Porto Alegre (RS), terça-feira, 30 de março de 2004. Pode se dizer que um dos principais objetivos no estudo de Domenico De Masi são as relações estabelecidas com o trabalho na sociedade pós-industrial, cuja produção está centrada nos bens imateriais, tais como: informações, serviços, símbolos, valores e estética. Desse modo, o sociólogo compreende que o domínio da estética de produção em massa decai com a afirmação desse novo modelo sócio-econômico que prima pela busca do rompimento e da novidade.De Masi, autor de nove livros publicados no Brasil entre eles Ócio Criativo e, sua obra mais recente, Criatividade e Grupos Criativos, afirma que na passagem do século XX para o XXI este modelo revelou muito claramente algumas das suas características em relação a novas formas de economia, informações e convivência, sendo que os principais fatores que levaram à mudança foram o progresso tecnológico, o desenvolvimento planejado, a globalização e a escolarização das massas. Destes fatores decorreram uma série de consequências cujo impacto foi sentido em questões como o desenvolvimento demográfico, aumento da expectativa de vida e da vida útil, o desenvolvimento sem trabalho, o aumento do tempo livre, o surgimento de novos temas sociais e de novos luxos/objetos de desejo, entre outros.Outra das principais conseqüências oriundas da sociedade pós-industrial, de acordo com o autor, é o desenvolvimento do ócio criativo. Este conceito foi capaz de projetar De Masi como um dos mais célebres pensadores do mundo organizacional do momento. O ócio criativo consiste, na verdade, no desenvolvimento de novas conexões entre o mundo do trabalho do tempo livre e do aperfeiçoamento. Nenhum destes fatores pode ser atualmente compartimentalizado, separado dos demais, já que o trabalho, o ócio e o estudo se inter-relacionam constantemente.Nesse contexto, se apresenta um novo sistema cujos principais valores são a criatividade e a estética, onde a economia prevalece sobre a política, a globalização prevalece sobre a identidade e a comercialização ultrapassa os bens materiais, alcançando os bens imateriais, os relacionamentos e a cultura. Nasce, assim, a necessidade pela intelectualização, associados aos valores éticos, estéticos, a subjetividade, a emotividade e a valorização da qualidade de vida.Mesmo admitindo que a sociedade consumista persegue o poder, o dinheiro e o sucesso, De Masi afirma que estas necessidades são também contrapostas por outras com valores qualitativos, como a amizade, a introspecção e a convivência.Inserido neste sistema, o relacionamento do homem com o trabalho sofre, também, profundas alterações. A vida deixa de ser centralizada no trabalho do mesmo modo que há um incremento da obrigação intelectual e criativa por parte do indivíduo. O clima organizacional passa a ser marcado pelo entusiasmo, onde o controle sobre o trabalho é substituído pela motivação para o trabalho. Desenvolve-se uma síntese entre o trabalho, o estudo e a diversão manifestando o ócio criativo. Andrea Fioravanti Reisdörfer - Crea/RS
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