Brasília, quinta-feira, 7 de novembro de 2002. "Foi um processo extremamente trabalhoso dada a pluralidade que compõe o nosso Sistema. Não se tratava apenas de fazer uma codificação da norma ética para esta ou aquela categoria profissional, mas para um universo bastante complexo que é o nosso Sistema composto de seis profissões, diversas modalidades e centenas de especializações". A declaração é do consultor arquiteto Jaime Pusch, que acompanhou todo o trabalho de elaboração do novo Código de Ética dos profissionais da área tecnológica, concluído no último dia 6, em reunião extraordinária do Colégio de Entidades Nacionais (CDEN), realizada na plenária do Confea.Para Pusch é justamente nessa pluralidade - que traz dificuldades em algumas questões - que está a grande riqueza do Sistema Confea/Crea. "Essa condição nos traz um desafio adicional que em outras profissões não encontraríamos: temos que definir o que há de comum entre as várias profissões que fazem parte da constelação alojada na organização. Esse foi o ponto fundamental de todo o trabalho. Sabemos em quê somos diferentes, buscamos durante o processo o que temos de comum", explica.Na avaliação do consultor essa busca teve resultado extraordinário. "Quando achamos a convergência das práticas tecnológicas do saber científico, tecnológico e técnico das profissões, descobrimos os traços e as manifestações artísticas comuns também. Então, ficou muito bonito esse aspecto da definição porque, enfim, conseguimos fazer mais do que um código de ética, criamos uma identidade para as profissões. E cada uma dessas profissões abriu um caminho para a sua identificação própria dentro dessa constelação toda", comemora o consultor.Para ele a definição de uma entidade para todas as profissões, o elo comum e a abertura de um caminho para que cada uma busque sua identidade foram os grandes ganhos do processo. "Fomos muito além da simples definição dos parâmetros éticos e comportamentos dos profissionais, há uma política de valorização das profissões, que fala, necessariamente, da identidade, da inserção das profissões na sociedade e da inserção dos profissionais em suas próprias profissões. O código passa a ser uma base de trabalho, não está encerrado. Ele apenas começa um processo", esclarece.No entendimento de Pusch, o Código aprovado contém um fundamento muito forte para a auto crítica não só nas condutas profissionais, mas na questão da identidade e da inserção na sociedade. "Vamos deixar de olhar para nosso próprio umbigo e passaremos a olhar para fora, para frente e para cima. Então, nós estamos procurando essa identificação com a inserção social e o Código está expressando essa nova atitude ética", destaca.Para deixar mais claro a mudança a que se refere ele explica: "No novo texto quando falamos em auto título de honra, não nos referimos mais a honorabilidade da profissão, que diz respeito ao título que temos, mas estamos usando a palavra honra na questão de honestidade, de conduta honesta, comprometida com a nossa sociedade e com a humanidade de uma maneira mais ampla", enfatizou.O código vigente tem 31 anos de idade, para Pusch o novo está trazendo o antigo para a atualidade, com ampliações em diversas direções. "Primeiro, é estendido para as demais profissões que ainda não estavam contempladas no Código vigente, que se restringe a obrigatoriedade de observância de somente três profissões. Segundo, ele estende o alcance dos princípios éticos para além do próprio umbigo, dentro dessa perspectiva de atendimento aos anseios nacionais sociais do ser humano desde o nível do indivíduo até a humanidade universal.O consultor enfatiza ainda que o novo tem uma postura moderna. "Estamos trabalhando com conceitos de cidadania, uma coisa bem moderna porque a discussão de cidadania surge com a afirmação do estado democrático de direito na Constituição de 1988 e isso agora está impregnando os nossos neurônios, estamos pensando na idéia de cidadania", diz, explicando que a derrocada das ideologias formais e tradicionais foi muito importante para influenciar a conduta mental dos formadores dessa notificação no sentido de que a ideologia que hoje se conjuga é a da solidariedade responsável.Pusch lembra ainda que a ideologia, grande divisor dos homens, não está presente, foi definitivamente afastada. "Estamos falando hoje em juntar, incluir, não mais dividir. São conceitos muito modernos, muito atuais, que afloraram dentro dessa estrutura documental que conseguimos produzir e lograr aprovação. Eu diria, na íntegra. As grandes alterações, nessa reta final, foram pontos e vírgulas, adjetivos, substantivos, enfim sononímias", conclui. Bety Rita - Da equipe da ACS
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