) em 1989 e pela UFLA em 1991. Ganhou o Prêmio Ceres de Produtividade Agrícola em 1990.

Na UFLA, foi paraninfo dos formandos em 1992, 1996, 1999, 2000, 2006 e 2007. A Assembleia Legislativa de Minas Gerais o agraciou em 1993 com a Medalha Antônio Secundino de São José. Em 1995, conquistou o Prêmio Internacional de Fertilizantes, da International Fertilizer Industry Association. Já o CNPq o reconheceu como pesquisador emérito em 2008. O Prêmio Heróis da Revolução Verde Brasileira foi dado a ele em 2013 pela Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Associação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), FAO-ONU e Embrapa. Pelos relevantes serviços prestados à Engenharia, recebeu Medalha do Mérito do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Minas Gerais (Crea-MG) em 2016.

Alfredo não colecionou premiações apenas na vida profissional. Na juventude, foi atleta de destaque no Brasil, conquistando vários títulos com seu 1,96 metro. Foi campeão sul-americano de salto em altura, integrante da equipe brasileira de atletismo por cinco anos, tendo participado de torneios no Uruguai, Argentina, Peru e Chile. Sagrou-se campeão brasileiro em salto em altura, salto triplo e extensão e foi o melhor atleta universitário durante cinco anos em Minas Gerais. Integrou ainda as seleções mineiras de basquete e universitária de vôlei.

Além de todas essas realizações, foi jogador de futebol do Fabril e da Olímpica, em Lavras, por 18 anos. Em 1957, jogando pelo Fabril Esporte Clube de Lavras, enfrentou Pelé em sua primeira partida pelo Santos em Minas Gerais. O placar foi 7 a 2, com quatro gols do jovem de 16 anos, que mais tarde se tornaria o Rei do Futebol. “Não tinha jeito de marcar o Pelé, não. Meus amigos até hoje me perguntam se eu estou procurando o Pelé. Mas eu fiz dois gols, um de falta e outro de cabeça”, contou Alfredão, dono da camisa 4 conhecido como zagueiro artilheiro, em entrevista ao Programa Globo Esporte MG, em 2020.

Como se vê, o legado de Alfredo Scheid Lopes transcende suas contribuições científicas, revolucionando a produção de alimentos no Cerrado e beneficiando a saúde humana em diversas regiões da América do Sul e da África. Sua dedicação ao ensino e ao manejo sustentável dos solos inspirou gerações de agrônomos e pesquisadores. Ainda hoje, seus estudos continuam a influenciar a Agronomia globalmente, sendo lembrado como cientista inovador, mentor generoso e um ser humano de grande coração. Alfredo é um exemplo eterno de como o trabalho árduo e a perseverança podem transformar realidades e deixar um impacto duradouro.