Brasília, 29 de janeiro de 2024.
A experiência sui-generis de um ex-presidente do Confea atuando como conselheiro federal logo após a conclusão de seu mandato começou a ser vivenciada pelo engenheiro civil Joel Krüger e pelo Sistema Confea/Crea e Mútua no início do ano. Ao lado do ex-conselheiro e ex-vice-presidente do Confea, eng. civ. Osmar Barros Júnior, que também atuou como superintendente de Integração do Sistema, durante a gestão de Joel à frente do Confea, o ex-presidente foi eleito representante das instituições de ensino de Engenharia no final do ano passado, ao final do seu segundo mandato à frente do Federal.
Professor em atividade na PUC-PR há 39 anos, na área de transportes, ele será o novo coordenador da Comissão de Educação e Atribuição Profissional (Ceap), a ser constituída ainda com os conselheiros federais eng. agr. Álvaro Bridi e Luiz Lucchesi, seu coordenador nos últimos anos. Paralelamente a seu novo mandato no Sistema, Joel também permanecerá atuando como membro do Conselho Executivo a Federação Mundial de Organizações de Engenharia (Fmoi/WFEO, nas siglas em francês e inglês).
No final do ano passado, enquanto ainda presidia o Confea, foi criado o Conselho Internacional de Engenheiros de Língua Portuguesa – Cielp. Formado pelo Confea e pelas ordens de engenheiros dos demais oito países de língua portuguesa, o conselho será liderado pelo novo presidente do Confea, eng. telecom. Vinicius Marchese, até 2025, quando o Brasil sediará o 5º Congresso de Engenheiros de Língua Portuguesa. “E o presidente Vinicius me indicou como secretário executivo do Congresso”, diz Krüger, informando que representará ainda o presidente Vinicius, ao lado do conselheiro federal Neemias Barbosa e de um representante do Colégio de Presidentes, no 15º Encontro do Conselho das Associações Profissionais de Engenheiros Civis dos Países de Língua Portuguesa e Castelhana (CECPC), a ser realizado em março, na cidade espanhola de Valência.
Após dois mandatos à frente do Confea, o conselheiro federal Joel Krüger respondeu o questionário padronizado para os novos representantes do plenário, com algumas referências a projetos desenvolvidos pelo Confea em sua gestão, posterior aos dois mandatos à frente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Paraná (Crea-PR). Confira a seguir, a entrevista realizada durante o intervalo da sessão plenária do Confea na última sexta-feira (26/1).
Site do Confea: O senhor foi escolhido nas eleições de 2023, marcadas pelo avanço na representatividade dos profissionais registrados, com participação recorde de 19,17% do total de um universo de 739.428 habilitados para exercer o direito de voto. Como o senhor avalia essa participação e essa tendência de crescimento do interesse no pleito eletrônico?
O pleito eletrônico foi um sucesso muito grande, muito bem recebido pelos profissionais. O processo eletrônico teve toda a tranquilidade, não houve nenhum questionamento do processo em si. Houve questões pontuais de candidaturas, mas isso é outro tipo de questão, mas o processo em si foi muito bem recebido pelos profissionais. Ele democratizou porque todo profissional agora pode votar sem necessidade de deslocamento, dentro da cidade ou muitas vezes até em outra cidade. Quando era urna física, ele tinha que se deslocar de uma cidade para outra, então isso facilitou bastante. Este ano, houve um incremento, chegando próximo a 20% de participação de eleitores exercendo esse direito, que não tem participação obrigatória, então esse número é bastante interessante. E a tendência nos próximos anos é de aumentar esse número de eleitores, mas nunca vamos chegar a 80, 90%, isso é pouco provável, por ‘n’ motivos. Mas esse aumento está sendo robusto, dando oportunidade daquele profissional que deseje exercer o direito, poder exercê-lo. Eu acho que isso aí é o grande avanço que nós tivemos e, com certeza, nas próximas eleições, que temos todo ano para a renovação do Terço do plenário federal, nós vamos ter avanços significativos nesta questão da votação eletrônica.
A melhor maneira de proteger a sociedade é ter profissionais qualificados
Site do Confea: Fale da importância de representar o ensino superior de engenharia no plenário federal?
A representação do ensino superior é um tema muito interessante porque, qual é a grande preocupação do Sistema Confea/Crea? É a qualidade da formação dos futuros profissionais. E, principalmente, em uma época da sociedade em que aquele conhecimento que o profissional adquiriu na universidade não vai ser suficiente para a sua vida toda. Então, a educação continuada passa cada vez a ser mais forte, ou seja, os estudantes da Engenharia de hoje vão continuar estudando a vida toda. Vão ter que se adaptar às novas tecnologias. Então, representar esse segmento traz uma responsabilidade muito grande com a ciência, com a tecnologia, com a inovação, com as políticas públicas; com as diretrizes curriculares; com os projetos pedagógicos dos cursos; com a relação com os reitores e os gestores das universidades; com a relação com os docentes, que nós precisamos aprofundar bastante; com a relação com os estudantes de Engenharia. Então, nós precisamos aprofundar esse diálogo. Nós temos boas iniciativas, com o Crea Júnior, com os fóruns de docentes em vários estados, há vários Creas que já realizam uma boa relação com as universidades; mas com o MEC, nós precisamos avançar. Então, essa vai ser a pauta principal, a formação e a qualidade da formação da Engenharia nos próximos anos no Brasil. E dentro dessa linha, como representante das escolas de Engenharia, nós optamos por participar da Comissão de Educação e Atribuição Profissional (Ceap), onde, com os conselheiros Luiz Lucchesi e Álvaro Bridi, vamos fazer um trabalho exatamente nessa linha da qualidade do ensino para que a gente possa, de um lado, garantir a formação adequada dos futuros profissionais e possa cumprir aquele objetivo maior do Sistema que é a proteção da sociedade. Porque a melhor maneira de proteger a sociedade é ter profissionais qualificados. E para o desenvolvimento do Brasil, para um projeto de país, projeto de nação, é fundamental ter a Engenharia, a Agronomia e as Geociências na linha de frente. Nenhum país se desenvolveu ou se desenvolverá sem grandes avanços de tecnologia. Nós precisamos ter uma indústria forte, uma indústria inovadora, gerar riqueza, gerar alimentos, então nós precisamos ter essa formação forte. E aí, a Ceap está muito alinhada, acompanhando com o Conselho Nacional de Educação, acompanhando com o ministério da Educação, articulada com as nossas entidades, por exemplo, a Abenge, Associação Brasileira de Educação em Engenharia, com as outras entidades nacionais que atuam neste tema da educação, de maneira direta ou indireta, junto com a presidência do Confea, agora liderado pelo presidente Vinicius e com todos os conselheiros, tomando posições sempre em favor dessa qualidade. E fazendo aquilo que é de rotina, no trabalho da Ceap: registro de profissionais estrangeiros, registro de profissionais brasileiros que atuam no exterior, acompanhando o Termo de Reciprocidade de Mobilidade Profissional com Portugal, procurando ampliar outros termos de mobilidade que interessam para nós, como Comissão de Educação e Atribuição Profissional, e, um tema que ainda é novo no Brasil, nós já avançamos, mas temos que avançar muito mais, que é a questão da acreditação de cursos e a questão da certificação profissional. Esses são dois temas que terão destaque muito grande esse ano na Comissão.
Site do Confea: Qual foi a motivação para formar chapa com Osmar Barros Júnior, seu suplente?
Tanto eu, como o conselheiro Osmar, que é o nosso suplente, temos uma longa história de formação acadêmica, os dois professores universitários ativos até hoje. Eu já estou completando 39 anos de exercício de magistério. Eu fiquei seis anos na presidência do Confea, e nesses seis anos, continuei dando aula, trabalhando em sala de aula regularmente, toda semana, de alguma forma estando em Curitiba para poder exercer essa função nobre que eu adoro, estar em sala de aula. Da mesma maneira, o conselheiro Osmar continua em sala de aula, atuando em sua universidade, no interior de São Paulo. E o Osmar também é uma pessoa muito experiente, foi diretor, foi conselheiro; foi diretor do Crea-SP, já havia sido conselheiro federal; ocupou cargo de superintendente no Confea, então ele tem uma larga experiência profissional e dentro do Sistema. Na sua experiência como conselheiro federal, na qual ocupou a vice-presidência do Confea, ele também atuou diretamente na Comissão de Educação e Atribuição Profissional. Então, ele tem um conhecimento muito grande. Atuou por três anos junto ao conselho deliberativo da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), fez parte da comissão de implantação das Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs). E, além da minha experiência profissional, como professor acadêmico, como engenheiro na área de mobilidade, de transportes, na cidade de Curitiba e em empresas privadas; a experiência de dois mandatos de presidente do Crea, dois mandatos de presidente do Confea e também como conselheiro regional que fui no Paraná, além da militância em muitas entidades de classe. Então, nós entendemos que são duas pessoas que teriam, como os outros que disputaram conosco, todas as condições de bem representar, e nós tivemos a oportunidade de ter sido escolhidos pela maioria dos delegados. Então, vai ser uma dupla bem interessante aqui no plenário.
Site do Confea: Quais os principais compromissos assumidos diante dos profissionais e que serão suas metas neste mandato?
Qualidade da formação dos futuros profissionais. Eu acho que esse é um tema que permeia todos os outros. Nós precisamos aproximar o Sistema profissional, de maneira mais intensa com as instituições de ensino; precisamos trazer os professores universitários para mais próximo do nosso profissional; precisamos também ter um trabalho mais forte com os estudantes, fortalecendo então as ações do Crea Júnior. E também fortalecer as ações do Crea-Jovem, do jovem profissional que está ingressando no mercado de trabalho e também ingressando no nosso sistema profissional, nos seus dois, três primeiros anos de formado. Nós precisamos ter uma ação muito bacana com eles. Sempre pensando nisso, qualidade da formação dos futuros profissionais. Discutir ciência, discutir tecnologia, verificar como está a efetividade da implantação das diretrizes curriculares, para o modelo de competências; ter uma boa relação com o MEC, com o Conselho Nacional de Educação. Também há uma oportunidade muito importante de nós termos uma proximidade com o Tribunal de Contas da União, que está fazendo um trabalho muito grande em relação à formação, às escolas, às instituições de ensino de Engenharia. Eu acho que esses são os principais pontos que nós vamos dar destaque. E, completando, a questão da acreditação profissional e da certificação profissional. E também fortalecer novos termos de cooperação de mobilidade profissional, em especial com a Comunidade de Países de Língua Portuguesa, a CPLP.
Site do Confea: E quais são as expectativas quanto ao trâmite dessas prioridades na rotina de trabalhos no Confea? Quais esforços o senhor irá empregar para emplacar esses projetos?
Principalmente no âmbito da Comissão de Educação e Atribuição Profissional, a aproximação com o MEC, CNE e TCU para que a gente possa começar a fazer uma rediscursão da quantidade de cursos que estão sendo abertos. Hoje há ociosidade de vagas, tanto na entrada, como na baixa quantidade de formandos. Então, essa é uma preocupação para que gente possa melhorar a qualidade. Em relação à questão da acreditação dos cursos, nos modelos europeu e americano, duas grandes referências mundiais, temos um GT instituído com a OEP, que é a entidade acreditadora no âmbito de Portugal. Nossa intenção é que o Confea se torne entidade acreditadora do Eur-ACE no Brasil. E na certificação, temos avançadas as alianças com as Sociedades Americanas de Agronomia, de Engenharia Civil e a de Engenharia Mecânica para que a gente possa, ao longo desse ano, concluir esse processo. Sobre a questão estratégica da mobilidade profissional, estamos com negociações com a CPLP, então nós precisamos aprimorar a mobilidade com mais países e incentivar a mobilidade no âmbito do Mercosul, considerando que já foi aprovado o relatório da Ciam (Comissão de Agrimensura, Agronomia, Arquitetura, Geologia e Engenharia para o Mercosul), no âmbito dos quatro governos, e precisamos operacionalizá-lo. E, além disso, acompanhar a questão das comissões de educação de cada Crea para que essas questões estratégicas estejam alinhadas com eles. Sempre com a questão da qualidade como foco. Na última plenária, aprovamos um catálogo de cursos que vai ser muito útil aos estudantes, com a relação de cursos, conforme a tabela de títulos, as atribuições profissionais dadas a esses cursos, para que os estudantes de segundo grau saibam o que cada profissão faz. Também é útil aos profissionais, mas principalmente para os estudantes. Vamos acompanhar a divulgação desse catálogo ao longo do ano.
Site do Confea: Como o(a) senhor(a) tem acompanhado a atuação do Sistema Confea/Crea e Mútua nos últimos anos? Que programas e atividades o senhor acredita estarem na direção correta e quais o senhor percebe que possam ser aperfeiçoados com sua contribuição?
A nova gestão do presidente Vinicius traz a característica de trabalhar com inovação, com sustentabilidade e com diversidade. Então, esses temas com certeza serão prioritários, olhando para sociedade. Claro que têm uma série de ações internas com o Sistema, no âmbito da fiscalização, da melhoria da estrutura da governança dos Creas, são programas permanentes que estarão em andamento com a característica do presidente Vinicius. A questão das mulheres também certamente terá um destaque também. E uma forte articulação com os entes federativos, do governo federal, com órgãos reguladores e executores de Engenharia, Agronomia e Geociências, como também com as frentes parlamentares e com outros fóruns do Congresso Nacional, e também uma boa articulação com o poder Judiciário.
Site do Confea: As áreas da Engenharia, Agronomia e Geociências têm questões fundamentais tramitando no Legislativo e Executivo; por isso, nos últimos anos, a interlocução do Sistema Confea/Crea e Mútua com esses Poderes tem sido refinada. Como o senhor pretende atuar diretamente nesta frente?
A participação de cada um dos conselheiros federais é muito importante para mobilizar os parlamentares de cada um dos estados, além dos temas de políticas públicas, de projetos de lei que estão em andamento. Normalmente, os conselheiros têm boa relação com os estados de origem, no meu caso no Paraná. Se todos os conselheiros fizerem nos seus estados, teremos coberto essa boa relação. E no meu caso, estarei atento sobretudo aos projetos relacionados à educação, atribuição profissional, mobilidade profissional, qualidade da formação, do corpo docente, recursos para ciências e tecnologia, acreditação de cursos, certificação profissional. Acompanhando tudo o que precisa ser aprovado no Congresso Nacional, sob a liderança do presidente Vinicius.
Site do Confea: No final de seu mandato de conselheiro, qual marca pretende deixar para os profissionais e para o Sistema?
O grande legado que queremos trabalhar é a certificação profissional, um tema que está sendo discutido há muito tempo. Além da acreditação de cursos a nível internacional para que nossos profissionais, além de atuar com qualidade no mercado brasileiro, possam atuar no mercado internacional. Nossos profissionais são reconhecidos por sua competência técnica, então esta é uma grande oportunidade de nossos profissionais atuarem no exterior também.
Site do Confea: O que, na sua história de vida, o fez optar por sua especialidade?
Na juventude, tinha muito interesse na parte da construção, Matemática, Física. Então, me interessei por Engenharia e no curso tive uma atração maior pela área de transporte, mobilidade urbana. Depois de formado, minhas principais atividades profissionais estiveram relacionadas à área de transportes, rodovia, mobilidade urbana, que é a minha especialidade. E paralelo, sempre tive muita aptidão para ensinar e tive a oportunidade de atuar como professor universitário junto à PUC-Paraná, o que também me deixa muito realizado. E continuo agora e pretendo continuar ministrando as aulas ao longo do mandato.
Site do Confea: O senhor já mencionou que atua hoje na sua profissão como professor. Fale um pouco mais da importância dessa conexão para as atividades no plenário do Confea.
Cada conselheiro traz uma história profissional, um conhecimento intrínseco muito grande de suas atividades
Como engenheiro de mobilidade estou aposentado, as atribuições como conselheiro e professor não me permitem outras atividades profissionais. O modelo de governança que nós temos no sistema profissional, nos plenários do Crea e do Confea, é muito interessante porque as questões de regularidade profissional são definidas por profissionais com muita experiência. Então, cada conselheiro traz uma história profissional, um conhecimento intrínseco muito grande de suas atividades, o que permite uma definição melhor das atividades inerentes, de regularização, fiscalização, atribuição profissional, colaboração com a elaboração de políticas públicas que geram postos de trabalho na Engenharia, Agronomia e Geociências. É muito importante que eles tragam essa história em benefício da sociedade e dos profissionais, tendo um ambiente de exercício profissional mais justo aos profissionais, contribuindo assim para a sociedade. Como professor, elaborei vários projetos pedagógicos de cursos, passamos por vários modelos de currículos, diretrizes curriculares. Isso traz uma experiência com outros pares, outros professores, agregada à experiencia profissional. Isso nos traz um capital que com certeza será muito útil nas comissões de Educação e no plenário onde temos muitos temas pautados, e nas articulações com os entes de Brasília.
Site do Confea – Qual a perspectiva de o Confea trabalhar neste ano para que seja reavaliada a autorização de cursos superiores e de credenciamento de instituições de educação superior na modalidade à distância, como foi feito com os cursos geologia e engenharia geológica?
Nós temos uma expectativa de podermos desenvolver com o MEC e o CNE uma regulação melhor, tanto no que se refere à avaliação dos cursos presenciais, como à Ead, para que a gente possa ter uma regulação equilibrada. Não é compatível a realização de cursos 100 por cento a distância para a Engenharia e a Agronomia. Precisamos ter critérios diferentes do que é hoje para que a gente possa ter melhores resultados para a sociedade.
Henrique Nunes
Equipe de Comunicação do Confea
Foto: Yago Brito/Confea