Novo paradigma de formação traz desafio para Conselhos

Brasília(DF), quarta-feira, 15 de setembro de 2004.

Os debates do XXXII Congresso Brasileiro de Engenharia (Cobenge 2004) tiveram, nesta quarta feira (15/09), a presença do presidente do Confea, eng. Wilson Lang, que participou com o tema:Desafios do sistema Crea/Confea frente ao novo paradigma da formação flexível do engenheiro". A mesa redonda contou ainda com os professores Luiz Carlos Scavarda, da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ) e Maria José Gazzi, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

De acordo com Lang, a definição do perfil do novo engenheiro necessita de uma discussão conjunta entre os institutos de formação superior e o próprio sistema Confea/Crea. Ele afirmou que o modelo multinível existente no Brasil, que permite a atribuição de técnico para o ensino médio e de tecnólogo para o curso superior de curta duração, exige uma divisão mais clara entre os limites de cada formato profissional. "Há uma vertente mundial que aponta para a desregulamentação das profissões de forma geral. Mas no nosso caso, a presença de um Conselho é imprescindível para orientar e reunir as diferentes opiniões acerca desse novo perfil nas engenharias", afirmou.

O presidente do Confea defendeu a participação de todas as escolas de engenharia nesse processo, mas alertou para as falhas existentes no sistema educacional. "Hoje em dia, vemos uma disciplina, de repente, se tornar um curso de graduação e é difícil estabelecer a profundidade dessas profissões. A caracterização de um curso superior deve ter um correspondente na atividade que será exercida após a faculdade, para o bem da qualidade de nossos profissionais e de nossa sociedade".

Para Luiz Carlos Scavarda, a engenharia tem que se adaptar aos processos internacionais de avaliação profissional. Ele citou a Declaração de Bolonha como exemplo e ressaltou a importância dos novos profissionais exibirem competências além daquelas de origem técnica. "Nossas escolas de engenharia têm que educar com uma visão internacional, mas voltada para os problemas internos. As competências precisam ser técnicas, científicas, gerenciais, e mais humanas e sociais, para que nosso retorno à sociedade atenda as expectativas". O professor da PUC-RJ enalteceu ainda o papel do Confea nos debates com as escolas de engenharia para atingir uma definição clara de qualidade na formação profissional.

A aliança entre a esfera profissional e o sistema de ensino também foi o tema da apresentação da professora Maria José Gazzi. Segundo ela, a construção de um novo modelo profissional para a engenharia passa, necessariamente, por uma mudança estrutural nas faculdades. "Currículo não é mais uma grade de disciplinas, e sim um conjunto de competências. É preciso uma maior flexibilização curricular, haja vista a realidade educacional do País, onde uma faculdade de ponta não forma o mesmo engenheiro que uma faculdade sem infra-estrutura".

O fortalecimento dos debates, no entanto, pede uma maior participação das instituições de ensino superior, posição defendida pelo Confea. Wilson Lang lembrou que a Comissão de Exercício Profissional (CEP) encaminhou a todas as escolas do Brasil uma proposta de regulamentação para flexibilizar a formação do engenheiro. Mas ele lamentou a falta de respostas concretas. "Há uma ponte entre as escolas e os Creas, que infelizmente, não é utilizada em sua plenitude. As escolas têm direito a representante nos Creas, e isso é fundamental para, juntos, apontarmos os rumos da nova formação profissional do engenheiro".

O presidente do Confea disse ainda que a uniformidade dos padrões de competência para o engenheiro será acompanhada de um modelo flexível, que vai atender a realidade de cada segmento da profissão. Segundo Lang, vencida esta etapa, o desafio para o ano que vem será estabelecer padrões para o ingresso nas faculdades de engenharia em todo o país. "Com isso, vamos garantir o que nós e o País precisam: qualidade profissional".

Pedro Henrique Barreto - Jornalista Convidado