A mulher na área tecnológica e as vitórias de um dia a dia cheio de desafios

Brasília, 08 de março de 2017.

"Presidente se reuniu com as representantes das entidades de classe regionais durante o VI Encontro de Líderes, em fevereiro passado"

Ao concorrer pela primeira vez à presidência do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea), em 2012, o então candidato José Tadeu da Silva trazia um plano de ação bem detalhado e que pretendia aplicar à frente da autarquia. E uma das novidades desse plano era a definição de uma política interna voltada para a valorização da mulher que atua na área tecnológica nacional.

"José Tadeu ao lado da vice-presidente Ana Constantina em 2015"

“Ter uma mulher como companheira na vice-presidência  foi uma decisão que revelou quantos espaços existem no Sistema Confea/Crea a serem ocupados  pelas mulheres. E mais que isso, afirmar que o Sistema precisa delas para acompanhar e participar do fortalecimento  de uma sociedade onde elas sejam valorizadas, não só pelo gênero, mas como seres humanos que não concorrem, mas somam com todos”, afirmou Tadeu da Silva, às vésperas do último Dia Internacional da Mulher em que estará à frente do Conselho, depois de seis anos de atuação.

Com 46% de seus funcionários e assessores  sendo mulheres, o Confea trabalha para ser uma referência para todo o Sistema onde, entre as lideranças, três mulheres ocupam a presidência de Conselhos Regionais, enquanto, entre os profissionais registrados, apenas 16% são mulheres dos 1 milhão e 300 mil profissionais.

“Mas temos caminhado”, afirma o presidente do Confea. “Continuamos com o objetivo de  ser uma referência a ser seguida. Em 2015, o Conselho recebeu o Selo da Equidade de Gênero e Raça, dado pelo Governo Federal em reconhecimento à equidade na instituição. Mas, para ter continuidade, a caminhada precisa que os debates e as ações continuem acontecendo e motivados por nossas profissionais”.

José Tadeu afirma que ”é preciso expandir espaços, alçar voos bem planejados e para isso é fundamental o equilíbrio entre as relações pessoais e profissionais”. Ao reconhecer o muito ainda a fazer,  agradeceu pelo que já foi feito: “Parceiras de estrada, muito obrigado por esta caminhada!”.

PB, MT e AC: engenheiras agrônomas na presidência
As dificuldades para galgar a formação na área tecnológica e até mesmo para dar início às atividades de gestão do Sistema podem ainda ser realidade para as mulheres, mas já se encontram em um novo parâmetro, graças a conquistas trilhadas por profissionais como as atuais presidentes dos Regionais da Paraíba, Mato Grosso e Acre. As três engenheiras agrônomas representam bem a transformação proporcionada pelas mulheres, na reconstrução contínua do Sistema.

"Papel das engenheiras na construção de políticas públicas é defendido pela presidente do Crea-PB, Giucélia Araújo"

“Foi uma trajetória muito intensa junto às entidades representativas dos profissionais, Sindicato dos Engenheiros, Associação dos Engenheiros Agrônomos, Fisenge. Essa luta em defesa da valorização profissional e de uma sociedade onde homens e mulheres tenham direitos iguais é a nossa marca no fortalecimento das entidades e fazendo esse link entre os profissionais e entidades”, considera Giucélia  Araújo de Figueiredo, primeira mulher a presidir o Crea-PB, depois reeleita com a aprovação de 93% do eleitorado.

Ex-conselheira regional, ela descreve que a “ousadia” vem sendo gradualmente recompensada. Primeiro, ao marcar sua posição em uma turma de 40 alunos, formada por 38 homens.  “Em 1978, em todos os cursos das áreas tecnológicas, havia uma hegemonia masculina, e não era diferente na antiga Escola de Agronomia do Nordeste, mas isso não tirou a minha motivação, até porque sempre fui de quebrar paradigmas. E por entender que nossa profissão é uma missão que desempenha um papel importante para o desenvolvimento do país”.

Se o cenário ainda é marcado por discriminações, Giucélia argumenta que procurou fazer sua parte para torná-lo mais inclusivo e democrático. Motivar a participação feminina no conselho foi uma das preocupações levadas junto ao Senge-PB por meio do Coletivo de Mulheres Engenheiras, “um espaço de debate sobre políticas públicas para as mulheres, buscando seu empoderamento”. Além disso, o próprio plenário do Crea-PB hoje reúne seis conselheiras. “A mulher engenheira tem que ocupar seus espaços, não só profissionais, mas também os espaços de decisão”.

"Carminda Pinheiro fala do respeito e da produtividade alcançados pelas profissionais acreanas"

Desafios
“Já vim do meio rural, e já havia decidido ser engenheira agrônoma desde cedo. Então, pra mim, o curso na Universidade Federal do Acre foi tranquilo. Estou no Sistema há 15 anos, quando fui chamada pela Confaeab para retomar Associação dos Engenheiros Agrônomos do Acre. Depois, fui conselheira regional e, por dois mandatos, diretora financeira da Mútua, voltando a ser conselheira regional até 2014, quando me candidatei”. Assim, a engenheira agrônoma Carminda Luzia Silva Pinheiro descreve sua trajetória até se tornar a primeira mulher eleita para presidir o Crea-AC.

“Andei por todos os municípios do Acre, e venci com 67%. Logo que entrei, tive alguns problemas por causa da curiosidade dos conselheiros, se daria conta. Hoje, já me sinto mais experiente. A gente ainda sofre questionamentos quanto ao potencial da mulher à frente do Conselho, como acontece no dia a dia profissional também. Mas tem melhorado muito”, considera, comentando que hoje o Conselho tem duas mulheres no plenário, mesmo número de diretoras da Mútua, além de uma orientação para que pelo menos metade da composição do Crea-Jr seja feminina.

Carminda acrescenta que o Crea tem procurado mobilizar a sociedade para a importância da participação feminina na profissão. “A gente sempre procura mostrar que as mulheres podem ter a mesma produtividade dos homens, sem a influência de terceiros, podemos trabalhar lado a lado, com respeito, para que façamos um trabalho bom para a Engenharia. Por isso, sempre participamos de eventos para falar da importância da participação feminina na área tecnológica. A gente sente que a sociedade valoriza nosso trabalho, o que é um dos objetivos do mandato”, diz, informando que, na véspera deste Dia Internacional da Mulher, engenheiras foram convidadas a entregar kits de beleza para as mulheres em Rio Branco.

"Presidente do Crea-MT, Kateri Felsky considera tranquila a convivência com os profissionais "

Sem dificuldades
Já havendo substituído os presidentes do Crea-MT Juares Samaniego e Tarcísio Bassan,  a eng. agr. Kateri Dealtina Felsky dos Anjos também vê um incremento na participação no plenário do Conselho, hoje com quatro titulares e seis suplentes do universo de 41 conselheiros. A exemplo da colega acreana, ela tem uma visão mais natural da sua formação e da atuação feminina no Sistema profissional.

“Particularmente, não vejo dificuldade. Venho de uma família de cinco irmãos e o curso era predominantemente masculino, na Universidade Federal de Viçosa. Também não vejo diferença entre os sexos para a gestão de coisa pública. São as capacidades técnicas e sua percepção de gestão que vai auxiliar nisso. Fui superintendente da Conap, chefe de gabinete na secretaria de Desenvolvimento Rural e sempre atuei de uma forma natural, sem destacar o empoderamento da mulher ou não. Embora haja uma cultura masculina, não vejo resistência quanto a isso”.

A convivência efetiva com o universo ainda predominantemente masculino é saudada pela gestora. “Mesmo sendo eminentemente masculino, o plenário escolheu uma mulher, quando o presidente Samaniego foi eleito conselheiro federal. Acredito que o que falta realmente é que as mulheres queiram ocupar esses cargos”. Kateri destaca que não tem quaisquer dificuldades em lidar com os colegas, uma vez que esta é uma tendência natural no mercado de trabalho, considerando a predominância feminina na população brasileira, segundo o IBGE. “E o machismo vai sendo quebrado com o trabalho, inclusive quanto à remuneração”, pondera.

"Ivone Rodrigues, coordenadora nacional das câmaras de Engenharia Florestal, ressalta a importância de ocupar espaços decisórios"

A engenheira florestal Ivone Rodrigues também não lamenta dificuldades na profissão por ser mulher. “Não sei se tem a ver com meu perfil, sempre tive uma postura mais crítica e participativa”, comenta a primeira mulher a ocupar o posto de coordenadora nacional de Câmaras Especializadas de Engenharia Florestal do Sistema.

Às profissionais que pretendem trilhar carreira de liderança, Ivone diz que o caminho não é tão difícil quanto parece: “Temos em geral outras atividades, mas esses espaços de liderança estão aí para serem ocupados. Uma forma de começar é trabalhar nas entidades de classe de seu município – entender as representações que podemos exercer, e ser impositiva, ocupar realmente os espaços. Às vezes, até estamos lá, mas ficamos nos bastidores ou nós mesmas nos subjugamos. Temos que ter mais mulheres nesse espaço de liderança. Nós podemos ocupar esse espaço, reivindicar o que queremos, para trazer mudanças e novas posturas”.

Qualificação

"Alice atua no Sistema desde 1999"

A trajetória da nova coordenadora nacional de Câmaras Especializadas de Engenharia Civil, Alice Scholl, começou em uma entidade de engenheiros e arquitetos, envolve especializações como Segurança do Trabalho e avaliações e perícias e atuações em varas trabalhistas e federais como perita e representação da entidade junto ao Ministério Público, em parcerias técnicas. 

“Iniciei minha missão junto ao Sistema em 1999. Fui conselheira regional, suplente e titular. Participei de conselhos, comissões. Fui inspetora chefe da inspetoria do Crea-RS em minha cidade Pelotas. Hoje, estou também como presidente da Associação de Engenheiros e Arquitetos de Pelotas - Aeap, Conselheira Regional e Coordenadora Câmara Especializada de Engenharia Civil do Crea-RS, em meu segundo mandato. Diretora Regional Sul do Sindicato dos Engenheiros – Senge-RS. Para chegar a uma função como esta de coordenadora, acredito ser imprescindível conhecer o Sistema, ter dedicação, confiança e enfrentamento. Tomar decisões com ética e respeito a profissão. E ter orgulho de ser Engenheira”, diz.

Em relação aos desafios entre gêneros, Alice descreve que logo que terminou o curso sentiu dificuldade para preencher uma vaga por ser mulher. “A preferência sempre é dada aos homens. E para combater isso continuei me aperfeiçoando, pois pensava que um currículo mais qualificado me destacaria nas possíveis vagas de emprego. Mas, infelizmente, na época, isso não foi um fator relevante.  Hoje, as mulheres já começam a conseguir seu espaço nas diversas profissões e na engenharia não poderia ser diferente, mas ainda temos dificuldades em mostrar à sociedade que somos competentes. Indico a todos, que depois de formados, não vejam seus colegas como inimigos e sim como colegas de profissão”. 

"Darlene Leitão: a Engenharia Elétrica como profissão de fé"

Engenheiras eletricistas, sim senhor!
A determinação também marca as trajetórias das engenheiras eletricistas Ana Constantina Sarmento e Darlene Leitão e Silva. Ex-conselheiras federais durante os mandatos 2013-2015 e 2012-2014, respectivamente, ambas continuam militando junto ao Sistema e exaltam a importância da participação feminina para o desenvolvimento tecnológico do país. Ana Constantina, inclusive, fez história ao ser a primeira mulher a ocupar a vice-presidência do Confea.

Darlene já havia sido conselheira federal suplente em 1998. “Decidi que seria conselheira titular, o que consegui com muito diálogo. Pude conhecer melhor o Sistema, seus problemas. Foi algo que a gente construiu ao longo do tempo, com a seriedade a que as mulheres se determinam. Desde então, sempre trabalhei no conselho regional e na Associação Roraimense de Engenheiros e Arquitetos, hoje como superintendente. Vamos ficando por amor à Engenharia”, diz, mencionando que também atua como diretora financeira na instalação da regional roraimense da Associação Brasileira de Engenheiros Eletricistas (ABEE-RR), presidida por Maria da Conceição Escobar.

“Aqui em Roraima, essa relação com a profissão é bastante tranquila, com muito respeito em relação aos trabalhos que a gente desenvolve”, diz, lembrando ainda que, em 2003, havia sido a primeira roraimense a assumir uma diretoria da concessionária estadual de energia. Uma trajetória iniciada na Escola Técnica de Manaus, onde se tornou técnica em eletrônica, e no curso de Engenharia Elétrica da Universidade do Amazonas. “Éramos cinco mulheres de 60 alunos. Mas, como gosto de desafios e tinha afinidade com a profissão, fui até o fim. Acredito que nós mulheres somos multiprofissionais, com uma visão mais prática, a gente procura fazer bem-feito e com resultado”.

"Ana Constantina Sarmento: primeira mulher vice-presidente do Confea"

A eng. eletric. Ana Constantina foi a primeira mulher a ocupar o cargo de vice-presidente no Conselho. Dessa vivência em 2015, ela ressalta a oportunidade de ter visto de perto a necessidade concreta de ampliação da participação da mulher nas políticas de classe. “Em nosso meio, historicamente masculinizado, é importante que os profissionais entendam que o Sistema só cresce quando escuta as vozes de todos os gêneros”.

Encarar essa realidade, sendo representante de minoria, fez com que a engenheira trabalhasse ainda mais pela causa. “Ao ocupar a cadeira de vice-presidente, enfrentei uma questão histórica de 82 anos”, afirma Constantina, que reforça ainda a necessidade de se fazer muito mais para que haja equidade no setor. “Deve ser elaborado um normativo que garanta o espaço de participação para a mulher dentro do Sistema. Caso contrário, não teremos representatividade e passaremos despercebidas. E é importante dizer que uma mulher soma na gestão de projetos. Precisamos avançar nessa pauta positiva e permanentemente”, argumenta.

"Confea recebeu Selo Equidade de Gênero em 2015"

Equidade de gênero
O Confea participa do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça, da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres e Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), que, anualmente, concedem selos de excelência para empresas que aplicam princípios do Programa Pró-Equidade de Gênero e Raça. Em 2015, o Confea foi uma das 68 instituições a receber a quinta edição do selo Pró-Equidade de Gênero e Raça.  E, no ano passado, o Conselho ratificou a sua adesão ao selo



Equipe de Comunicação do Confea