Brasília, 15 de dezembro de 2020.
Em um momento de recomeço e do tão esperado fim da pandemia, a construção civil e os seus profissionais envolvidos são peças fundamentais na retomada do emprego e da renda das cidades brasileiras. Essa foi a reflexão proposta pelo presidente do Confea, durante o webinar “Engenharia & Inovação 2020”, promovido pelo Crea da Bahia nesta terça-feira (15). Confira aqui a íntegra do seminário online.
Na palestra “Desafios e Oportunidades para a Engenharia Civil”, Joel Krüger falou das perspectivas para o segmento da construção. “Não temos como cravar uma projeção de longo prazo, em função da pandemia de covid-19. Por isso, apresento números atuais e previstos para 2021, relacionados a esse setor que é o carro-chefe do desenvolvimento”, comentou o presidente do Conselho Federal.
Ao analisar o contexto brasileiro, Krüger manifestou boas expectativas em relação à economia, considerando que o Produto Interno Bruto (PIB) teve elevação de 7,7% no terceiro trimestre deste ano, e o PIB da construção cresceu 5,6% no mesmo período, em relação ao segundo trimestre. “Esse cenário demonstra um vigor grande da construção civil rumo à recuperação”, enfatizou.
Setor de habitações: campo de trabalho para engenheiros
O segmento de habitações no Brasil requer atenção, segundo Krüger. Isso porque há um expressivo déficit habitacional, causado em muitos casos pela precariedade das moradias ou pelo adensamento excessivo. “Precisamos produzir quase 6,3 milhões de casas, o que é um grande campo de trabalho para os 368.930 graduados em engenharia civil com registro ativo”, disse, ao listar dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Conselho Federal, respectivamente.
Nessa linha, o engenheiro civil informou que o Confea tem trabalhado em parceria com o governo federal na implantação do Casa Verde e Amarela. O programa prevê garantir que 1,6 milhão de famílias, que estavam fora do sistema de financiamento habitacional, possam ter acesso ao crédito financeiro até o ano de 2024. “Temos acompanhado de perto este projeto, discutindo os parâmetros técnicos para participação dos profissionais do Sistema dentro da iniciativa”, afirmou.
Mercado aquecido
Apesar das incertezas econômicas trazidas pela covid-19, a compra da casa própria passa por um dos melhores momentos da história no Brasil. De acordo com os números apresentados pelo presidente do Confea, a venda de imóveis cresceu 13,5% e teve o melhor resultado desde 2014. Outro recorde é de financiamentos imobiliários que devem fechar o ano com uma alta de 40%. A redução dos juros e a criação de linhas de financiamento nos bancos também têm ajudado a aquecer o mercado.
Mesmo com a pandemia, a construção civil passou por um bom momento e demonstra boas perspectivas de expansão em 2021. “A projeção para o PIB do próximo ano é de um crescimento de 4,5%, após a retração projetada de 5% para 2020”, sinalizou, sem deixar de considerar as possíveis ameaças deste momento atípico. “Precisamos estar atentos porque um cenário de pandemia não é livre de riscos, como redução de poder de compras dos consumidores e aumento dos juros da dívida pública e da desvalorização do real frente ao dólar”, alertou Krüger.
Saneamento e debate
Outro tema atual e relevante apresentado no encontro foi “O Marco Legal do Saneamento e os Impactos para a Engenharia”. A palestra foi ministrada pela eng. civ. e secretária estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais, Marília Carvalho de Melo. A nova legislação foi sancionada em julho deste ano pelo governo federal e traz diversos aspectos novos que interessam diretamente aos profissionais das engenharias e a toda sociedade.
Também participaram da mesa de debate o presidente do Crea-BA, eng. civ. Luis Edmundo Campos; o diretor-geral da Mútua-BA, eng. agr. Emanuel Batista, a coordenadora da Câmara Especializada de Engenharia Civil, eng. civ. Rute Carvalhal; o ex-presidente do Ibape-BA, eng. civ. Arival Cidade, e o presidente da Associação Brasileira de Engenheiros Civis – Seção Bahia, eng. civ. Adriano Segura. Com as presenças ainda do vice-presidente do Crea, eng. civ. eng. min. e eng. seg. trab. Francisco Ramalho, e do mediador da segunda palestra, eng. civ. Diógenes Senna, Joel, em resposta à também mediadora engenheira civil Rute Carvalhal, lembrou que o déficit habitacional varia entre 6 e 7 milhões, demonstrando o dinamismo da família brasileira.
“Há vários arranjos que temos que considerar. É um número desafiador para nós. Tanto o segmento popular como a classe média têm mercados a serem trabalhados. A classe média depende do setor financeiro. A paixão do brasileiro é a casa própria. O que precisamos é irrigar o mercado com recursos, programas de financiamento com o papel estratégico da Caixa Econômica e do Banco do Brasil, regulando o mercado por meio da redução de taxas de juros. O governo precisa colocar esses recursos na ponta para que eles cheguem às construtoras”.
O presidente do Crea- BA, eng. civ. Luis Edmundo Campos, elogiou a participação do presidente. “Joel tem o domínio muito grande dos dados do país”. Considerando a potencialidade do mercado para os profissionais da engenharia, ele apontou a necessidade de promover a assistência a essa população para que ela não seja atendida por pessoas sem qualificação.
“Espero que no futuro a gente tenha escritórios de assistência técnica com os alunos de graduação, atendendo essa população junto às entidades de classe. O desenvolvimento do país passa pela engenharia. Temos que desenvolver toda a infraestrutura. Espero que os profissionais tenham investido em capacitação durante a pandemia. A gente viu alguns desperdícios que não têm a ver com a engenharia. Espero que passemos por momentos melhores. Tenho certeza de que a Engenharia vai desenvolver o país”.
“Quanto à assistência técnica gratuita, estamos em diálogo para criar um programa de recursos de assistência técnica gratuita para que a pessoa possa fazer uma reforma, para que esse recurso só seja fornecido se houver a presença de um engenheiro. Também por meio de convênio com as entidades de classe. Para que se possa implantar a lei que já existe, mas na prática não está implantada. Luis Edmundo colocou os cursos. Poderemos pensar em um futuro em que os cursos tenham escolas-modelos para atender a esse segmento. Estamos negociando por meio do Comissão Temática Engenharia Pública”, disse, exemplificando com experiência da cidade de Cascavel.
O engenheiro civil Arival Cidade comentou que o primeiro setor que entra na crise é o varejo e, na sequência, a construção civil. “São os segmentos que mais empregam. Entendo o antigo programa Minha Casa, Minha Vida como um programa de governo, não do mercado propriamente”, disse, questionando como o presidente Joel via a capacidade de incentivar o empreendedorismo dos engenheiros.
“É muito importante trabalhar o engenheiro como empreendedor. Já na implantação das Novas Diretrizes da Engenharia, isso tem sido colocado. Sempre o engenheiro era colocado como empregado de alguém. Eu mesmo falo isso ainda na sala de aula. Temos que trazer o espírito do empreendedorismo. As empresas juniores, as incubadoras, nas universidades são algo importante para os estudantes para que eles saiam com a cultura do empreendedorismo. Senão caímos na Pejotização, o que não é o nosso desejo. Precisamos de novas empresas inovadoras”.
Julianna Curado e Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea
Com informações do Crea-BA