Alerta: planejar para não repetir erros

Campinas, 22 de março de 2017.

Na data em que é comemorado o Dia Mundial da Água, teve início o ciclo de palestras que marcam até quinta-feira, 23, os trabalhos do Preparatório da Engenharia e da Agronomia para o 8º Fórum Mundial da Água, em curso em Campinas/SP.

“Essa é a nossa missão: entender a natureza e tentar responder aos nossos problemas atuais, evitando a repetição de erros. Aí a gente começa a acertar mais”, afirmou o prof. dr. Antonio Carlos Zuffo da Universidade Estadual de Campinas – Unicamp, na palestra “Recursos Hídricos na Bacia PCJ (Piracicaba, Capivari e Jundiaí)”, realizada na manhã de 22 de março nas dependências do Expo D. Pedro.

O engenheiro civil traçou um panorama histórico do abastecimento de água na região, com destaque para os investimentos em saneamento feitos a partir da década de 1970, com o surgimento do Sistema Cantareira, e sua evolução ao longo dos anos.

Zuffo chamou atenção para os comportamentos cíclicos observados na natureza e o desafio de, detectados esses fenômenos, trabalhar com planejamento. Digna de nota foi a comparação feita entre os anos de 1953 e 2004, quando se observou as mesmas ocorrências de enchentes no Amazonas e na Europa, enquanto a região da Califórnia (EUA) enfrentou períodos severos de estiagem. Confira a palestra.

“Se não entendermos o comportamento do clima, a gente sempre vai fazer a previsão errada, a construção errada. Sem engenharia você não tem abastecimento: você tem desde a captação, vai fazer a adução, tem que tratar essa água, depois que essa água foi servida você precisa captar, tratar e colocar de volta no sistema, então precisa de engenharia. Nossa civilização moderna, se não tiver engenheiro, não funciona, tudo para, volta para a Idade da Pedra”, ressaltou.

Planejar para não repetir os erros é a saída. “Como técnicos que trabalhamos nessa área, temos que aprender com os dados que vêm da natureza. Não conseguimos modelar ou saber qual vai ser a temperatura, ou qual vai ser a chuva ano que vem, a gente sempre observa a média. Mas na observação de séries longas, observamos que a média muda. O desvio padrão, a variação de um ano para outro também muda. E bastante. Se a gente tenta entender quais são os motivos, os efeitos que levaram a isso, e a gente consegue repetir nesse padrão, a gente consegue prever para a frente, e a gente coloca esse conhecimento em prol da sociedade”, finalizou Zuffo.

 

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Impactos das mudanças climáticas no fornecimento de água

Ao falar sobre “Tempo e Clima”, o PhD em meteorologista Augusto Pereira Filho levantou as possíveis causas das mudanças climáticas. Entre elas, a redução da vegetação, o crescimento urbano e a poluição do ar. “Além dessas causas locais, há aquelas associadas a interações complexas entre atmosfera, hidrosfera, criosfera, litosfera e biosfera determinantes do clima, que tem sua própria dinâmica”, explicou. Confira a íntegra da palestra.

Como exemplo de mudança climática, o especialista citou as alterações que vêm ocorrendo na Região Metropolitana de São Paulo, onde a média da temperatura subiu 2º C entre os anos 1936 e 2005. Além desse índice, que foi maior do que a média mundial, também foram registrados o aumento da incidência de luz solar e de precipitações, queda da umidade relativa e ampliação da ilha de calor na região. “Com isso, o tempo ficou mais quente e seco com menos garoa, paradoxalmente houve aumento de tempestades e, por consequência, mais enchentes”, relatou.

Sobre a demanda por água em São Paulo, Augusto Filho adiantou que até 2033 o consumo irá aumentar de 59 para 78 mil litros/ano/habitante enquanto a produção de água será ampliada de 2,18 para 3,27 bilhões de litros/ano. “Será necessário mais um Sistema Cantareira para suprir essa demanda. Então serão necessárias novas fontes de recursos hídricos ou mais investimento na redução de água. Aí entra a engenharia nesse trabalho de conscientização”, afirmou.

O PhD fez outro alerta aos profissionais da área tecnológica participantes da palestra. “As mudanças climáticas devem causar desastres naturais mais frequentes e mais graves”. Por isso é tão importante, segundo o meteorologista, trabalhar em prol do desenvolvimento sustentável por meio da gestão ambiental, “com prevenção, mitigação, monitoramento, uso do solo e da água apropriados e controle da poluição”. Associado a isso, é essencial “fazer a observação da Terra e da atmosfera, com planejamento e uso de ferramentas de previsão, informação e sistemas de alerta”. Dessa ciência da sustentabilidade, aposta o especialista, devem resultar mais benefícios à saúde e ao bem-estar da população, mais proteção ao ambiente e menos riscos de desastres e crises hídricas.

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Perácio Melo e Julianna Curado
Equipe de Comunicação do Crea-SP e Confea