Lentidão em obras testa a paciência da população

04 de março de 2012.

 

Acidade se transformou num canteiro de obras, e algumas delas têm um fator em comum: estão custando a ser concluídas e vêm testando a paciência da população. Na última quarta-feira, O GLOBO-Niterói visitou algumas que tiveram o seu prazo inicial de conclusão expirado.

Segundo o engenheiro Antônio Eulálio Pedrosa, membro do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia (Crea-RJ), mesmo parada, uma obra consome dinheiro. Isso, muitas vezes, explica as assinaturas de termos aditivos entre o poder público e as empresas prestadoras de serviços.

- Numa obra, o canteiro de obras, com toda a estrutura e os funcionários, é pago mensalmente, havendo ou não execução de serviços. E os preços de material e de mão de obra também podem aumentar nesse tempo. Sem contar que o contribuinte também demora a ser beneficiado - opina Pedrosa.

Plano era transformar Itacoatiara em bairro modelo

Entre as obras visitadas, a mais antiga é a pavimentação das ruas de Itacoatiara. O projeto foi iniciado em abril de 2009 e visava a transformar o local num bairro modelo, até o fim daquele ano.

Contudo, o planejamento da prefeitura mudou, e o bairro oceânico perdeu prioridade nas ações. Seis meses após o início das obras, as intervenções foram paralisadas com apenas cinco das 20 ruas propostas pavimentadas.

Em 2011, quase dois anos após as obras terem sido interrompidas, a placa que anunciava as intervenções foi substituída por um modelo mais novo, que passou a ser utilizado pela prefeitura. O bairro, no entanto, sequer tem canteiro de obras montado.

- Nem me lembro da última vez que vi gente aqui trabalhando. Deve ter mais de um ano - afirma uma moradora da Rua das Magnólias, que pediu para não ser identificada.

A prefeitura informou, por nota, que "várias ruas já foram pavimentadas no bairro, mas a cidade tem recebido pavimentações como um todo".

Duas outras obras que figuram entre atrasadas são parte das ações de recuperação da cidade após as chuvas de abril de 2010. A primeira é uma contenção de encosta na Estrada da Cachoeira, que está sendo executada pelo governo do estado. Orçada em R$ 3,9 milhões, a intervenção foi iniciada em outubro de 2010 e deveria ter sido concluída em dezembro de 2011. Questionada sobre o atraso, a Secretaria estadual de Obras não respondeu à reportagem até o fechamento desta edição.

Já na Estrada do Viçoso Jardim, não é mais comum encontrar funcionários da prefeitura trabalhando. Mesmo assim, a rua continua interditada, deixando moradores e comerciantes apreensivos. A prefeitura havia informado que abriria a rua antes do carnaval, mas agora diz que o projeto será concluído no fim de março.

- Disseram que só falta a pavimentação e que as obras seriam entregues no dia 17 de fevereiro. Quem tem comércio aqui está quase fechando as portas - queixa-se o comerciante Júlio Carvalho.

Na Zona Sul, há dois exemplos: o primeiro é a reconstrução do calçadão da Praia das Flechas. O serviço custou R$ 1,5 milhão, teve início em setembro e previsão de entrega em janeiro de 2012. Agora, a prefeitura adiou o prazo para abril. Já a reforma dos gabiões do Mirante da Boa Viagem, contratadas em outubro por R$ 712 mil, não foram iniciadas, como constatou a reportagem, apesar de a prefeitura afirmar o contrário.

Para o vice-presidente do Conselho Comunitário da Orla da Baía (Ccob), Carlos Augusto Valdetaro, a falta de esclarecimento sobre as obras é outro problema.

- A população está sendo afetada sem receber qualquer informação - afirma.

Para o professor de Administração Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF), Cláudio Gurgel, a tendência é que as obras sejam impulsionadas em 2012, por ser este um ano eleitoral. Mas o professor é otimista quanto aos efeitos do atraso nas obras.

- Eu acho que a população é surpreendentemente racional e capaz de fazer uma análise justa da conduta e da competência do governo nessas questões - acredita.

 

Fonte: Agência O Globo