Salvador: falta de planejamento em mobilidade urbana domina debate


Transporte de massa para Salvador foi tema do debate provido pela Fundação Ulysses Guimarães nesta quinta-feira (2), na Associação Comercial da Bahia (ACB). Organizado com o propósito de aprofundar a discussão sobre o tipo de modal (BRT ou VLT) que deveria ser implantado na capital baiana em virtude das obras preparatórias para a realização da Copa 2014 a discussão contou com as participações de representantes do Crea, da Associação Nacional de Transportes Público (ANTP) e do departamento de Geografia da UFBA.  “Nossa proposta é levar o debate para o campo da racionalidade”, definiu Migel Kerzteman na abertura 

Para falar sobre as diferentes opções (custo, características) dos transportes de massa, o ex-secretário de transporte metropolitano do estado de São Paulo e vice-presidente da ANTP optou por fazer uma analogia entre a engenharia e a anatomia. Na palestra Anatomia do transporte público, Senna desfez mitos a exemplo da ideia de que o fim dos congestionamentos é sinônimo de transporte público de qualidade. Segundo o especialista o transporte público deve ser pensado como algo não segregador e que respeite a cidade e os passageiros. “O que importa para a população é que ele tenha qualidade e que atenda as necessidades de locomoção”, disse. Outro mito seria o de que em países europeus a maioria das pessoas utiliza o transporte público. “Apenas 25% das viagens motorizadas de Paris, por exemplo,  são feitas por meio do TP. No Brasil o número sobe para 50%”, demonstrou. A justificativa, não estaria na baixa qualidade do transporte de massa brasileiro, mas na  dificuldade de acesso da população à compra do carro próprio.

Custo benefício- Ao traçar um comparativo entre metrô, ferrovia, BRT e VLT Senna enfocou  resultados:

  • Metrô: Pouco estigmatizado pela população, é uma alternativa cara. Está limitado aos centros urbanos. Reforça a densidade nos corredores de tráfego e não está localizado nos pontos de maior demanda.
  • Ferrovia: Fase de recuperação da imagem apesar de ser fortemente estigmatizada  pela lógica do transporte de cargas. Alternativa mais barata em relação ao metrô principalmente nos casos em que é possível aproveitar as vias existentes. Tem alcance metropolitano.
  • VLT:  Solução de alto custo implantada na Europa para preservar as cidades históricas. Pensado para pequenos trechos. Acompanha os corredores de ônibus. É o 2º sistema de mobilidade mais caro do mundo.
  • BRT de massa: Adotado em Curitiba. Dependendo do tipo de projeto promove disputa viária com o automóvel e alto impacto urbano. Atinge a mesma capacidade do metrô. Solução troncal que precisa ser alimentada por metrô e ferrovia.

Após prestar homenagem ao aniversário de morte do geógrafo Milton Santos, o presidente  do Crea-BA, Jonas Dantas, reiterou que não é possível tratar a questão da escolha do modal para Salvador sob a ótica maniqueísta. “Não se trata de preferir ou gostar de A ou B. Os gestores públicos devem ter em mente aspectos técnicos, a relação custo benefício e a demanda efetiva da população ”, alertou .  Ainda segundo Dantas, a demora da administração municipal em implantar o Conselho da Cidade representa um atraso sem precedentes na legitimação de decisões importantes como a opção pelo melhor modal  para a capital baiana. “Mobilidade é questão estratégica para o desenvolvimento do estado  e não está pensada como tal. Também não é algo que deva estar atrelada à sazonalidade de eventos. Não nos foi informado nem mesmo as linhas alimentadoras dos modais ”, cobrou.

Falta de estudos de demandas- Em sua intervenção  o geógrafo Clímaco Dias, questionou a total falta de estudos de diagnóstico da circulação em Salvador. “Não temos sequer definição sobre a demanda de transporte. Faltam estudos conclusivos sobre os tipos de modais. O que temos são empresas interessadas em fazer sem nenhum tipo de diagnóstico e com o consentimento do governo”.  Outro ponto destacado por Dias, foi o total desencontro entre à relação uso do solo X tipo de projeto a ser implementado. “Estamos fazendo omelete sem quebrar os ovos. Estamos diante de uma cortina de fumaça cujos cenários não estão sinalizados”, resumiu o geógrafo.  

Ascom do Crea-BA