Segurança hídrica garante saúde, sustento e produção

Brasília, 08 de maio de 2017. 

"Presidente do Conselho Mundial da Água pontua que segurança hídrica significa proteger a sociedade de perigos associados a enchentes e secas e garantir acesso das pessoas à água, contribuindo para seu desenvolvimento social e econômico."

O Fórum Mundial da Água é organizado a cada três anos pelo Conselho Mundial da Água e pelo país e cidade anfitriã. Ao todo, já ocorreram sete edições, as quais foram distribuídas estrategicamente em países de diferentes continentes. Essa distribuição busca representar as diferentes temáticas de usos e de gestão do recurso água. A última edição do evento aconteceu em 2015, na Coreia do Sul, em duas cidades: Daegu e Gyeongbuk. A agenda, que é a mais importante sobre o tema da água no mundo, contribui para o diálogo do processo decisório sobre o assunto em nível global, visando à segurança hídrica por meio da criação de infraestrutura e uso racional e sustentável deste recurso. Por sua abrangência política, técnica e institucional, o Fórum tem como uma de suas características principais a participação aberta e democrática de um amplo conjunto de atores de diferentes setores, traduzindo-se em um evento de grande relevância na agenda internacional. Participam governantes, especialistas acadêmicos, representantes de órgãos de fomento, ONGs e empresas que atuam no setor. 

Para o presidente do Conselho Mundial da Água, instituição responsável pela organização do Fórum, a temática da próxima edição tem relevância no contexto atual. “O tema ‘Compartilhando a Água’ é muito importante porque 261 países dividem bacias hidrográficas e com esse recurso se tornando cada vez mais escasso, é importante criar políticas que permitam o seu uso racional em conjunto”, destaca Benedito Braga, para quem a crise da água no mundo não é apenas uma ameaça em si mesma, mas um risco múltiplo, envolvendo saúde, produção de alimentos e geração de energia, entre outros campos, e se refletindo diretamente na estabilidade política e social.

Nesta entrevista exclusiva ao site do Confea, Braga alerta ainda que segurança hídrica significa disponibilidade confiável em níveis aceitáveis de quantidade e qualidade de água para saúde, sustento e produção, conjugada a um nível também aceitável de riscos. “Em outras palavras, significa proteger a sociedade de perigos associados a enchentes e secas e garantir acesso das pessoas à água, contribuindo para seu desenvolvimento social e econômico.

Mas esse avanço exige infraestrutura e isso só se consegue com investimento de longo prazo. O que significa que nas próximas décadas precisaremos, aqui no Brasil e no mundo todo, de mais infraestrutura, uso eficiente dos recursos, planejamento e governança fortalecida. Ou seja - usando uma adaptação livre - a construção da resiliência do setor envolve três “i”s: Instituições (governança, comitês de bacia, regulação e organizações que deem suporte); Infraestrutura (aumentar a capacidade de armazenamento para resiliência a eventos extremos) e Investimento (a infraestrutura hídrica tem custos associados elevados)”.

Citando dados do Banco Mundial, Benedito Braga lembra que para garantir o abastecimento de água e saneamento até 2030, será necessário um investimento aproximado de U$ 50 bilhões anuais. E o benefício direto de se atingir a segurança hídrica em nível global seria um crescimento da economia mundial de 0,5%, o que significaria um incremento de U$ 500 bilhões anuais de riqueza produzida. “Superar esses desafios é um chamado para as lideranças nos níveis governamentais mais altos em todo o mundo. Vamos continuar trabalhando juntos e unir esforços para dar à segurança hídrica a importância que ela merece”, convida Braga. Confira mais informações na entrevista a seguir:

 

Site do Confea: Qual a importância de recepcionar esse evento pela primeira vez no país e quais as expectativas?

Bendito Braga: Em 2014, a candidatura do Brasil foi selecionada e Brasília a escolhida como cidade-sede do evento. Desse modo, o Brasil sediará em 2018 a 8ª edição do Fórum, tendo como tema central “Compartilhando Água”, e o evento ocorrerá pela primeira vez no hemisfério sul. Na Coreia, em 2015, foram 40 mil visitantes e 18 mil participantes diretos em palestra e workshops. A expectativa é de que em Brasília tenhamos ainda mais pessoas. O Fórum tem painéis globais e também regionais, com temas como investimento, ecossistemas, governança e sustentabilidade não só na área ambiental, mas também na econômica e social. A parte mais técnica do evento, com os órgãos técnicos e governamentais, acontece no Centro de Convenções Ulysses Guimarães. A parte empresarial acontece no Estádio Mané Garrincha, na feira anexa. É um evento que fará com que os olhos do mundo se voltem ao Brasil, que, além de tudo, é detentor de uma das maiores reservas de água doce do mundo.

 

Site do Confea: Entre os dias 21 e 23 de março, profissionais do Sistema Confea/Crea e Mútua da região de São Paulo vão se reunir em Campinas para o primeiro Preparatório da Engenharia e Agronomia para o Fórum Mundial da Água. O objetivo da agenda é subsidiar as lideranças profissionais para que definam suas contribuições e posicionamentos a serem levados ao Fórum Mundial, em 2018. Para o senhor, qual a importância de engenheiros, agrônomos e demais profissionais da área tecnológica participarem ativamente do Fórum? Como esses profissionais podem contribuir efetivamente?

B.B.: Como dissemos acima, a segurança hídrica requer infraestrutura e não há infraestrutura sem engenharia. Precisamos de soluções de obras e soluções que permitam não só encontrar novas fontes de água, como formas de usar de forma mais racional este recurso. E para isso, os agrônomos também são fundamentais, já que cerca de 70% do uso da água é para a agricultura. Também são fundamentais no estudo e planejamento do uso dos recursos hídricos os profissionais das áreas de geologia, geografia e meteorologia. Precisamos conhecer bem os nossos recursos e saber com o que podemos contar hoje e no futuro.

 

 

Site do Confea: A partir da sua experiência à frente da Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos de São Paulo, como o senhor avalia a questão da água no estado e no Brasil? Quais as possíveis soluções que podem reverter principalmente a chamada crise hídrica e ampliar o acesso da população à água? Qual o papel dos profissionais da Engenharia, Agronomia, Meteorologia, Geologia e Geografia no enfrentamento deste desafio?

B.B.: A afluência em 2014 foi metade daquela registrada em 1953, que era a referência anterior de ano mais seco em 85 anos de registros. E em seguida veio 2015, que também foi um ano de poucas chuvas. Ou seja, foi um fenômeno que surpreendeu a todos. Estávamos preparados para uma situação até pior do que a de 1953, mas não tão abaixo assim em termos de afluência. Para se ter uma ideia, a probabilidade de acontecer um evento como este é de apenas uma vez a cada 125 anos. Para combater essa aguda crise hídrica, as ações se basearam em três pilares; 1) A realização de obras emergenciais para aumentar a disponibilidade de água, seja água bruta através de novas captações, seja água tratada, na ampliação da capacidade de produção de alguns sistemas que estavam com melhores condições. 2) A conscientização da população sobre a necessidade de modificar um padrão de consumo que era excessivo e que não considerava de fato a água como recurso escasso e finito. 3) Aumento da interligação dos sistemas, possibilitando que aqueles que estavam em melhores condições ajudassem a atender áreas até então abastecidas pelos sistemas mais afetados pela seca, ou seja: o Cantareira e o Alto Tietê. Com estas medidas, planejadas e realizadas pelo excelente corpo técnico da Sabesp, nós conseguimos ultrapassar o período crítico gerado por um fenômeno climático de proporções inéditas nos nossos registros. São Paulo não parou e hoje outros estados e países vêm para cá conhecer o que foi (e está sendo) feito. Um exemplo é a vinda de técnicos da Companhia de Saneamento do Distrito Federal (Caesb) para conhecer unidades de tratamento com uso de membranas, e o empréstimo das bombas do Cantareira para aliviar os efeitos da seca no  Nordeste, fazendo a água do Rio São Francisco chegar mais cedo para cidades da Paraíba. No aspecto da infraestrutura, com obras já inauguradas e outras em andamento (como o São Lourenço e a Interligação Jaguari-Atibainha), houve rápido avanço e podemos contar hoje com segurança hídrica para enfrentar fenômenos climáticos ainda mais extremos. Paralelamente, a mudança de comportamento da população, incentivada por programas de conscientização e aplicação de bônus e ônus, gerou uma redução média de 15% no consumo. Ou seja, a crise hídrica nos fez antecipar obras e ações, mas também acelerou o nosso aprendizado – não só dos técnicos, mas de toda a sociedade. E hoje estamos muito mais preparados para situações climáticas ainda mais graves que possam ocorrer.

Equipe de Comunicação do Confea