Ecoproduto: Pesquisa revela que fibra do açaí pode ser usada em produção de painel ecológico

Manaus, 25 de fevereiro de 2015.

"Ecoproduto fabricado a partir da fibra do açaí"
A fibra do açaí, fruta típica da região Amazônica, pode ser usada como matéria-prima na produção de Ecopaineis para uso comercial na indústria da construção civil e moveleira.

É o que aponta o estudo do professor amazonense Antônio de Lima Mesquita, doutor em Engenharia de Recursos Naturais, em sua tese de Doutorado, após três anos de pesquisa. No levantamento, Mesquita verificou que, aproximadamente, 1,2 toneladas do tecido fibroso do fruto do açaí são descartadas por dia na Região Metropolitana de Belém (PA), após a produção de suco.
 
De acordo com o professor, esse resíduo agroindustrial também quase não é utilizado em caldeiras como fonte de cogeração de energia. O estudo recebeu indicação para concorrer ao prêmio Vale-Capes, selecionado a participar como “Melhor Tese de Engenharia na área de Resíduo, Reaproveitamento e Sustentabilidade”, pela Universidade Federal do Pará (UFPA), em 2014.

O açaí, conforme sites especializados na área de saúde, é uma das frutas brasileiras que se tornaram mais conhecidas e consumidas nos últimos anos, especialmente entre os frequentadores de academias de ginástica, isto porque a fruta é um grande energético natural.

O açaí é também rico em vitaminas E, B1, B2, B3 e C, fibras, cálcio, fósforo, ferro, minerais e potássio, além de ácidos graxos. Possui pigmentos que dão à fruta uma cor roxa intensa e estes, trazem ingredientes que são antioxidantes, sendo um poderoso combatente dos radicais livres, causadores de inúmeras doenças e envelhecimento precoce de todas as células!
 
RESUMO DO ESTUDO:

ESTUDOS DE PROCESSOS DE EXTRAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE FIBRAS DO FRUTO DO AÇAÍ (Euterpe oleracea MART.) DA AMAZÔNIA PARA PRODUÇÃO DE ECOPAINEL DE PARTÍCULAS DE MÉDIA DENSIDADE (MDP).
Antonio de Lima Mesquita - Doutor em Engenharia dos Recursos Naturais
Área de Concentração: Transformação de Recursos Naturais
 
O tecido fibroso do fruto do açaí (Euterpe oleracea Mart.) é descartado cerca de 1.200 ton/dia, na Região Metropolitana de Belém (PA) após a produção de suco. Esse resíduo agroindustrial com pouca frequência é utilizado em caldeiras como fonte de cogeração de energia. Visando o aproveitamento da fibra do fruto, o objetivo deste trabalho foi estudar processos de extração das fibras e tratamento por meio da mercerização biológica: espontânea e induzida e mercerização química: com NaOH, com e sem autoclave. Para tanto, foi realizada caracterização anatômica, química,física e mecânica das fibras de açaí com o intuito de utilizá-las para o desenvolvimento de novos materiais compósitos alternativos para indústria da construção civil. Para obtenção das fibras foram utilizados processos manuais e mecânicos. Para mercerização biológica espontânea foi utilizada a água do Rio Guamá (AG) e a água da Cosanpa (AC) e na condição experimental biológica induzida foi utilizada a raspa da mandioca (MD). As concentrações de água e de raspa de mandioca foram 2%, 4% e 6% em massa. O tratamento químico alcalino foi realizado de duas formas: (1) utilizou-se uma solução alcalina de NAOH com as seguintes concentrações em massa: 0,5%, 1% e 2%; (2) parte das fibras tratadas foram colocadas no autoclave. Para o estudo anatômico o tecido fibroso foi macerado e analisado em microscopia ótica e eletrônica de varredura, para caracterizar os constituintes celulares. Para caracterização mecânica foi realizado o ensaio de tração axial das fibras de açaí, para a obtenção da resistência à tração máxima. Na caracterização química das fibras foram realizadas análises químicas do conteúdo total de lignina, celulose e hemicelulose. Após os tratamentos de mercerização biológica e alcalina foram analisados estatisticamente os resultados dos ensaios mecânicos para escolher o melhor tratamento para as fibras que foram usadas na produção ecopainéis de partículas homogêneas aglomeradas com resina poliuretana bicomponente a base de óleo de mamona. Após a fabricação dos ecopainéis com a resina poliuretana foi realizada a caracterização físico-mecânica e microestrutural que compreendeu a determinação das propriedades físicas: densidade aparente-(Dap), inchamento em espessura (IE) e absorção de água (Abs); e propriedades mecânicas: módulo de elasticidade (MOE), módulo de ruptura (MOR), resistência à adesão interna (RAI) e arrancamento de parafuso na superfície (RAsup) e no topo (RAtop). Os resultados das caraterização das fibras indicaram a grande quantidade de esclereídes e fibrotraqueídes constituídos de numerosos apêndices presentes nas superfícies das fibras celulósicas (feixes vasculares) os quais são responsáveis pela resistência mecânica das fibras. As fibras apresentaram 30% de lignina, 44 %- 46% de celulose e 18% -20% de hemicelulose. As fibras do processo de mercerização alcalina NaOH com 0,5% em massa e autoclave foi selecionada para a fabricação dos ecopainéis. Os resultados das propriedades físicas, apresentaram ecopainéis de partículas homogêneas classificados como de média densidade na faixa de 713 a 745  kg/m3.. Os valores médios dos ecopainéis com fibras tratadas de inchamento em espessura foram em média 36% e 40% inferiores, após 2 e 24  h, respectivamente, dos ecopainéis com as fibra não tratadas. As mesmas reduções de 35% e 17% nos valores de absorção de água, após 2 h e 24 h, respectivamente, foram observadas. As propriedades mecânicas dos ecopainéis com fibras tratadas apresentaram valores superiores em 31% no MOR, 89% no RAI e 54% no RAtop, comparado com os ecopainéis referência (fibras sem tratamento). Tais resultados sugerem a potencialidade da fibra do açaí, com tratamento alcalino e submetido a autoclave, como matéria prima na produção de ecopainéis homogêneos particulados de media densidade (MDP) para uso comercial na indústria da construção civil e moveleira.
 
* Com informações do professor Antônio de Lima Mesquita, Doutor em Engenharia dos Recursos Naturais
 
Acyane do Valle e Ana Carla Jafra
Assessoria de Comunicação do CREA-AM
Fotos: Antônio de Lima Mesquita